terça-feira, 1 de julho de 2014

O mito em xeque

No último dia para a oficialização das alianças dessas eleições, Paulo Maluf abandonou a candidatura do petista Alexandre Padilha ao governo de São Paulo e se bandeou para a de Paulo Skaf. Ele desmanchou uma aliança que já havia sido fechada, até com pose dos dois para fotos da imprensa. O problema do ex-ministro da Saúde é que sua candidatura não decola de jeito nenhum. Mas com esta derrocada prematura é de se fazer um questionamento: e o tão falado carisma de Lula? O que se diz sempre é que ele tem o dom pessoal de resolver qualquer parada eleitoral.

O desmascaramento dessa lorota vem num péssimo momento para o PT. A presença de Lula em palanque sempre é brandida como um remédio mágico em qualquer dificuldade eleitoral. É quase uma ameaça, como vem acontecendo em relação à queda de popularidade de Dilma Rousseff. Com o esvaziamento da sua reeleição, a entrada de Lula resolveria a parada de imediato. Esta é a tese petista. Furada, como se vê nesta complicação que ocorre no próprio estado de Lula, onde nasceu seu partido e ele começou a carreira política.

O tão falado carisma de Lula não resiste a uma comparação entre ele e seus adversários, nas disputas eleitorais importantes em sua carreira. Pode-se começar com sua derrota na primeira eleição direta que tivemos para presidente, quando foi eleito Fernando Collor. Ora, o que não se duvida de forma alguma é que naquela eleição o político mais carismático era Leonel Brizola. Basta ver os vídeos da época para constatar isso ainda hoje. Acontece que, apesar de ser uma boa referência em política, carisma não é definidor único de eleição e na maioria das vezes nem é o requisito principal. Foi o que aconteceu com falecido político gaúcho. Os petistas adoram falar numa suposta maquinação que tirou a vitória de Lula nesta primeira eleição, mas a única maquinação sobre a qual não resta nenhuma dúvida foi a que tirou Brizola do segundo turno e colocou Lula como adversário mais fácil para Collor.

Ninguém pode negar capacidade política a Lula e nem a força eleitoral de sua personalidade, principalmente depois da guaribada que o marqueteiro Duda Mendonça deu nele em 2002. Porém, a construção do mito Lula exigiu muito mais do a sua suposta simpatia. A cúpula do PT criou uma máquina de ganhar eleição, para isso passando por cima inclusive de petistas que pretendiam construir um partido com um diferencial político. Depois de esmagada a democracia interna, o partido se soprepôs ao que houve de pior na política brasileira em matéria de uso da máquina pública. E alcançando o poder instrumentalizou o Estado em função dos objetivos do partido.

E o carisma? Se formos ver isso como decisivo em política, então o político mais carismático dos últimos tempos deve ser Fernando Henrique Cardoso. Ele ganhou duas eleições do próprio Lula no primeiro turno. Já o petista só se elegeu presidente em segundo turno e sempre em campanhas muito caras. E ele teve à frente adversários tidos como políticos de pouquíssimo carisma, José Serra e Geraldo Alckmin. Eleição se ganha com organização partidária, infraestrutura e dinheiro. E Lula teve tudo isso de sobra nas duas vezes em que foi eleito. Carisma algum resolveu a a eleição, muito menos no primeiro turno. E nas duas vezes ele disputou com larga vantagem desde o início.

Em 2002, Lula vinha da mais longa exposição de imagem já explorada por um candidato em eleição presidencial. Teve tempo de sobra para ficar conhecido no país todo. Foi mais de uma década com o PT trabalhando exclusivamente seu nome. Pois mesmo assim foi obrigado a ir para o segundo turno, forçado por José Serra, na época com um perfil político visto como pouco popular. Mas o pior teste do tal carisma de Lula foi na eleição seguinte. Novamente ele foi para um segundo turno, desta vez levado por Alckmin, um adversário tão frio que até recebeu o apelido de “picolé de chuchu”. E Lula estava no poder, fazendo uso da máquina pública com a desfaçatez bem própria dele. E nesta eleição ele ainda foi favorecido por uma campanha muito mais rica que a do adversário. Isso nunca é lembrado. Em 2006, a campanha de Alckmin custou R$ 45,78 milhões. E Lula teve muito mais grana para gastar: R$ 75 milhões. Carisma, é? Ora, o PT vai ter que arrumar outra lorota.
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POR José Pires

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