quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Atitude de verdade

Dos candidatos a prefeito pelo Brasil afora, Marta Suplicy é uma que tem o slogan bem verdadeiro. Ela é a candidata com atitude. E aí o marqueteiro acertou. Se é que isso é coisa de marqueteiro, pois a petista tem tamanha atitude que não me surpreenderia saber que o slogan foi criado por ela.

Quem acompanha este blog sabe que a candidata petista à prefeitura de São Paulo representa forças políticas que têm toda a minha contrariedade. Mas ontem, em encontro com pastores da Igreja Batista de São Paulo, em um grupo que representava 540 igrejas, ela teve um posicionamento admirável.

Os pastores queriam apoio contra um projeto em tramitação no Congresso que criminaliza a homofobia. Para eles, com a aprovação da proposta eles ficariam impedidos de pregar contra a homossexualidade. Não me perguntem se esses pastores não têm mais o que fazer, problemas urgentes para se ocupar, talvez até em quastões sociais de São Paulo; vamos logo ao que disse Marta Suplicy.

"Se for para xingar homossexual, dizer que é doente, desacatar, sou contra. Com toda a minha formação de psicanalista e na área de sexualidade, não posso ser a favor. Se eu respondi, está respondido, se querem mais detalhes, tenho de ler o projeto”, ela disse.

Mas é claro que os pastores não descansaram. Perguntaram novamente e receberam outra resposta franca: “Não sou eu que vou votar [a lei], mas minha opinião vocês têm de ter: não sou a favor disso, gente, não sou! Tenho de deixar isso claro”.

Segundo o jornal O Globo, houve um constrangimento na platéia, reação óbvia, já que esse pessoal está acostumando ao “sim senhor” costumeiro de candidatos que fazem tudo pelo seu apoio.

“Nós temos de ter coerência com o que a gente é, com o que a gente vive e com a vida da gente. De mim, vocês nunca vão encontrar evasivas”, disse a candidata petista, que ainda foi perguntada por um dos pastores sobre “investimento em espiritualidade”, o que a levou a fazer uma bela declaração em defesa da escola laica.

“O mesmo respeito que temos em relação à religião, temos que ter em relação à raça, à sexualidade, em relação às diferenças. As pessoas não são iguais. Não nascemos iguais”, ela declarou.

Pesa contra Marta Suplicy o fato de ela ser uma influente liderança de um partido que, no poder, fortaleceu enormemente um grupo religioso como a Igreja Universal de Edir Macedo, apoiando inclusive seu crescimento político e econômico que ocorre cercado de suspeitas, até com denúncias de que isso tem sido alcançado com procedimento ilegais. A bancada da Universal, que tem pouco respeito pelo laicismo, para dizer o menos, é hoje bem próxima do governo e, pelo jeito, bastante ligada ao próprio presidente Lula.

Mas isso não altera o fato de que sua atitude é surpreendente, admirável até. Ainda mais levando em consideração que ela disputa uma eleição bastante difícil. A verdade é que se os políticos agissem sempre desse modo sincero, talvez a política brasileira não estivesse tão desacreditada. Pode ser até que a política servisse para alguma coisa de qualidade.
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POR José Pires

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