terça-feira, 20 de julho de 2010

Lula, ministro Vanucchi e a democracia do "porque Lula quis"

A soberba e a prepotência são defeitos tão graves que os sentimentos irrompem mesmo quando a pessoa está buscando realçar qualidades políticas. Então, acaba se traindo e expondo o autoritarismo até então mantido estrategicamente encoberto.

O ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, disse hoje numa entrevista que “o Lula só não tem o terceiro mandato porque não quer. Se ele tivesse decidido que era candidato a presidente, alterando a Constituição, não haveria adversário”. E este argumento prepotente foi usado pra ressaltar a opinião de Vanucchi sobre o caráter benevolente de seu chefe, que não tentou o terceiro mandato, segundo ele, porque “não quis por causa do seu profundo veio democrático".

Gosto bastante do peso simbólico que o PT confere de modo involuntário às suas manifestações. O ministro é dos Direitos Humanos e vem usar a empáfia para afirmar que seu chefe é democrático não por respeito à legalidade, mas porque é muito bacana. O local da fala de Vannuchi, a Câmara Municipal de Bauru, também é de um simbolismo marcante. O Legislativo é a casa que tem o dever de zelar pela legalidade. E foi onde o ministro veio afirmar que Lula (do Executivo) só não afrontou nossa Constituição porque “não quis”.

Mas o ministro também falta com a verdade histórica. Lula “quis” sim o terceiro mandato, mas foi impedido pela oposição da sociedade civil. Quando sentiu o clima político criado logo que foi percebida sua intenção, o petista voltou atrás. O triste espetáculo de Manuel Zelaya, em Honduras, que tentou reformar a Constituição de seu país para tentar outro mandato e por isso foi tirado do cargo, também serviu para que Lula revisse a opção pelo terceiro mandato.

O impressionante esforço do governo Lula para fazer Zelaya voltar ao cargo em Honduras foi em boa parte para reforçar a tese do terceiro mandato de Lula por aqui. A história em Honduras acabou mal e tudo indicava que se tentassem algo parecido por aqui o lulo-petismo iria pelo mesmo caminho. Então Lula e os companheiros mudaram de rota.
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POR José Pires

Um comentário:

Newton Moratto disse...

PARTIDO ÚNICO
Não há como negar o vezo autoritário do lulo-petismo. Buscar o poder e implementar na sociedade as idéias de um partido político é óbvio que é legítimo. Já negar sistematicamente a alternância do poder extravasa qualquer sentido de legitimidade. Inúmeros são os fatos ocorridos e declarações proferidas por petistas e pelo próprio Lula que indicam o flerte ininterrupto com ditadores e os regimes autoritários. Isso é sempre lembrado aqui no blog, inclusive com imagens.
Nessa afirmação do ministro Paulo Vanucchi de que Lula só não continua presidente porque não quis mudar a Constituição fere a dignidade e a honra da democracia. Há na declaração incutida a idéia, dentre outras é certo, de que a Constituição Federal pode ser modificada a qualquer tempo por simples vontade de um imperador tido como popular, de maioria ocasional no Congresso, e de que o Poder Judiciário não é um “poder” e a sua subjulgação é questão só de “tato” político. Cria-se a cultura de que o Chefe do Executivo pode tudo — bem ao gosto dos governantes populistas.
Ou seja, os valores embutidos nos princípios democráticos passam ao longe de qualquer consideração por parte desses senhores que atualmente detêm o poder. Realça-se um pragmatismo em detrimento total dos princípios que estruturam o regime democrático.
A sociedade em geral, o Congresso Nacional, o Poder Judicário e a imprensa negligenciam essas manifestações advindas do partido dos trabalhadores e de Lula e as tratam como questões isoladas, como se não houvesse um fio condutor a uní-las a um propósito maior, e que há.
Esse é um tema que deve ser objeto de discussão com acuidade e ser tratado de modo bastante severo. Há tempos vem se falando, uns poucos é verdade, na idéia de o partido dos trabalhadores se tornar um partido único, ainda que formalmente existam outros.
O falecido senador amazonense Jefferson Péres, mesmo voz isolada, sempre alertava com insistência para o risco dessa situação, e parecia ter a noção exata do que representava esse perigo, pelo que se percebia de suas manifestações escritas ou faladas.
A depender, porém, da maneira como as oposições fizeram oposição nos oito anos em que Lula foi situação as chances são enormes de isso vir a acontecer.
Ainda bem – sempre há esperança - que a oposição não se restringe aos partidos políticos. Penso que a luta contra isso deve ser com a mesma intensidade com a que se lutou contra os vinte e cinco anos do recente regime militar, cuja memória é latente nos que viveram naquele período.