segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Sofrimento em cadeia

Só quem está desatento às condições das cadeias no Brasil se impressiona com o caso da menina de 15 anos que ficou presa com mais de 30 anos no Pará. É uma violência revoltante, sem dúvida, mas é apenas mais uma entre a barbárie que reina no sistema carcerário brasileiro.

Situações degradantes como a vivida pela menina no Pará ocorre em nossas cadeias inclusive com homens. E esta realidade sórdida é aproveitada por policiais e delegados para ameaçar ou “punir” quem eles querem. Com peixe pequeno, é claro, pois também no sistema carcerário existe uma clara divisão de classes em que os maiorais do crime tem regalias e privilégios.

A Folha de S. Paulo tem coberto bem o caso do Pará. Fez boas reportagens nos últimos dias. Mas se um repórter desse jornal se deslocar até à delegacia mais próxima da sede do jornal, em São Paulo, provavelmente irá encontrar material tão revoltante quanto o que existe nas cadeias do Pará ou de qualquer outro estado brasileiro.

O que há de marcante neste caso em que uma mulher foi vítima de abuso durante quase um mês é que a responsabilidade pela indignidade está nas mãos de mulheres: o caso aconteceu em um estado governado por uma mulher, a prisão foi feita por uma delegada e a garota foi encarcerada por uma juíza.

O que significa isso? Significa que quando uma sociedade está gravemente doente como a nossa, solução alguma virá de sensibilidades particulares: a da mulher, a do negro ou a de qualquer minoria ou segmento “especial”. O remédio tem que ser universal. E bem forte.
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POR José Pires

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