quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Hay que ter ternura? Jamás!

Quanto a homofobia do regime, Guillermo Cabrera Infante conta em Mea Cuba várias histórias sobre a perseguição sofrida por muitas pessoas, entre elas os conhecidos escritores Reinaldo Arenas e Virgilio Piñera. Estes escritores, assim como vários outros homossexuais, eram também partidários da revolução.

Ele dedica mais espaço para Piñera, que era seu amigo, até porque por meio dos acontecimentos que envolvem a perseguição ao escritor por causa de sua condição sexual, as histórias vão compondo um panorama esclarecedor do desprezo humano usado como instrumento de pressão sobre o pensamento divergente.

Com histórias desse tipo, acompanha-se o padecimento da cultura cubana sob Castro. O ataque à sexualidade de Piñera e outros foi, na verdade, a via para eliminar o que essas pessoas tentavam trazer de diferente no aspecto cultural e que não se encaixava no projeto político da revolução.

A morte de Piñera em Cuba, aos 68 anos, tem componentes absurdos até para o regime cubano. Ele teve um ataque cardíaco e a ambulância demorou três horas (sic!). É claro que quando o socorro chegou ele já estava morto.

No velório sumiu o corpo de Piñera. As autoridades explicaram que o haviam levado para fazer uma autópsia, o que não era necessário. Para Cabrera Infante, o que o governo temia era um ajuntamento de gente. O cadáver voltou apenas meia hora antes do enterro e o percurso até o cemitério foi feito de forma apressada, forçado pelo governo cubano.

Sobre o preconceito com a homossexualidade de Piñera, Cabrera Infante conta uma história com Che Guevara que é de arrepiar a esquerda moderninha que vê no guerrilheiro argentino um símbolo de liberdade. Em visita à embaixada cubana na Argélia, remexendo na biblioteca, Che Guevara encontrou alguns livros de Virgilio Piñera. Pegou um deles e perguntou ao embaixador: “Como é que você pode ter o livro dessa bicha na embaixada”. E atirou com raiva o livro na parede.

O texto onde Cabrera Infante conta tanta coisa foi publicado em 1981, mais de dez anos antes de Antonio Candido discursar no Prêmio Casas de las Américas elogiando o regime cubano. É um ensaio publicado pela revista mexicana Quimera. No Brasil, o livro Mea Cuba é de 1983, como já disse. A honestidade intelectual não exigiria de Candido a consulta de textos como este antes de escrever seu elogio ao regime cubano? Talvez ele até tenha feito isso, mas se fez é provável que tenha sido com a visão de que Cabrera Infante fosse um agente da CIA.

E se deu mal também nisso. Há duas semanas Fidel Castro assumiu a culpa pela onda homofóbica de seu governo, quando perseguiu homossexuais. Não era um preconceito aleatório, mas uma política de Estado. Eles eram acusados de serem “contrarrevolucionários” e muitos eram enviados para campos de trabalho forçado. Que os comunistas cubanos se preocupassem com esse tipo de coisa, tendo tanta coisa para fazer naquele ínicio de revolução, explica muita burrada que aconteceu em Cuba.

Mas, enfim, Castro fez essa confissão no final de agosto ao jornal mexicano La Jornada afirmando que isso foi um erro do regime e menos de duas semanas depois veio com essa de que o modelo cubano não serve mais nem para Cuba. Pelas barbas de Karl Marx, o que virá mais por aí? Deve ter muito esquerdista relendo com muita preocupação e pesar seus escritos a favor do regime cubano.
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POR José Pires


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