sábado, 15 de março de 2008

Obama e seus extremistas

O senador Barack Obama é o adversário nas eleições presidenciais que os Republicanos pedem em suas preces mais fervorosas. O que menos o Partido Democrata precisa nesta eleição para presidente é que o embate eleitoral tome a feição de uma disputa racial. Neste caso, o partido terá dificuldade em conquistar votos até entre seus eleitores de sempre, o que pode significar mais quatro anos fora da Casa Branca.

Com Obama na disputa, este é um quadro que certamente o partido de George W. Bush (e, não se pode esquecer, também de Nixon) buscará criar, contando para isso com a ajuda preciosa de alguns aliados de Obama que militam nos movimentos negros.

A jornalista Marília Martins noticiou em seu blog na internet (na minha opinião um dos bons da internet, confira aqui) o mais recente problema de Obama com radicais do movimento negro que dão à sua candidatura uma incômoda coloração extremista.

Está rodando na internet um vídeo com um agressivo discurso do pastor Jeremiah Wright que têm trazido problemas para o candidato democrata e que, sendo ele o indicado do partido, traz matéria-prima para rodar durante toda a campanha para a Casa Branca e causar bastantes estragos.

O discurso do pastor Wright foi gravado na Trinity United Church of Christ, igreja que Obama frequentou durante 20 anos e de onde vêm muitos de sua equipe. Marília Martins traduziu parte do discurso do pastor e eu repasso para vocês:

"Hillary nunca sofreu na pele o que significa ser negro num país e numa cultura dominados por brancos ricos. Jesus era um homem negro que viveu num país e numa cultura dominada por brancos ricos... Os romanos eram brancos e ricos... Pensem bem: por que tanta gente odeia Obama? Porque ele não cabe no modelo da elite. Ele não é branco, ele não é rico, não é privilegiado. Hillary obedece ao modelo da elite. Giuliani pertence ao modelo dominante. Hillary nunca teve que enfrentar um taxi que a recusasse como passageira com causa da cor da sua pele. Hillary nunca foi chamada de “nigger”. Obama foi um menino negro que cresceu numa casa que tinha apenas sua mãe. Obama sabe o que é ser negro, o que é sentir na pele a discriminação. Hillary nunca teve que trabalhar o dobro para ganhar o mesmo salário que uma branca. E nunca sentiu a injustiça que os negros sentem ao ver a Casa Branca dominada por uma gente branca estúpida, quando nós, negros. sabemos que somos muito mais ineligentes do que eles. Está na hora de reagir contra a elite branca. Estou farto de negros que nada fazem."

O Youtube traz vários vídeos com o pastor Wright. O homem é um sucesso, mas vários deles evidentemente foram postados para bombardear a candidatura de Obama nas primárias do Partido Democrata. E a eleição principal sequer começou. Clique aqui para ver uma uma amostra de seu estilo. É o vídeo em que ataca Hillary Clinton. Não sei o que vocês pensam, mas eu não confiaria em um candidato que passou boa parte de sua vida ouvindo com reverência tipos como ele.

É bem sintomático que o discurso atinja Hillary Clinton, uma liberal que sempre esteve ligada na defesa dos direitos civis nos Estados Unidos e sobre quem não paira sequer a mais leve suspeita de racismo. É sempre assim. O extremismo raramente foca o inimigo de fato: está sempre buscando vítimas entre os aliados da mesma causa.

Obama evidentemente já disse que discorda das idéias do pastor Wright, um tema que surgiu em vários debates dos quais participou. Mas, independente da sua compreensível tentativa em afastar a supeita de que o pastor racista seja um mentor seu, no conteúdo racista do discurso há um importante reforço para uma das taticas eleitorais que os Republicanos usarão com certeza caso o senador democrata seja indicado para a disputa presidencial. É uma questão que será bastante analisada: o quanto Barack Obama absorveu deste caldo de cultura extremista e racista, indiscutivelmente ligado a sua formação.

O quanto ele incorporou disso em sua personalidade dependerá menos da verdade histórica estabelecida por sua carreira política e muito mais da habilidade − já comprovada em outros jogos sujos − do Partido Republicano em criar um clima odiento para dar um empurrãozinho favorável nas urnas eleitorais.
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POR José Pires

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