John Maynard Keynes é autor de uma grande frase, muito simples como costumam ser as grandes sacadas, que é para mim uma das definições mais precisas do que é o pensamento científico e dessa atividade humana essencial na nossa existência: o ato de pensar. Keynes disse: “Quando mudam os acontecimentos, mudo de ideia”.
É interessante que este grande pensador volte a ser o ponto central da discussão sobre o que deve ser feito na condução do ataque a este sério problema do novo coronavírus que se abate sobre o mundo todo, nas ações práticas e imediatas exigidas na economia em razão de um vírus que provoca a morte e traz um efeito colateral de destruição dos chamados modos de produção e, enfim, de muita coisa que vínhamos fazendo nas últimas décadas, que a julgar pelo surgimento e rápido espalhamento do coronavírus, era uma forma de vida no mínimo muito arriscada.
Keynes foi o centro de um debate que atravessou o século 20 e entra nesse novo milênio, em questões muito parecidas, na discussão sobre a eficiência do liberalismo econômico e ainda com aquele velho fantasma — que arrasta correntes desde o século 19 — que Karl Marx e Friedrich Engels anunciaram que rondava a Europa, o fantasma do comunismo, que por sinal foi uma ideia enxotada da Europa pelo keynesianismo. Ou alguém duvida que estejam criadas as condições para que que seja reavivada esta velha solução do comunismo, tão absoluta e pretensamente científica, no cenário de terra arrasada previsto para depois do impacto avassalador dessa pandemia?
Nesses dias de desespero que ninguém ainda sabe até quando vai durar foi o liberalismo econômico que levou a maior pancada, até porque não há dúvida de que as bases para o espalhamento descontrolado do contágio foram criadas pela condução radical e totalmente sem limites desse sistema. Também se comprova que no liberalismo não há remédio econômico para tratar de imediato o paciente, daí a necessidade da mudança de ideia, em muitos casos longe de uma transformação pela inteligência, mas pela necessidade da sobrevivência, para alguns apenas na medida da circunstância política da própria carreira pessoal.
A volta de John Maynard Keynes teve que ser engolida até por Donald Trump, é verdade que com uma má-vontade de garoto adoentado forçado a tomar uma generosa colherada de óleo de fígado de bacalhau, até porque os liberais sabem que depois disso que estamos vivendo será muito complicado convencer populações inteiras a voltar ao pretensamente doce remédio de antes, de um liberalismo que desorganiza de tal forma a vida humana que em certos países, como no nosso Brasil, complica até para encontrar os desgraçados na hora da absoluta necessidade da ajuda.
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POR José Pires
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