Com o contágio pelo novo coronavírus no Brasil chegando a números muito altos e as mortes alcançando seu milhar, exatamente neste ponto começa a haver um relaxamento do isolamento social. Nesta sexta-feira o Brasil terá o milésimo morto pela pandemia, evidentemente com a mortantade continuando a seguir em passos largos. Nesta semana as mortes já estavam em mais de uma centena por dia. É óbvio que a tragédia instalou-se, do mesmo modo que é muito claro que o relaxamento do isolamento dará uma dimensão ainda maior ao que já é desesperador.
O crescimento do contágio vem se acelerando, assim como as mortes. As pessoas tinham que ser confrontadas com os números desse crescimento. Esta verificação demonstra como serão os próximos dias, mesmo sendo mantido o isolamento. Os números servem também para prever como estaremos dentro de três semanas, que é o período para o agravamento até a morte dos que forem contaminados durante este relaxamento.
No dia 20 de março o Brasil tinha 11 mortos pelo Covid-19, infectados estavam em 904. Por esses dias é que começou a divulgação dos números pelo Ministério da Saúde, que dia após dia foram crescendo. Ontem estava em 17.857 os casos confirmados. Agora estamos com 19.638 casos confirmados. O número de mortes também aumentou — nesta sexta-feira o país passou da milésima morte, com 1056 vítimas. Mais 115 mortes foram confirmadas nas últimas 24 horas, um aumento de 12%. Desculpem a piada, mas este abandono do isolamento soa como uma espécie de comemoração.
Nem é preciso teorizar sobre este perigo de sair do isolamento. Aí estão os números que mostram um crescimento constante, que permite projetar o quadro dramático que se desenha para um futuro bem próximo. Além disso, anteriormente tivemos meses para uma boa observação do que aconteceu em muitos países, desde que o vírus começou a matar na China. O vírus surgiu em dezembro de 2019 na cidade chinesa de Wuhan. O Brasil teve sua primeira vítima em 16 de março.
Primeiro na China e depois na Europa, tivemos nos outros países a observação prática de que a quarentena é o único recurso capaz de achatar a curva da contaminação para evitar o colapso do sistema sanitário. Isso foi inclusive reafirmado em Milão, depois que um relaxamento do isolamento em fevereiro causou um crescimento espantoso de mortes que até agora a Itália não conseguiu conter.
É simples assim, mas parece que mesmo sendo de tal simplicidade, a brutal realidade não entra na cabeça de parte dos brasileiros. Com um presidente desqualificado, como sempre na contramão do bom senso, este trabalho de convencimento fica ainda mais difícil. O discurso do “é só uma gripezinha” é criminoso e convincente porque acena para uma facilidade no tratamento de um grande problema. O que tem de melhor que enfrentar um vírus tomando batendo perna por aí? É disso que o brasileiro gosta.
Daí, vão-se arrumando subterfúgios para evitar encarar com seriedade o problema, que é, como todo mundo sabe, uma marca forte da nossa nacionalidade, junto com a ganância em se aproveitar dos recursos públicos. Espraia-se pelo país a capacidade engenhosa de enfrentar o novo coronavírus de forma diferente de como estão fazendo potências econômicas como França, Alemanha e tantos lugares em que os povos não têm a nossa manha, mas para ficar em apenas um exemplo, vou catar uma notícia que saiu hoje sobre a cidade paranaense de Ponta Grossa.
Um decreto municipal publicado nesta quinta-feira permite que restaurantes e lanchonetes recebam clientes a partir da próxima segunda-feira. Mas os pontagrossenses vão fazer isso seguindo regras científicas, com clientes respeitando a distância de um metro e meio nas mesas e filas para saldar a conta, que nós aqui no Brasil sabemos muito bem como enfrentar este vírus sem o alarde desnecessário que se vê na Europa e até nos Estados Unidos, em lugares como Nova York, que têm muito a aprender com Ponta Grossa e tantas outras cidades nossas, no jeitinho brasileiro de encarar o coronavírus.
Podia ser até o caso de cidades como Milão, Madri, Barcelona, Paris e até Nova York mandarem delegações para aprender no Brasil, talvez até em Ponta Grossa mesmo, como se dá essa solução mágica, mas isso com certeza terá que esperar um pouco. A embaixada da Alemanha já está pedindo que cidadãos que estejam no Brasil voltem o mais rapidamente possível para casa. O embaixador Georg Witschel fez o alerta em carta publicada nesta quinta-feira no site da embaixada.
No texto, o embaixador alemão fala da escalada de casos graves, da quantidade de mortes e afirma que teme o agravamento da situação. Ele diz ainda que os sistemas de saúde já estão sobrecarregados em alguns estados brasileiros. "É sua responsabilidade deixar o país agora e voltar para a Alemanha", escreveu Witschel. Pois é, parece que não tem jeito: esses estrangeiros são mesmos uns histéricos.
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POR José Pires
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