terça-feira, 23 de março de 2010

Desidratação

O jornalismo brasileiro inventa cada coisa. Leio no site do Estadão uma chamada que diz o seguinte: "Prioridade no PT Paulista é desidratar PSB". É claro que corro lá para saber que negócio novo é este de "desidratar" partidos.

Neologismo por neologismo, eu acho que seria melhor para a política brasileira que partidos como o PSB fossem “deletados”. Mas o partido de Lula jamais faria isso. O aluguel do PSB rende bem.

Mas esses jornalistas estão cada vez mais parecidos com os políticos que têm como tema. Prometem, mas não cumprem. Na coluna que fala em “desidratar” temos o de sempre. O PT deve usar o poder federal (a caneta que infelizmente está na mão do presidente Lula) para barrar a possibilidade do PSB fechar coligações em São Paulo para a disputa do governo estadual. Isto é, ou veja, vão isolar o PSB. Só isso e o de sempre: não vão "desidratar" coisa alguma.

Para que a novidade para definir uma tática velha como essa? “Desidratar” não dá. Tomara que não pegue. Já é tanto jargão nas colunas políticas que algumas vezes, como aconteceu agora, até quem é do ramo acaba tendo a sensação de estar entrando em um gueto.

Teve um tempo nas editorias políticas em que chamavam as coisas pelo nome. Bons tempos aqueles, como dizia Dom Rossé Cavaca. E como ganhávamos pouco. Colunistas como Carlos Castelo Branco, Fernando Pedreira e outros que faziam um bom jornalismo iam no ponto certo. Tanto é que sua colunas valem como leitura ainda hoje.

Tenho pelo menos três livros de Fernando Pedreira que podem ser lidos como se tivessem sidos escritos hoje de manhã.

Ainda temos um Janio de Freitas, é verdade, mas tirando ele e uns poucos, bem poucos, está difícil ler coluna política. E a maior parte dessas colunas já não servem mais como referência histótica. O jornal de sábado não dura mais nem até segunda-feira. Na internet, muitas colunas matinais já não importam nada depois das duas da tarde.

Agora é assim. Certos assuntos são tão fechados em um contexto restrito, muitas vezes bem pequeno mesmo, que se você pega um jornal do ano passado ou alguma notícia antiga da internet, alguns textos parecem saídos de algum país estrangeiro. Isso quando não “desidratam” a linguagem. Aí é que não mesmo não dá para digerir.
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POR José Pires

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