quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Brumadinho: na raiz do desastre, a ambição de cada vez mais lucros

O jornal O Globo informa nesta terça-feira que a barragem da Vale que se rompeu em Brumadinho usava uma tecnologia que já foi banida em países como o Chile. É uma tecnologia menos segura, conhecida como alteamento a montante, que permite que o dique inicial seja ampliado para cima quando a barragem fica cheia de rejeitos de minério, usando o próprio material descartado — uma lama formada por ferro, sílica e água como fundação.

Especialistas ouvidos pelo jornal disseram que o método costuma ser usado por ser mais barato e ocupar menos espaço. O problema é que a falta de uma base sólida aumenta o risco de romper. Os chilenos substituíram esse modelo pelo convencional, muito mais seguro, depois de um terremoto em 1974 que destruiu todas as barragens de rejeitos das minas de cobre do país.

Pois a proibição deste método de alteamento estava no parecer de um projeto da Assembleia de Minas Gerais que criava novas restrições para barragens. O parecer foi rejeitado em julho do ano passado, conforme informei na sexta-feira (veja post mais abaixo), logo que ocorreu o desastre da barragem de Brumadinho. O único voto favorável foi do relator e presidente da comissão, deputado João Vitor Xavier (PSDB), com votos contrários dos deputados Gil Pereira (PP), Tadeu Martins Leite (MDB) e Thiago Cota (MDB).

Ou seja, a Assembleia mineira servia para atuar contra a segurança da população de Minas Gerais. Hoje o jornal O Globo revelou que o principal lobista que derrubou o projeto que exigia maior rigor no licenciamento de barragens de mineração foi Fernando Coura, presidente do Sindextra, o sindicato de mineração de Minas Gerais. O presidente do Sindextra, informa o colunista Lauro Jardim, teve um contrato de R$ 500 mil em 2013 com Fernando Pimentel, quando o petista e futuro governador de Minas ocupava o Ministério Desenvolvimento, do governo Dilma Rousseff.

Outras notícias sobre o descaso de políticos, autoridades e administradores públicos com a segurança da população vão se encavalando, agora que a barragem já arrebentou. O jornal Valor revelou que atuando como deputado, Leonardo Quintão “retirou da MP que criou a Agência Nacional de Mineração dois dispositivos que aumentariam a fiscalização de barragens de rejeitos, como a de Brumadinho”. Em 2014, Quintão recebeu 1,8 milhão de reais de mineradoras, 42% do total arrecadado por sua campanha. Em 2018 ele não se reelegeu, mas conseguiu uma boquinha de secretário especial do governo de Jair Bolsonaro.

E para fechar o relato, embora existam muitas outras notícias sobre a movimentação dessa máquina política cruel que está sempre articulando em favor da lucratividade mais fácil, agora apareceu a informação de que a mineradora Samarco, da qual a Vale é sócia, nada pagou de um total de 350,7 milhões de reais das multas que lhe foram impostas pelo rompimento da barragem em Mariana, em 2015.

E que ninguém pense que esses monstros se inibirão com o horror que vem sendo este desastre de agora, com Minas Gerais indo dormir para no dia seguinte procurar mais mortos na lama da barragem da Vale. Eles só vão ser contidos se o país se levantar, exigindo maior rigor, com fiscalização e punição contra esta sede de lucro que passa por cima até da vida das pessoas.
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POR José Pires


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Um panorama da natureza da região de Brumadinho, arrasada
pelo rompimento da barragem da Vale

Foto de Vinicius Mendonça, Ibama

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