Ontem o deputado Osmar Terra mandou um áudio pelo WhatsApp para Flávio Bolsonaro dizendo que a pandemia do novo coronavírus está “desabando”. O vídeo de quase nove minutos foi divulgado pela revista Época. Nele, Terra, que é ex-ministro de Bolsonaro, diz para o senador e filho do presidente: “A epidemia não está caindo, está desabando”.
Pois nesta terça-feira o Ministério da Saúde atualizou os números do coronavírus para 1.532 mortes. Em relação ao dia de ontem, da comemoração de Terra, foram registradas mais 204 mortes. Foi o primeiro registro de mais de duas centenas de mortes em um dia. Temos também 1.832 novos casos confirmados, saltando de 23.430 para 25.262. O aumento é de 7,8%. Levando em consideração que são números altamente subestimados, teme-se pelo pior.
Claro que se dependesse do otimismo interesseiro de tipos como o deputado Osmar Terra a situação no Brasil estaria totalmente fora de controle. O deputado é um dos que atuam contra o esforço nacional para conter a contaminação. Ele se alinha com Jair Bolsonaro, na ação deste quinta-coluna contra o isolamento social. O ex- ministro vive dizendo que a gripe H1N1 foi muito mais letal do que o coronavírus. A OMS já divulgou que o coronavírus é dez vezes mais letal, mas não adianta: Terra insiste no fake-news.
A situação não está nem um pouco tranquila, mas teria sido um desastre se tivesse prevalecido a posição do deputado, que sempre foi contrário ao isolamento social e por isso agora conta com a simpatia de Bolsonaro, depois de ter sido demitido desonrosamente do Ministério da Cidadania no mês retrasado. Com as idéias fora de lugar desse ex-ministro, imaginem como estaria hoje a imagem do governo brasileiro mundialmente.
E não é que sua imagem esteja grande coisa, mas seu desprestígio seria ainda maior. O posicionamento anti-científico frente ao coronavírus deixou o presidente numa situação de grave descrédito no plano internacional, a ponto do jornal americano Washington Post, em editorial na edição de hoje, ter colocado Bolsonaro entre os governantes de Belarus, Turcomenistão e da Nicarágua. Estes são os negacionistas que sobraram no mundo, com Bolsonaro em destaque no texto do jornal, que classifica como sendo, “de longe, o caso mais grave de má conduta”.
O Washington Post lembra que quando a infecção começou a se espalhar pelo Brasil, Bolsonaro falou do coronavírus como “uma gripezinha” e exortou os brasileiros a “enfrentar o vírus como um homem”. Claro que o presidente tomou este rumo equivocado seguindo sugestões de uma equipe de desqualificados, acatando palpites de tipos como Terra, além da filosofia sem fundamentos do guru Olavo de Carvalho, que se revelou um desastre como mentor de um presidente.
Bolsonaro poderia ter se dado razoavelmente bem, transitando por esta crise apenas fazendo o papel cerimonial do governante ocupado com o bem-estar de seus concidadãos. Bastaria ter deixado o ministro Luiz Henrique Mandetta fazer seu trabalho sem ser incomodado.
No entanto, ele resolveu se fazer de conhecedor de política sanitária, uma sumidade da infectologia, sem igual no mundo todo. Fez isso seguindo péssimos avaliadores e planejadores ainda mais incompetentes, como Olavo de Carvalho, que vivia falando do idiota político, sempre em tom crítico, mas acabou criando o maior deles, um idiota político no poder, com uma capacidade de demolição do próprio mito.
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POR José Pires
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