sexta-feira, 9 de julho de 2010

Hora de mudar o jogo

Ontem me chamou a atenção uma notícia sobre os elogios do técnico da Holanda à seleção da Espanha. O técnico Bert van Marwijk disse que a Espanha tem a melhor equipe do mundo. Na semana passada, o técnico holandês já havia falado também de forma positiva sobre o Uruguai, a seleção que disputou e perdeu as semifinais com a Holanda.

Ele não teve com o Uruguai a admiração que mostrou pelo futebol espanhol, para ele a seleção “que joga mais bonito”, mas foi muito respeitoso: "O Uruguai é uma equipe forte e teremos de entrar em campo muito concentrados. São lutadores, sobreviventes".

É claro que este modo de encarar publicamente os adversários é também uma forma de agir psicologicamente sobre seus comandados. Subestimar riscos sempre pode levar à quedas de desempenho. Mas as falas do técnico holandês trazem para mim, como brasileiro, uma sensação de que essa forma de encarar o trabalho deveria ser aplicada por aqui.

O holandês é um dos dois técnicos de futebol que chegou mais longe nesta Copa do Mundo, porém, mesmo com esta vantagem ele segue atento às qualidades do adversário. Mais do que um gesto cavalheiresco, o elogio à Espanha também aponta obstáculos que podem impedir que ele tenha sucesso em seu trabalho. No futebol, a qualidade do outro time é o problema que tem que ser atacado.

E não estou falando só de futebol. O governo Lula tem desenvolvido uma forma de administrar e de fazer política que subestima adversários e não encara os problemas com realismo. O estilo segue firme e será a tônica da campanha da candidata oficial, mesmo com o Brasil tomando goleadas seguidas, como mostram índices negativos em vários setores, quando isso não é revelado em número de vítimas fatais, como acontece em enchentes, desabamentos, acidentes de trânsito ou na mortandade provocada por crimes pelo país afora.

O técnico Marwijk deve ter conversas rigorosas com seus jogadores nos bastidores. Duvido que ele fale de qualquer desafio à frente como sendo uma “marolinha”. Com esse papo, ele poderia criar em seu elenco um clima de comodidade e mesmo adverso às exigências provocadas por alguma circunstância mais grave.

No Brasil a coisa é diferente. O que Lula faz é sempre um ponto único e espetacular da política brasileira e até mundial, o que coloca seu governo sempre naquela posição exclusiva do “nunca neste país”, de que ele tanto fala, com o Brasil no melhor dos mundos e até com influência decisiva no plano internacional.

O resultado é que o trabalho por fazer se acumula, sendo que, em muitos casos, ainda não se sabe nem por onde começar. Esta política de governo também acaba colocando de lado socialmente e até satanizando quem tem posições críticas que poderiam estimular uma maior atenção das pessoas aos problemas brasileiros e um empenho coletivo na solução de tantas complicações.

E como as goleadas que o país vem tomando, mesmo comprovadas por índices negativos em várias áreas, não aparecem nos resultados eleitorais, Lula segue no mesmo ritmo, influenciando evidentemente com esta postura o pensamento do brasileiro.

Pois acho que a linha de pensamento de dirigentes como o técnico holandês seria excelente para substituir esse modo de ver o mundo e de agir que políticos como Lula estão impondo de forma perigosa na cultura do brasileiro. A equação perigosa é muito simples: se dá certo com o PT e com Lula por que não devo fazer o mesmo?

E tudo indica que cada vez mais brasileiros seguem por esta linha. Na política, onde o estilo não é novidade mas, até por exigências morais ou de imagem, era cometido com relativa discrição, hoje esse comportamento é a regra.

Está aí uma boa hora para mudar. Poderíamos começar a encarar de frente os problemas, expondo nossas deficiências e até nos esforçando para aprender mais ou procurar quem saiba, para podermos encontrar boas soluções e trabalhar para colocá-las em prática. Seria até saudável para os brasileiros, como uma experiência que nos tirasse dessa comodidade de tantos anos sendo um país melhor em praticamente tudo, como fomos até recentemente no futebol.
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POR José Pires

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