sexta-feira, 4 de abril de 2014

O esquema do mais do mesmo

Foi oficializada ontem a renúncia do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, um político que é a expressão fiel do nível baixo a que chegou a política brasileira. Ele sai do governo para tentar a eleição para qualquer outro cargo, uma decisão que vai depender da análise da sua baixíssima popularidade.
Costuma-se atribuir a má qualidade dos políticos brasileiros à deficiências da própria formação política dos brasileiros. Com tal argumentação o domínio de patifes sobre a política brasileira acaba sendo atribuído ao caráter nacional. Como se os lamentáveis políticos que aí estão fossem representativos do conjunto dos brasileiros. E não é bem assim.
Cabral abandona o governo numa situação de caos e com um histórico de desastres desde que assumiu o primeiro mandato. Foram mais de sete anos no poder, em dois governos marcados pela completa falta de planejamento, de capacidade administrativa e de honestidade com o dinheiro público. Seu governo teve até mortes em manifestações políticas. Foram também milhares de desalojados por enchentes e desabamentos, com muitos mortos e famílias com as vidas destroçadas, em tragédias que se repetiram em cada ano.
A falta de ética de Cabral até rompeu fronteiras internacionais, quando ele esteve na França divertindo-se em jantares em restaurantes caríssimos e hotel cinco estrelas de Paris, acompanhado de um empreiteiro pego num dos maiores escândalos de corrupção do país, as maracutaias da Delta, que envolveram também o governo do PT. Foi quando o governador do Rio e secretários estaduais saíram em fotografias fazendo micagens e dançando com guardanapos na cabeça.
Seu governo termina com o Rio de Janeiro praticamente sob intervenção do Exército Brasileiro, com suas tropas ocupando sob o nome fantasia de Força Nacional a cidade dominada pela violência do crime organizado e milícias paramilitares.
É óbvio que o desastre deixado pelo governador fujão não conta com o aval do eleitorado fluminense, que também não votou nele para ter um governo desgraçando a vida de todos. Acontece que políticos como Cabral são favorecidos pelo processo político brasileiro, a começar pela facilidade criada para o domínio interno nos partidos e o uso disso na lamentável barganha que virou a política brasileira. Esta negociação permanente começa no Palácio do Planalto, passa pelo Congresso Nacional, atravessa os governos estaduais e Assembléias Legislativas e vai até os prefeitos e vereadores.
Da forma que está estabelecido o jogo político é impossível renovar a administração pública por meio do voto. Até mesmo o sentimento de mudança política da população acaba sendo ludibriado, como já tentam fazer no Rio com a candidatura de Lindbergh Farias. O senador petista entra na disputa para explorar o descontentamento do eleitorado. Cabral se elegeu duas vezes com muito dinheiro e o apoio da máquina eleitoral do PT, sempre impulsionada pelo uso deslavado do poder do Governo Federal. Durante todos esses anos o PT esteve afinadíssimo com o governo Cabral e agora aparece como oposição. É a velha tática de mudar com eles mesmos, para que tudo continue na mesma.
.....................
Por José Pires

___________________
Imagem - Sérgio Cabral, Lula e Dilma juntos na campanha eleitoral de 2010. O senador petista Lindbergh Farias, que está atrás da trinca, agora entra como oposição para manter tudo do mesmo jeito que está.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ele não deixou o Rio em uma situação de caos, isso é culpa total da população que não sabe resolver nada e prefere ir pras ruas fazer baderna, o que é uma pena...