sábado, 26 de novembro de 2011

Mexendo no que já está pronto

O palito de dentes é uma daquelas invenções, como o guarda-chuva ou o pente, que já nasceu pronta. Existem na vida objetos práticos que não permitem avanços. Ou alguém já ouviu falar de um modelo novo de guarda-chuva? Pode-se mudar a cor, aumentar a circunferência, mas na essência a técnica é a mesma, inclusive com os defeitos de sempre, aos quais a gente acaba se acostumando como um componente inseparável.

Vários desses objetos práticos que não admitem mudanças nos cercam desde sempre e mesmo que uma ou outra empresa procure um jeito novo de fazer a coisa, logo o consumidor é obrigado a voltar ao modelo antigo.

É assim com o saleiro de lanchonete. Aquele de vários furinhos, a maioria de plástico, que até mudam bastante nas mãos de designers, mas nunca dão certo. Já vi até o saleiro de um furo só. No final, porém, a gente acaba precisando de mais buraquinhos para poder salgar a salada. E então o lindo modelo platinado de saleiro que custou os tubos acaba abandonado na gaveta depois de ser trocado pelo bom e velho saleiro de plástico.

Poderíamos ficar muito tempo na recordação dessas coisas prontas que o pessoal vive buscando um jeito de inovar, mas sempre estão quebrando a cara. A bisnaga de mostarda, escorredor de macarrão, abridor de garrafas, abridor de latas, a conversa vai longe.

Bares e lanchonetes andam substituindo a bisnaga de mostarda por saches, que trazem também ketchup ou maionese. Mas fizeram um objeto tão inviável que em alguns lugares o sache é acompanhando por uma tesourinha. O desperdício também deve ser imenso. Boa parte do conteúdo da mostarda ou de qualquer outro condimento acaba ficando dentro do plástico. O consumidor gosta também de levar uns dois ou três saches para casa, que depois acabam sendo esquecidos até irem para o lixo com a perda da validade.

Outro dia fiquei matutando sobre este desperdício multiplicado por milhares, milhões de consumidores. É de espantar a perda fantástica de alimento. E, claro, tem também o problema do sache ser de plástico, que é uma das questões mundiais mais graves apontadas pela ecologia.

Mas eu comecei pelo palito de dentes, um das coisas mais práticas que os bares e restaurantes oferecem ao cliente. O palito serve para fazer lindas estrelas sobre o prato, que vão se formando quando você joga algum líquido nos cantos quebrados. Dá para fazer o truque do copo. Os palitos ajudam muito a conter a impaciência enquanto o pedido não vem. Você vai quebrando um a um, riscando com eles a toalha, formando bem equilibradas composições. E não podemos esquecer o jogo de palitos. Enfim, são muito úteis como terapia de bar ou restaurante e até em casa quando falta assunto na relação com a patroa.

Só não servem para palitar os dentes, pois isso os dentistas não recomendam de forma alguma.

E o palito vem no paliteiro, é claro, já que estamos falando de objetos práticos aqui nesta crônica. Ou vinham, pois já faz algum tempo que venho me deparando por aí com algo muito curioso que é o palito com camisinha. Tirei a foto e a imagem está lá em cima para poupar mil palavras. Fizeram uma inacreditável embalagem individual de palito. É mais uma tentativa de mudar o que estava dando certo. E neste caso também é outra invenção com mais gastos e desperdícios para mexer no que já estava resolvido.

O pessoal não desiste de planos para reinventar a roda. Não vou me espantar se um dia desses eles aparecerem com uma embalagem para a banana. Isso depois de jogar fora a embalagem natural que a bananeira dá.
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POR José Pires

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