segunda-feira, 10 de março de 2008

Bolsa que rende

O jornal O Estado de S. Paulo publicou ontem uma reportagem em que comprova o abandono escolar em municípios com alto atendimento do Bolsa Família. Mas o governo já está se mexendo para resolver o problema.

A secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, Maria do Pilar Almeida e Silva, dá uma boa pista do que pode vir por aí. “No programa há um claro efeito fixador na escola. Esse menino sai aos 15 anos, mas estaria saindo aos 10. O que precisamos agora é pensar uma política para atender depois dos 15 anos”, ela disse.

Na semana passada, o jornal O Globo lembrava uma cena de Entreatos, o documentário em que o cineasta João Moreira Salles fez o registro da campanha eleitoral do primeiro mandato de Lula. Nela, o futuro presidente fala com Gilberto Carvalho, que hoje é seu assessor próximo no Planalto. "Quantas pessoas passam fome neste país, Gilberto? Eu acho o número de 53 milhões tão absurdo!", afirma Lula.

Conquistado o poder, Lula deixou para lá o questionamento. Hoje o Bolsa Família atende 44 milhões de brasileiros, ao custo de quase R$11 bilhões apenas este ano. Tornou-se uma bela Bolsa de votos para o governo.

O próprio O Globo, em artigo de Ali Kamel, constatou recentemente que muitos beneficiados têm usado o Bolsa Família para adquirir eletrodomésticos em vez de comprar alimentos. Nada contra pobre comprar eletrodoméstico, mas acredito que mesmo o mais ferrenho defensor do governo − como os blogueiros da rede de proteção do governo Lula, prontamente ativada contra o artigo − terá de concordar que desse modo o programa está sendo desvirtuado. E o governo nem pode alegar desconhecimento disso, pois Ali Kamel encontrou a informação na página do Ministério do Desenvolvimento Social na internet.

O programa não está funcionando em uma condição básica, que é a de manter a criança na escola? Então pode vir aí o aumento da idade para ter o direito de receber o benefício. Talvez até os 88 anos. Desde que os velhinhos não abandonem a escola. E continuem votando, é claro.
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POR José Pires

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