sábado, 19 de novembro de 2011

O futuro chegou vazando óleo

O vazamento de petróleo na bacia de Campos deve ser visto como um alerta sobre a exploração deste recurso natural nas costas brasileiras, especialmente dos campos de pré-sal, que são motivo de propaganda eufórica do governo federal, sem nenhuma atenção para as questões ambientais que envolvem um assunto de tamanho risco.

O descoberta de petróleo nas camadas do chamado pré-sal foi uma grande moeda eleitoral do PT na última eleição para presidente. Naquela campanha e num período anterior de pelo menos um ano o governo Lula fez uma maciça propaganda da nova descoberta, aclamada como uma redenção econômica do país.

A conhecida irresponsabilidade deste governo em assuntos que exigem um debate mais aprofundado e a abertura para visões críticas bateu forte também neste debate. Também na questão do pré-sal o governo do PT estabeleceu um discurso apologético e agiu para desqualificar as pessoas e instituições que alertavam para as dificuldades da extração deste petróleo e de seus riscos ambientais. A tônica do discurso oficial era que o futuro do país estava assegurado com a descoberta do pré-sal. O então presidente Lula chegou a dizer que o Brasil entraria para a OPEP, a organização mundial dos grandes produtores de petróleo.

De forma injusta e desrespeitosa, quem levantava uma crítica podia ser tachado de pessimista e inimigo do país.

O vazamento de petróleo ocorre no campo de exploração da Chevron, na bacia de Campos, no litoral norte do Rio de Janeiro. A Chevron está na quarta colocação no ranking mundial dos produtores de petróleo e gás. Esta empresa, que já era grande, cresceu ainda mais a partir de 2002 com a megafusão com a Texaco. Estas fusões apertam ainda mais o controle sobre este combustível gradativamente escasso. As antigas “sete irmãs” do petróleo agora são cinco. O poder se concentra ainda mais.

Uma megacorporação é sempre negativa para o livre comércio e até para o interesse da humanidade. No campo do petróleo é um pouco pior, pois estabelece regras próprias em uma área de altíssimo risco e força o consumo de um recurso natural que deveria ser consumido de forma equilibrada.

A Chevron afirma que a mancha de petróleo localizada a 120 quilômetros da costa brasileira se desloca na direção sudeste. Vai para a África, o que deve amenizar a discussão sobre o problema aqui no país. Não deveria ser assim. Já é muito grave o que aconteceu no poço da Chevron, mas o desastre é só um aviso de que algo muito pior pode ocorrer.

A sujeira do vazamento estaria indo em direção contrária à costa brasileira. A Chevron naturalmente estima para baixo o volume de óleo vazado. A empresa petrolífera afirma que o volume é de 330 barris por dia, ou 52.465 litros, um número dez vezes mais baixo do que o apurado pela ONG SkyTruth, especializada em interpretação de fotos de satélites com fins ambientais.

A Sky Truth informou que a taxa de vazamento é de 3.738 barris por dia, ou 594.294 litros. A ONG chegou a esta conclusão a partir da análise de imagens da Nasa, de 12 de novembro, As imagens mostram que a mancha de óleo se estende por 2.379 quilômetros quadrados

Pelo cálculo da ONG o vazamento do poço no Campo Frade já derramou no mar cerca de 15 mil barris de óleo — 2.384.809 litros.

O vazamento foi uma grande surpresa para todo mundo e inclusive para as instituições do governo que, em tese, deviam estar fiscalizando o cotidiano da extração do petróleo no Brasil. Tradicionalmente regulamentos não costumam ser levados a sério no Brasil. Este é um traço muito ruim das nossas instituições e de um peso negativo já bem antigo, mas que foi bastante aprofundado por este governo, que teve por oito anos um presidente ironizando regras e leis das mais variadas e procurando desmontar tentativas de fiscalização sérias com a argumentação de que regras e leis impedem o progresso.

É preciso mudar este pensamento. Com o que se prevê em esgotamento de recursos naturais e problemas ambientais para um futuro próximo, a necessidade de aplicação em fiscalização e controle passam a ser uma questão de vida ou morte. A imensa destruição provocada pela Chevron bem próximo das costas do nosso país deve ser vista como um sinal de que no meio ambiente não temos mais problemas para o futuro. Eles já estão aí.

Questões como a da exploração do pré-sal, da pecuária, da agricultura e de tantos empreendimentos econômicos necessários ao país exigem um debate democrático que conclua não só pelos ganhos imediatos, financeiros ou eleitorais. É preciso buscar o equilíbrio entre a necessidade econômica e o respeito à vida.

É preciso atentar que o lucro imediato terá sempre adiante um custo bem alto, que na maioria das vezes não compensa o ganho anterior. No Brasil esta conta foi sempre creditada ao futuro, mas o problema é que agora este futuro já está à vista dos nossos olhos.
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POR José Pires

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