quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Olavo de Carvalho: professor e discípulos em sintonia de linguagem

Existem poucas coisas mais bonitas do que ver o trabalho de um professor dando frutos, especialmente quando o processo avança em conformidade com seu estilo e sua filosofia. Estou falando isso por causa de um vídeo que rola pela internet, no qual um dos deputados bolsonaristas que foram para a China negociar com o governo comunista um aparato tecnológico de identificação facial refuta as criticas do filósofo Olavo de Carvalho. Em um vídeo recente  Olavo tachou de “analfabetos políticos” os parlamentares da caravana, digamos, diplomática e mercantil. O professor também disse que eles são “caipiras”, mas achei inadequado o insulto. Caipiras costumam ser ressabiados. Não devem confiar nem um pouco nesse “tar” de comunismo.

O próprio deputado, de quem eu nunca havia ouvido falar, se diz um “olavista”, que é como se identificam os alunos do velho professor. Trata-se de Daniel Silveira, deputado federal pelo PSL do Rio de Janeiro. É um desses ativistas de direita que resolveram se lançar na política na tentativa de dar equilíbrio, ordem e mais tolerância a este país, nem que seja na porrada. O deputado bolsonarista trouxe uma importante revelação sobre o comunismo na China, onde, segundo diz, existe um “socialismo light”, ao contrário de Cuba e Venezuela, atualmente sob regimes ditatoriais. São todas palavras deles. Esse é o pessoal que acredita que Fernando Henrique Cardoso e seus colegas tucanos são comunistas, conforme ouviram Olavo de Carvalho afirmar em suas preleções.

Mas o que mais me chamou a atenção na fala do deputado indignado foi a assimilação de linguagem entre aluno e professor, demonstrada no indignado contra-ataque ao mestre. O deputado começa mandando Olavo, com o perdão da transcrição, “pra puta que o pariu”, mas ressalva que foi desse modo que aprendeu com o próprio professor, no que ele não deixa de ter razão. “Olavo de Carvalho, vou usar o teu nível”, o deputado avisa no inicio do vídeo, para então rebater com palavrões as críticas, além de explicar que “o brasileiro parece que só funciona na porrada e bandido na bala, parece mais ou menos isso”. E ele segue nesta filosofia por quase meia hora.

Parece que o debate entre os bolsonaristas começa enfim a se aprofundar, o que pode criar para a base de apoio de Jair Bolsonaro, senão um sistema filosófico, mas ao menos umas ideias para estabelecer alguma doutrina política neste governo. Mas ainda sobre esta polêmica viagem para a China, nesses dias Cleber Teixeira, advogado do deputado Alexandre Frota, disse que o “bunda murcha” do Olavo “não é guru da direita”. Notem que independente da celeuma sobre a autoridade intelectual do projeto da chamada “nova era”, a linguagem do mestre se estabelece como uma norma.

Este mesmo advogado do deputado Frota teve, por sinal, uma instigante interação com o deputado Eduardo Bolsonaro, que no Twitter também chamou de “analfabetos” os deputados da caravana chinesa. Referindo-se ao filho do presidente Bolsonaro, o advogado do Frota disse o seguinte: “Se ele vier falar nesse tom no gabinete do Frota eu quebro a cara dele”. A hermenêutica aqui é muito óbvia, além de que temos um interessante exercício filosófico do bolsonarismo. Achei muito bacana. Trata-se do conceito em vias de se tornar objeto.
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POR José Pires

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