sábado, 26 de abril de 2014

O partido do "eu não sabia de nada"

Os dirigentes do PT fazem de tudo para que o caso do deputado André Vargas seja visto apenas como um acidente de percurso. É aquele papo de que corrupção tem em qualquer partido ou de que "somos todos iguais". O discurso é insistente por parte dos petistas e de vez em quando vejo caindo nele até pessoas sem compromisso com o PT e muito menos com acesso aos privilégios garantidos por esta ligação partidária. Felizmente são poucos que fazem isso, até pelo fato de que ficou difícil a multiplicação espontânea de opiniões favoráveis vindas desse partido. E hoje em dia já está mais claro que nada vem do PT sem uma sólida ligação com o projeto de poder do partido.

O extraordinário sucesso até aqui da carreira do deputado Vargas nada tem de casual dentro do PT e nem pode ser creditado a um particular talento pessoal. Quem conhece o petista desde seu começo na política sabe que ele não é uma pessoa com dons especiais na sua área, a não ser na disponibilidade para atender aos que realmente mandam nas maquinações de bastidores no partido e no governo federal. E a partir da aparição do deputado petista no cenário nacional, com uma surpreendente relevância na máquina eleitoral partidária e no poder, já deu para sentir rapidamente que a elevada altura não havia sido alcançada em razão de um natural talento para a política.

André Vargas só pode ser visto como um fenômeno natural dentro do partido se a avaliação for no sentido de que se não fosse ele o esquema arrumaria com facilidade outro para colocar em seu lugar. A pessoa precisa ter a disponibilidade de servir a um projeto de poder que começa no domínio interno do partido. E isso hoje o PT tem aos montes. O deputado que caiu em desgraça vinha fazendo até agora esse serviço no Paraná, assim como outros “Vargas” fazem o mesmo em outros estados. O projeto de poder é nacional e nele é essencial o domínio da máquina partidária. É por esta via que surgem e crescem os “Vargas”.

No Paraná, os chefes do partido com ligação direta com o poder federal são os ministros Gilberto de Carvalho e Paulo Bernardo, ambos solidamente instalados no governo do PT desde o primeiro mandato de Lula. Vargas entrou na vaga de deputado federal deixada por Bernardo, quando este saiu para ser ministro. Assim é que são feitas as carreiras políticas e Vargas estava até agora na chefia deste projeto no estado, influenciando inclusive na escolha de nomes que dariam a continuidade de poder do grupo. Sua intenção este ano era sair candidato ao Senado. E ele já andava pelo estado monitorando candidatos escolhidos pela cúpula para outros cargos.

O grupo no Paraná é tão fechado que obrigatoriamente está centrado na construção da candidatura da senadora Gleisi Hoffmann ao governo estadual. É projeto de muitos anos. E tem que ser ela a candidata e pronto. Gleisi é mulher do ministro Bernardo. Gilberto Carvalho e Paulo Bernardo conhecem o deputado Vargas em proporções parecidas, em amizade que começou em Londrina. A ligação partidária entre eles é mais antiga que a amizade de Vargas com o doleiro preso, que também é da mesma cidade e já vai pra mais de vinte anos.

Para fugir da responsabilidade sobre o que vem acontecendo, ninguém dentro do PT pode alegar desconhecimento dos processos anteriores que resultaram na atual situação — tão grave que o próprio Lula deixou escapar o lamento de que “o PT está pagando o pato”. Mesmo quem nada tem a ver com o pato sempre esteve muito próximo de todos os lances, que até aqui de fora era possível em parte notar. A única justificativa para sair limpo dessa é se declarar totalmente incapaz de perceber durante anos a construção de um desastre que explode exatamente num ano eleitoral. Mas aí essa figura também não serve para fazer política, se é que serve para fazer alguma coisa.
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Por José Pires

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Imagem - Uma alegre reunião no Paraná quando André Vargas estava por cima: da esquerda para a direita, Vargas, Márcia Lopes (irmã do ministro Gilberto Carvalho, que o grupo tentou mas não conseguiu eleger prefeita de Londrina), Rui Falcão (que já pediu a cabeça do deputado), Gilberto Carvalho e o deputado estadual Ênio Verri.

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