sexta-feira, 9 de março de 2018

Delfim Netto, o guru de Lula, é pego finalmente por corrupção

Finalmente uma investigação séria sobre corrupção pegou o ex-ministro Delfim Netto. E que bom que tenha sido a Operação Lava Jato, que vem praticamente reescrevendo a história política recente do país, num trabalho admirável baseado em fatos irrefutáveis. Nunca foram apontadas tantas verdades sobre figuras poderosas da política, do meio empresarial, dos mais variados setores da vida brasileira, em um desmonte admirável de falsidades, desconstruindo mitos apoiados em propaganda e lucrativas relações de troca. Desta vez, numa tacada atinge-se o governo do PT, o mercado financeiro, a mídia e seus bandidos de estimação, além do refresco na memória sobre a ditadura militar como origem de uma carreira política de sucesso, que nasceu entre o poder militar e passou por vários governos, até desembocar no governo do PT.

Nesta sexta-feira, Delfim foi alvo da Operação Buona Fortuna, 49.ª fase da Lava Jato. O ex-ministro da ditadura militar recebeu 15 milhões de reais no esquema da Usina de Belo Monte. Esta é a quantia identificada até agora após a quebra de sigilo fiscal e bancário das empresas de Delfim Netto e de seu sobrinho Luiz Appolonio, mas a investigação prossegue. Em coletiva da Lava Jato nesta manhã foi informado que “não se descarta a possibilidade de maiores valores”.

É interessante que o ex-ministro tenha sido pego em negociatas com hidrelétrica, pois é exatamente neste ramo que desde a ditadura rola uma história de corrupção pesada quando ele foi embaixador em Paris, de 1975 a 1978, nomeado pelo general Ernesto Geisel. Sim senhores, exatamente Geisel, um dos ditadores do ciclo militar, falsamente tido como um exemplo de ética administrativa. A embaixada era conhecida na França como “embaixada dos 10 por cento”, mas nada podia ser publicado no país. Durante a ditadura a imprensa esteve sob pressão permanente e nesta época das reinações francesas de Delfim havia até censura prévia em alguns jornais.

A acusação de corrupção a Delfim Netto na ditadura apareceu com o chamado “Relatório Saraiva”, feito pelo coronel Raymundo Saraiva Martins, adido militar na embaixada brasileira em Paris. No documento, Delfim era acusado de cobrar propina de US$ 6 milhões de fornecedores estrangeiros de equipamentos também para hidrelétrica. O esquema seria com o irmão de Giscard d’Estaing, então presidente da França. Delfim mantinha boas relações com o então presidente francês, que era um tremendo corrupto. Recebeu diamantes do ditador africano Jean-Bédel Bokassa e por causa do escândalo perdeu as eleições em 1981.

O coronel Saraiva Martins morreu em 2008, com 84 anos. O ex-ministro da ditadura jamais foi acionado pela Justiça por este caso. Ao contrário do que alguns desavisados podem pensar, são inúmeros os casos de corrupção durante a ditadura militar. O que ocorria então é que aliados do governo não eram investigados. E notícias sobre corrupção eram abafadas por pressão política e econômica do governo sobre as empresas de comunicação ou então pela pressão policial. Jornalistas também podiam sofrer represálias ou até coisa pior, jornais e revistas eram recolhidos pela polícia política nas bancas, dando um imenso prejuízo para quem se arriscasse a imprimir o que o regime não queria ver publicado.

Delfim foi também conselheiro político de Lula durante seus dois mandatos e sempre apoiou o governo do PT, interpretando o papel de economista descompromissado politicamente — como muita gente fez durante o ciclo petista. Até que, ao contrário do que eles garantiam que não iria acontecer, o Brasil passou a viver sua pior crise a partir da metade do primeiro mandato de Dilma Rousseff.

Delfim interpretava este papel com facilidade, por meio de artigos e entrevistas na mídia, onde aparecia como se fosse um acadêmico apresentando com boa vontade e sem compromisso suas ideias para o país. Boa parte da imprensa permitiu ou se acumpliciou com essa forma fraudulenta de jornalismo, enquanto Lula e o PT montavam uma estrutura de poder perigosíssima para a democracia brasileira. No aspecto público, a excelente relação entre Delfim e o governo do PT foi sempre algo bizarro das duas partes, pelo menos no sentido, digamos, ideológico de cada lado. Eram para ser como água e azeite, mas, como se sabe, no Brasil dinheiro ganho com facilidade e de forma desonesta tem um poder extraordinário na eliminação de contrariedades.
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POR José Pires

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Imagem- Apoiadores do governo do PT posam para foto em 2013, durante o fórum “A crise econômica e o futuro 
do mundo”, promovido pela revista governista Carta Capital. Estavam animados com o futuro do Brasil em mãos 
petistas. No clima cordial do encontro, observe que o senador Roberto Requião está de modo fraterno com o braço 
sobre o ombro de Delfim Netto

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