Sempre que leio por aí que o chamado núcleo militar do governo de Jair Bolsonaro vai enquadrá-lo para que a condução do país siga por um melhor caminho não posso deixar de rir, às vezes perguntando quando é que afinal se dará esta equilibrada mudança e se ainda existe tempo para isso, já que o mandato desse presidente inepto já vai quase pela metade.
Bolsonaro é um homem tão desqualificado que, perto dele, qualquer pessoa destoa pela qualidade, o que favorece até os militares pegos por ele para compor um governo que já pode ser visto como o pior que este país já teve. O título é pelo conjunto de obra, sabendo-se que com Bolsonaro tudo acaba piorando, de modo que é praticamente certo que ele usará sua capacidade de estragar tudo para tornar as coisas muito piores do que já estão.
Com um ex-capitão de qualidade tão lamentável, seus colegas da oficialidade da caserna passaram a ser vistos como sumidades dotadas de admirável equilíbrio e alta capacidade de resolução, ainda que parte desses generais que Bolsonaro levou para o lado dele estejam mais para sargento de anedota.
Bem, para ter a percepção de que isso está mais para habilidade em javanês, basta observar o estado lamentável deste governo, que deve ser o que mais teve militares em altos postos, com a óbvia exceção do período militar, ainda que tenha-se que admitir que mesmo naqueles tempos ditatoriais certos setores ficaram sob a responsabilidade de lideranças civis, como é o caso da economia, que agora no governo Bolsonaro virou um assunto de guerra.
Nesta quarta-feira tivemos outra intervenção militar — com o perdão da má palavra — pelo bem do governo de Bolsonaro, desta vez em terreno bastante impróprio, atingindo a credibilidade e o prestígio do ministro Paulo Guedes, com este plano que pretende turbinar a economia com orçamento estatal a partir de grandes obras, em uma ideia que já vem acertadamente sendo comparada com o PAC dos governos de Lula e Dilma Rousseff, que deram no que todo mundo sabe: só mais contas para pagar e ainda mais desestruturação espalhada pelo país.
Outra parecença dessa joça está na fixação positivista dos nossos militares de que basta planejamento e aplicação da técnica para resolver qualquer questão. Isso lembra os planos mágicos da ditadura militar, cujos maus resultados foram se acumulando, até o General Ernesto Geisel ter a sensatez de perceber que era hora da volta para a caserna.
Não é bem uma visão militar a mais apropriada para que as coisas se resolvam na política, ainda menos na área econômica, com menos chance ainda de dar certo aplicando-se modelos que poderão não ter razão de ser no mundo pós-coronavírus, que só vislumbraremos em parte quando puder ser compreendida a situação criada por este vírus e, claro, quando sua ação mortal e demolição de hábitos e valores em grande escala estiver de fato situada como algo anterior.
Já se fala que Paulo Guedes foi atropelado pelo general Walter Braga Netto, chefe da Casa Civil colocado por Bolsonaro no comando de um plano que seria da esfera do Ministério da Economia. A ideia já veio com marca publicitária, com o nome pomposo de “Pró-Brasil”, que até lembra aquele outro slogan verde-amarelo, o inesquecível "Pra frente, Brasil!".
O lançamento foi feito sem nenhum representante da Economia. De fato a avaliação certa é de atropelamento, com a desmoralização daquele que já foi chamado pelo próprio presidente, na sua visão filosófica fundamentada em propaganda de TV, como “Posto Ipiranga”. O canetaço de Bolsonaro, apontando no general Braga a solução para os problemas econômicos criados pelo coronavírus rasura bastante o currículo de Guedes.
Colocando o orgulhoso Paulo Guedes sob a tutela de seus militares, Bolsonaro demole um símbolo fundamental da ilusão da sua governabilidade, a do ministro que sabe tudo de economia, tendo toda capacidade de dar um rumo de sucesso ao Brasil. Guedes perdeu credibilidade de um modo que prejudica a condução da economia até no plano internacional e evidentemente desarranja de vez a compreensão sobre o que deseja de fato fazer este governo.
Ao ministro da Economia é imposto também o humilhante dilema de rebaixar-se para se manter no poder ou ter a dignidade de sair logo do governo, condição aliás muito comum para qualquer um da equipe de Bolsonaro.
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POR José Pires
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