terça-feira, 1 de novembro de 2011

Uma boa discussão sobre o SUS

Sinceramente, tenho outras coisas para me comover que não seja a doença do Lula. São assuntos que me tocam o coração e que exigem um esforço direto no trabalho de informação e, é claro, na atuação pessoal.

Sei que tem muita gente que se espanta com a discussão que surgiu depois do anúncio da doença e que muitos ficam tocados porque viveram de forma muito próxima o sofrimento que uma doença dessas pode provocar. Mas é preciso lembrar que Lula atrai até certas grosserias também pelo fato dele e seu partido não serem nada respeitosos no debate político. E essa agressividade, que vem desde que eles eram oposição, não cessou nem depois que subiram ao poder.

A máquina de propaganda petista já se movimenta, com todo seu peso político econômico que já foi demonstrado em outras ocasiões, para vitimizar o lado político do ex-presidente e desqualificar quem não cai nessa trama. Pelo que divulgam, Lula terá até uma atenção especial do Papa Bento XVI em suas orações, uma deferência que esse papa não teve para com nenhum brasileiro. E olha que, se quiser, Ratzinger pode ter milhares de brasileiros para pensar na hora em que se ajoelha sozinho em seu quarto. Aqui mesmo perto de casa posso encontrar famílias inteiras para ele mencionar em suas orações particulares.

Lula tem uma auto-suficiência (sem falar na arrogância) que já foi muito bem demonstrada em situações de pressão das quais ele saiu de forma até admirável, apesar de que em algumas delas eu penso ele tinha responsabilidade suficiente até para ser preso.

Tal histórico faz crer que o chefe petista deve ter fibra pessoal suficiente para enfrentar também este problema e também não deve faltar em seu entorno um apoio imenso de pessoas que podem minorar bastante seu drama pessoal. A comoção social que tentam criar não tem relação direta com o apoio humano que todo doente precisa. Receber twittadas favoráveis tem efeito só de propaganda. Um milhão de amigos pode servir até para vender discos, mas calor humano mesmo a gente só tem da família e de amigos.

Lula é também um homem rico, bastante rico até se não incluirmos na sua fortuna a dinheirama que uma empresa da área da telefonia despejou na conta bancária de seu filho.

Ele pode procurar os melhores tratamentos, os médicos mais caros, os hospitais mais bem aparelhados, o que evidentemente já acontecendo bem antes da sua doença ser revelada publicamente.

Sua doença trouxe a lembrança de que ele disse que no Brasil temos o melhor sistema de saúde pública do mundo, mas é claro que ele vai ficar longe do SUS. O elogio ao nosso sistema de saúde está no mesmo nível de credibilidade das suas afirmações de que de nada sabia sobre a corrupção em seu governo.

Não é porque ele está doente — e, além disso, acometido daquela que talvez seja a doença mais mítica da atualidade — que vou mudar minha visão sobre os danos políticos causados por ele e seu grupo político ao país, inclusive na área da saúde.

As movimentações nas redes sociais para que ele faça seu tratamento no SUS também não devem ser vistas como ofensa pessoal, até porque o próprio Lula já avisou que tem “casca grossa”. E isso comentando um dos tantos episódios de corrupção que temos vivido no país.

Não participo disso, como pode ser visto aqui no meu blog, mas não é porque condene a lembrança de que no SUS ele teria muita dificuldade para se curar. É só porque tenho obrigação profissional de produzir minhas próprias piadas.

Essa piada coletiva deveria ser vista inclusive pelos que gostam de Lula como uma boa denúncia sobre a dificuldade que é cuidar da saúde no Brasil para os que não tem bastante dinheiro e poder político, uma dificuldade que pode significar a morte quando surge uma doença de tratamento muito caro, como acontece agora com o ex-presidente.
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POR José Pires

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