sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Uma era de novas de atrapalhações

Pelo jeito, nesses dias desembocamos não em uma “Nova Era”, nessa crença até meio cômica de certos bolsonaristas, na ávida ilusão dos que não sabem que houve apenas uma troca de governo no Brasil — que aliás nem foi do PT para Bolsonaro. É preciso estar pouco atento para deixar de notar que Michel Temer foi quem passou a faixa presidencial para Bolsonaro. A desatenção evita também a consciência de que a mudança é apenas de retórica, do verbo chocho de Temer (ou a histeria esquerdista petista, tanto faz) para a política aos gritos, que levou Bolsonaro ao poder e que ele indica que manterá.

Mas mesmo diante da realidade de uma transição política relativamente normal, viveremos tempos de muito alarde, numa balbúrdia que começa por um candidato eleito sem projeto de governo e também sem a doutrina política que uma parcela de eleitores parece ainda acreditar que ele seria o condutor e que, coitado, ele não tem condição alguma de sustentar. Na falta de doutrina ou mesmo de um pensamento minimamente organizado, dá-lhe palanque e mais palanque, especialmente os digitais. Daí o alarde, que terá com certeza a contribuição oposicionista, em especial da esquizofrenia petista, em seu imaginário preso em Curitiba, no socialismo recalcado que serve apenas ao fortalecimento do adversário.

Serão tempos difíceis, também muito chatos, com a falta de pão sendo abafada pela preleção política de todos os lados, com a culpa pelo prato vazio sendo apontada aos adversários de ontem e nos que ainda estão por aí. O Brasil viverá na sua toada de sempre, em que problemas são atacados com palavras vazias — agora em mais profusão e maior fragmentação, pela facilidade dos meios — atiradas pelos que tem a obrigação política de resolvê-los ou por quem exerce o direito da crítica, nos partidos e na representação política.

Na continuidade do histórico lero-lero, que deve ter chegado por aqui, nas primeiras praias descobertas, mais ou menos próximo da primeira carta, temos agora uma diferença causada pela condição material dos tempos atuais, sintomática, perigosa, beirando a fatalidade, no ponto quase culminante de um esgotamento causado exatamente pelo hábito antigo da enrolação retórica, quando o país tem esgotados grande parte de seus recursos e vive numa carência técnica que dificulta até a aplicação de boas respostas. Isso quando consegue elaborar alguma pergunta produtiva.
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POR José Pires

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