segunda-feira, 8 de novembro de 2010

As bombas do ministro Haddad

A situação do ministro da Educação, Fernando Haddad, chega a ser cômica: a cada prova do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, seu ministério leva bomba com algum problema que ganha as manchetes. O Enem era para ser uma aferição da qualidade do ensino e passou a ser uma confirmação da má-qualidade do Ministério da Educação do governo Lula.

Agora foram os cabeçalhos trocados, mas já teve vazamento de dados pessoais de participantes e até o furto da prova de uma gráfica de São Paulo e a tentativa de venda, denunciada no final do ano passado pelo jornal O Estado de S. Paulo. O Enem era para ser um sinônimo de qualidade, coisa de bom aluno e de estudante aplicado. Mas virou sinônimo de desordem e corrupção. O MEC é o ignorante bagunceiro do fundo da sala de aula, isso quando não é coisa pior.

Um projeto estratégico para a educação brasileira acabou sendo desmoralizado. Entre os estudantes a maior expectativa quanto ao Enem é qual vai ser a estupidez que irá acontecer com o próximo exame.

Os problemas do ministro Fernando Haddad não são poucos na sua bagunçada pasta. É uma bomba atrás da outra. Com ele encalacrado nas confusões do Enem, a imprensa passa a vasculhar tudo à sua volta. Pode dar até problema no currículo. E já deu.

Fala-se bastante da falta de experiência da presidente eleita Dilma Rousseff, o que é um fato. Mas Haddad também não mostrou muito serviço antes de virar ministro por um dedaço de Tarso Genro.

Ninguém tem lembrado do fato, mas foi o ex-ministro Tarso Genro que indicou Haddad, quando abandonou o ministério da Educação para assumir o da Justiça. Será que vai ter uma vaga para Haddad lá no Rio Grande do Sul, onde Genro ganhou a eleição para o governo? vai ser difícil para o ministro da Educação passar de ano e ir para o governo Dilma.

Mas, voltando ao currículo de Haddad, basta dar uma sapeada em seu Currículo Lattes para sentir a coisa. Desde 2003 ele não atualiza a joça. Por sinal, no Lattes tem até uma informação que me deixou bastante curioso. É sobre o domínio de línguas. O espanhol, o ministro da Educação diz que "compreende bem, fala bem, lê razoavelmente e escreve pouco". É estranho que alguém compreenda bem e fale bem uma língua estrangeira sem ter a capacidade de escrever com a mesma competência.

E o ministro Haddad nem pode dizer que é como um Lula em espanhol, porque para isso Lula teria que falar bem o português que não consegue ler e nem passar para o papel de forma alguma.

Hoje o blogueiro da Veja, Reinald Azevedo, andou destacando trechos de textos publicados por Haddad antes de ser nomeado ministro.

Um trecho de "Trabalho e Linguagem - Para a Renovação do Socialismo", escrito por Haddad, mostra com clareza o nível do ministro: “O sistema soviético nada tinha de reacionário. Trata-se de uma manifestação absolutamente moderna frente à expansão do império do capital“. É um atestado de fé no sistema soviético. O livro é de 2004, mas num trabalho anterior, quando ele tornou-se mestre em economia em 1990, Haddad pôde demonstrar sua confiança no modelo comunista da antiga União Soviética. A monografia se chama “O caráter sócio-econômico do sistema soviético”.

O problema, como é bem colocado por Reinaldo Azevedo, é que menos de dois anos depois ocorreu o fim da União Soviética.

É bem estranho uma crença dessas no futuro da União Soviética, escrita por alguém em 1990. Este foi o ano da queda do Muro de Berlim, mas os avisos da dissolução do modelo soviético vinham bem antes que começassem a quebrar os tijolos do muro. As idéias da glasnost e da perestroika foram apresentadas oficialmente por Mikhail Gorbachev em 1986. Mas antes disso, num espaço de décadas, já havia muita literatura mostrando que o modelo se sustentava na miséria da população das repúblicas submetidas à força pelo governo comunista. O modelo dependia até mesmo do trabalho escravo. Ainda na década de 50 (em 1958 em livro publicado no Brasil) Milovan Djilas já criava o conceito de "Nova Classe" e mostrava que o que se criava era uma mera burocracia ineficaz e corrupta.

Será que enquanto escrevia sua monografia Haddad estava entre os que torciam pelo golpe deflagrado pela linha dura do Partido Comunista Soviético? Terá ele acreditado até o fim (talvez até hoje) que essas forças não permitiriam jamais a mudança de modelo, com o fim do comunismo?

É também provável que estando absorvido demais na monografia, possa ter escapado ao ministro Haddad informações que eram repassadas naquela época inclusive pelos jornais diários. Cinco anos antes dele entregar sua monografia (Puxa vida, quem será que aprovou a peça acadêmica?) já havia muita literatura revelando o colapso do modelo soviético.

O ministro tem também outra obra sobre o tema do comunismo. É um livro com manifesto político — "Em Defesa do Socialismo" — publicado pela editora Vozes na coleção "Zero à Esquerda", a prova de que um trocadilho pretensamente muito esperto pode sair pela culatra.

E depois o pessoal ainda estranha quando o MEC distribui nas escolas livros que exaltam de forma mentirosa o socialismo real e tratam como estadistas progressistas assassinos como Stálin e Mao Tse-Tung.

Haddad acabou ficando na mesma posição de velhos líderes comunistas do antigo pecezão que até hoje não admitem que aquilo tudo, inclusive a queda do Muro de Berlim, aconteceu de verdade. Prestes morreu com a certeza de que tudo era um jogo da direita. E até hoje o mais que centenário Oscar Niemeyer não admite que Stalin tenha sido um ditador criminoso. Ora, Antonio Cândido até escreveu que “Fidel Castro é um líder extremamente humano”.

Escrevi sobre isso aqui, aqui e aqui.

E que ninguém submeta Haddad a uma prova sobre o tema, na forma de um Enem sobre o sistema soviético e outras formas de comunismo. Com certeza o ministro vai tomar bomba.
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POR José Pires

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