sábado, 3 de março de 2018

Jair Bolsonaro pensando coisas

Jair Bolsonaro ficou muito irritado com algo que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso falou dele na última quinta-feira, mas me parece que a incômodo se deve à incapacidade de compreensão do deputado sobre a avaliação feita pelo tucano. Faltou-lhe alcance intelectual para pegar o exato sentido da fala, o que não é nenhuma surpresa.

Primeiro vamos ao que Bolsonaro disse no Twitter em resposta ao comentário feito por FHC em seminário promovido pelo jornal O Estado de S. Paulo. Bolsonaro escreveu o seguinte: "FHC é tão obstinado pela liberação de drogas que teve seu cérebro, se que ainda tem [sic], deslocado para o intestino grosso”.

Nem vou comentar que o deputado foi grosseiro. Ele reage desse jeito toda vez que algo o descontenta. Geralmente a grosseria estimula os fanáticos que o aplaudem o tempo todo, o que não permite que ele perceba que fora deste círculo de exaltados esse jeito de ser não pega nada bem. Mas o que foi afinal de tão grave que FHC disse que causou uma reação tão brutal? A meu ver, o tucano não disse nada demais.

O ex-presidente dizia que não acreditava na vitória de alguém que se apresenta como “puramente reacionário”, como Jair Bolsonaro. “É muito difícil que alguém que se apresente como puramente reacionário — que não é liberal, é reacionário — ganhe. Mas em política nada é impossível”, disse FHC, que afirmou ainda que o deputado “aparece como uma força de quem quer ordem”, mas não tem “pensamento de liberal”. E foi com certeza o fechamento do raciocínio do ex-presidente que causou irritação em Bolsonaro. “Não sei se até tem pensamento”, ele afirmou.

É evidente que apesar da ambiguidade da frase, a afirmação do tucano não foi insultuosa. A afirmação é sobre a falta de densidade do pensamento político do presidenciável, que não é liberal nem qualquer outra coisa. É impossível compreender o que de fato ele pretende fazer como presidente da República, mesmo em áreas que são suas bandeiras de campanha, como a segurança e nem mesmo sobre economia, sobre a qual ele acredita que presidente da República não precisa ter conhecimento.

Além de não ter programa político, Bolsonaro também não tem uma carreira política de onde se possa tirar conceitos sólidos sobre o que ele pensa de um bocado de coisas. Sua visão de mundo é tão confusa que ele chegou até a simpatizar com Hugo Chávez, quando ele surgiu na cena política mundial. Francamente, para gostar do militar venezuelano logo que ele apareceu, se o sujeito não fosse de esquerda, só sendo um ignorante em política.

Mas Bolsonaro é assim. Está sempre tomando posição por impulso, sem nenhuma ponderação, muitas vezes como reação violenta ao que perguntam para ele ou sobre o que falam da sua candidatura. Foi o que fez agora com FHC, quando — digo sem nenhuma ironia da minha parte — o ex-presidente apenas apontou um grave problema de sua candidatura: a falta de um pensamento. Eu creio que ao presidenciável está faltando uma boa assessoria, a começar por um tradutor de português.
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POR José Pires

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