Só mesmo rindo com as análises que saem por aí sobre o futuro do governo de Jair Bolsonaro. Este governo simplesmente acabou, mesmo no âmbito ordinário da política local, bastando observar as figuras da sustentação pretendida por Bolsonaro depois do desmoronamento total da sua base, com o destaque para Valdemar da Costa Neto e Roberto Jefferson, notórios mensaleiros metidos até o pescoço nas falcatruas dos governo de Lula e Dilma Rousseff e mesmo depois, com a entrada de Michel Temer tomando o lugar de Dilma.
Alguém sabe de um governo que tenha adquirido solidez com essas mãos solidárias? E junto com essas complicadas adesões, Bolsonaro terá de administrar politicamente o que restou da sua base política, que nunca foi grande coisa, mas decaiu bastante, sobrando para ele figuras políticas de pouca experiência política, sem a mínima inteligência política e até mesmo com dificuldades de compreensão que pelo menos, em tese, simplesmente por serem adultas, não deveria lhes faltar.
Uma delas é esta deputada Carla Zambelli, a articulada intermediária de Bolsonaro no convencimento ao então ministro Sergio Moro, para que ele aceitasse negociar com o presidente a mudança do comando da Polícia Federal, substituindo o diretor-geral Maurício Valeixo por Alexandre Ramagem, amigão da família Bolsonaro.
Todos sabem que a história terminou com a demissão de Moro, que revelou depois as mensagens da deputada bolsonarista pedindo que ele aceitasse a troca de Valeixo por Ramagem (que ela escreve erradamente “Ramage”), recebendo para isso uma vaga no STF.
A genial articuladora então mostrou-se surpresa de saber que suas mensagens foram printadas por Moro. De fato, realmente é surpreendente que um ex-juiz federal da Lava Jato, com duas décadas como protagonista de importantes investigações contra a corrupção política e o crime organizado tenha o hábito de documentar o que acontece no seu cotidiano, até mesmo as trocas de mensagens com uma parlamentar da base de um presidente que todo mundo sabia que estava pronto para dar-lhe uma rasteira.
Mas se alguém ainda tem dúvida de que Carla exige de Bolsonaro um cuidado que o presidente não tem capacidade de dedicar nem a si próprio, nesta terça-feira ela trouxe mais uma, digamos, pérola política da sua especialidade. Em entrevista à rádio Jovem Pan, com ataques pesados ao ex-ministro Sergio Moro, a deputada dedicou também algumas palavras ao ministro Alexandre Moraes. “Sobre o Alexandre de Moraes, me desculpa, mas às vezes acredito que a ligação dele com o PCC era verdadeira”, ela disse.
Isso mesmo: a parlamentar mais próxima atualmente do presidente da República associou um ministro do STF a uma das facções mais perigosas do crime organizado. E cabe contextualizar um pouco mais a ousadia desta mulher que não só não teme como até gosta de correr riscos. Alexandre Moraes é relator do inquérito do STF sobre fake news, um dos maiores problemas do presidente Bolsonaro, com investigações no rastro dos seus filhos. Moraes relata também outra encrenca grave do governo, que pode atingir diretamente o presidente: as virulentas manifestações bolsonaristas a favor do AI-5 e contra o STF.
Ninguém vai negar que é muito singular a técnica de diálogo político da deputada bolsonarista. É com coisas desse porte que vai sendo elaborada a sustentação do futuro do governo de Jair Bolsonaro, cujo sucesso depende até de chefes mensaleiros que saem dos obscuros bastidores da política para destacar-se como, digamos, neobolsonaristas. Só não ri de um horizonte político desses quem está totalmente por fora ou é pago para fingir que tudo vai dar certo.
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POR José Pires
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