quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A doença de Lula e a tentativa de fugir do debate que interessa: a falência da saúde pública

Anteontem Lula divulgou um vídeo em que fala pela primeira sobre o câncer que teve diagnosticado na laringe e nesta gravação curta acabou puxando sua doença para o lado político. Falou muito pouco de forma pessoal e logo passou a agir como o militante político que sempre foi em toda sua vida. Bem antes desse vídeo, seus partidários já vinham politizando a doença, apostando em um vitimismo que no final tem sempre objetivo eleitoral e de fortalecimento do governo. E também de botar contra a parede quem acredita que é da opinião crítica que pode sair alguma qualidade na condução dos nossos governos.

Esses críticos das manifestações da opinião pública indicam que só estariam satisfeitos se houvessem apenas gestos de apoio e carinho em relação ao ex-presidente. Alguns — e não são poucos — insinuam até a necessidade de censura no debate que se seguiu ao anúncio da doença e que tem como centro a má condição da saúde pública no Brasil.

Reparem que os que estão nesta linha de ataque à opinião de quem é crítico ao governo estão sempre buscando os exageros naturais que ocorrem em casos assim. Desencavam algumas grosserias que saem nas áreas de comentários de sites e blogs ou que passam pelas redes sociais e fazem disso uma generalização que não é justa com o debate que se faz sobre a dificuldade dos tratamentos de saúde no Brasil para quem não tem dinheiro e poder político.

E acho natural que seja por aí a discussão, afinal Lula ficou doente. Se o ex-presidente tivesse sofrido um acidente de carro, certamente pessoas de bom senso e que não estão atreladas ao governo poderiam apontar as péssimas políticas de seu governo que favorecem as montadoras de automóveis e não dão atenção alguma ao transporte público, além da má administração das áreas responsáveis pelo trânsito no Brasil, afetadas inclusive pela corrupção que recentemente fez cair o ministro dos Transportes.

É preciso notar também que, nas críticas que estão sendo feitas às manifestações de parte considerável da opinião pública, as pessoas que saem numa suposta defesa de Lula nunca se referem ao mau estado do SUS e a falta de qualidade em qualquer atendimento de saúde no Brasil, assuntos que vieram com força com o aparecimento da doença de Lula.

Nada disso é mencionado simplesmente porque querem fazer parecer que só existem grosserias quando, na verdade, as grosserias que eles buscam destacar são exceções dentro de uma discussão que é muito bem-vinda e que só poderiam mesmo acontecer desse jeito.

O que está acontecendo é muito simples e quem não está querendo esta discussão sabe muito bem disso, até porque isso foi feito bastante quando o PT estava na oposição e não no governo. De um assunto se faz o ponto de apoio para a discussão de questões do interesse coletivo.

Esta sempre foi uma forma para a criação de um debate, fazendo de um assunto de destaque a motivação para a discussão de assuntos que tocam na vida de todas as pessoas. É um jeito de trazer coisas sérias para a discussão, especialmente num país em que partidos, sindicatos e tantas outras instituições fogem atualmente às suas responsabilidades de exercer o acompanhamento sério das medidas do governo (de qualquer partido) e a vigilância e crítica permanente ao Estado.

O que tem sido feito por muitas pessoas é pegar o assunto da doença de Lula para mostrar que é preciso corrigir erros graves na saúde pública, apontando também erros de conduta do ex-presidente neste setor enquanto esteve no poder durante oitos anos, erros que persistem neste terceiro governo petista.

E como o problema de Lula é de saúde e não acidente de carro ou queda da escada de seu apartamento de cobertura em São Bernardo do Campo, quem tem bom senso e independência aproveita para lembrar que o ex-presidente disse muitas inverdades sobre a saúde quando dirigia o país, algumas até muito cínicas, como quando inaugurou no sofrido Nordeste uma unidade do SUS dizendo que ela era tão excelente que dava “até vontade de ficar doente para ser atendido”. E teve uma crise de hipertensão horas depois e foi buscar correndo a internação num hospital privado.

Lula soltou muito mais falas em que acabou desrespeitando gente que sofre sem poder obter um bom atendimento médico e até familiares de pacientes que morreram basicamente por falta de dinheiro para custear tratamentos muito caros, mas fechemos com aquela em que ele diz que iria "aconselhar o presidente Obama a criar um SUS" nos Estados Unidos.

Obama evidentemente não fez um SUS, até porque Lula só falou isso para nós no Brasil. Agora, quando o ex-presidente tem esta doença muito séria eu penso que é muito justo sim que todos esses assuntos venham para a discussão. Acredito também que os que estão no ataque às manifestações críticas estão agindo até com hipocrisia tentando vitimizar um político que, junto com seus seguidores, nunca foi respeitoso em debate algum. Até porque Lula estava até poucos dias atrás esbanjando saúde em algo que sempre faz desde que entrou na política há muitos e muitos anos atrás: bater em seus adversários.
POR José Pires

Um comentário:

Antônio Souza Pv. 19, 21 disse...

Convido os leitores deste blog a acessar o vídeo que postei no YOUTUBE “UM RECADO PARA O EX-PRESIDENTE LULA – ACRÓSTICO” http://www.youtube.com/watch?v=UM1agHqWv7Q