quarta-feira, 29 de abril de 2020

O bolsonarismo e seu incorrigível hábito de piorar o que já não vai bem

Corre pela internet uma espantosa movimentação contrária à ideia do isolamento social como medida de tentativa de controle da contaminação do coronavírus. Este movimento tem um motor bem azeitado, com a máquina de comunicação bolsonarista fabricando fake news e uma tremenda desinformação que provoca um comportamento social de desunião entre os brasileiros, do confronto violento para agredir e desmerecer quem pensa de forma diferente.

Tudo bem, sem a discussão de ideias é difícil fazer algo direito, mas isso precisa ser feito de forma horrorosa? Já vimos algo muito parecido vindo da esquerda e agora temos o mesmo incômodo provocado pela direita, espantosamente de forma mais agressiva do que era feito pelos petistas. E agora tem o problema adicional dessa chateação se dar em meio a uma pandemia que não se sabe ainda exatamente como fazer nem o controle de danos.

Este vírus é uma incógnita, tanto na sua transmissão aos humanos como no comportamento nos diferentes organismos. A cada dia surgem mais hipóteses, sempre muito preocupantes, deixando as pessoas com mais medo, nessa condição absurda em que fomos envolvidos, em um mundo em que dá medo até tocar com a mão o corrimão de uma escada.

Na minha opinião, cabe sim ter a maior prevenção em relação ao vírus, sendo que neste caso já se tem vasta experiência de que o isolamento é que permite amenizar o trágico efeito da doença. Neste caso não dá para ter dúvida: países que não fizeram isso acabaram tendo péssimos resultados, com muita contaminação e mortes. Tudo bem, sei que pode haver divergências, mas o debate só será produtivo se for feito com equilíbrio, até pelo fato de que não é possível desconhecer que o país enfrenta um inimigo em comum: o coronavírus.

Já é grande demais a intranqüilidade causada pela doença para que tenhamos que suportar também esta beligerância insensata, colocada por bolsonaristas também sobre esta questão. Ora, em uma situação tão difícil no aspecto sanitário e econômico, ainda mais em um país que já vive há décadas em uma trágica desestruturação, evidentemente é melhor que seja aplicado o óbvio, que é a união para enfrentar objetivamente um problema com um terrível impacto atual e duras consequências que vão exigir muito trabalho por muitos anos à frente.

Creio também que como a contaminação e mortes já causam muito sofrimento entre nós, aqui no Brasil, é no mínimo razoável que se tenha compaixão com as vítimas e as pessoas que vivem diretamente nesta dramática situação. E esse comportamento de respeito humano não vem sendo observado entre os que apóiam a visão equivocada de Jair Bolsonaro, em seu conturbado governo.

Ao contrário, em ações espelhadas no comportamento lamentável do presidente, o que se tem é uma triste desumanidade que chega ao desrespeito pessoal, sem o sentimento de compreensão pelas perdas em vida e a condição terrível provocada mesmo entre os que se curam de uma doença que exige total isolamento dos pacientes e não permite nem rituais funerários.

União entre os brasileiros, senso de humanidade, compaixão, respeito pelo próximo em suas dores e nos temores sobre um risco invisível que não permite mais nem o abraço nos amigos ou o carinho nas pessoas que amamos. Será que é tão difícil ter um comportamento digno em meio a uma pandemia?

De virulência já basta a do próprio vírus. Ninguém precisa ser horrível como este insensato presidente. Esta é a receita para estes tempos difíceis. No enfrentamento deste colossal problema em um momento tão difícil para todos os brasileiros, creio que cabe ter em mente o poema emocionante de John Donne e ouvir o dobrar dos sinos pelos mortos sabendo que eles dobram por todos nós.
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POR José Pires

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