quarta-feira, 21 de março de 2018

João Doria mudando de paixão

Desde antes de ser eleito prefeito de São Paulo, a trajetória política de João Doria parecia dar um ótimo objeto de estudo, talvez um completo case de marketing, da campanha até a administração de uma grande cidade brasileira. No caso da administração da capital paulista é claro que vai ficar pelo meio. Doria será o candidato do PSDB ao governo de São Paulo.

O tal case de marketing sobre o sucesso do insaciável tucano teve uma significativa mudança, mas ainda pode conferir-lhe a marca ainda mais espetacular como fenômeno de capacidade de comunicação e articulação política. Ao quebrar a promessa de campanha de que cumpriria todo o mandato, reforçada várias vezes inclusive depois de eleito, o prefeito assume o trabalho de convencimento do eleitor junto com a difícil tarefa de explicar sua mudança de plano. Caso passe por cima deste problema e consiga eleger-se governador, então estaremos frente a um fenômeno político ainda mais impressionante do que a vitória para a prefeitura em primeiro turno na sua primeira eleição na vida.

Mas cabe esperar, já sabendo que Doria não vem se dando bem com esta questão espinhosa do abandono do mandato de prefeito. Numa das vezes que falou sobre o assunto, em entrevista recente para a TV Bandeirantes, ele usou como referência o matrimônio religioso. Sua fala, na íntegra: “Quantos maridos e quantas esposas também fazem suas promessas de casamento e de eternidade no casamento, numa cerimônia religiosa, com testemunhas, com juramento, com juras de amor, e às vezes se separam”.

Uma afirmação absurda como esta é de causar perplexidade, não só pela hipocrisia, mas porque sabe-se que Doria deve ter analisado com assessores esta justificativa, procurando avaliar os prós e contras. Com quem esse sujeito anda conversando? Uma proposta dessas em reunião política é de fazer engasgar com o café. A desastrosa tentativa de sair de um problema na verdade criou outra complicação, agora no desrespeito ao matrimônio religioso. Ele terá que responder também por esta referência insultuosa ao casamento. E ainda falta explicar o abandono do mandato pelo meio. Por sinal, já que se falou em casamento, ninguém está vendo isso como uma separação amigável. Está mais para o ressentimento de uma terrível dor de corno, que pode prejudicar seriamente sua votação no maior eleitorado do estado.
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POR José Pires

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