Quem conheceu muito bem Jair Bolsonaro foi o general Ernesto Geisel, penúltimo governante do ciclo da ditadura militar e articulador da saída dos militares do poder. O poder passou dele para o general João Batista Figueiredo, que de 1979 a março de 1985 deu os toques finais da retirada. Geisel governou de 1974 a 1978, morreu em setembro de 1996.
Bolsonaro aparece rapidamente em um relato de Geisel em um livro muito bom, escrito por Maria Celina D’araújo e Celso Castro. É uma longa entrevista com o general, muito bem feita, de edição tecnicamente primorosa, com o registro de um importante relato sobre o período militar, feito por uma liderança de grande peso em nossa história recente, um homem que, como eu disse, foi quem protagonizou do lado dos militares os lances essenciais para o país ter de volta sua democracia.
Geisel afirma textualmente que Bolsonaro era um “mau militar”. O general disse isso em julho de 1993, já afastado do poder. Estava no governo o presidente Itamar Franco. Portanto, já havia transcorrido o julgamento de Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Militar, sob a acusação de ter planejado explodir bombas em unidades da Vila Militar, da Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende, no interior do Rio de Janeiro e em vários quartéis. Bolsonaro relatou seu plano para a revista Veja, alegando que procurava chamar a atenção para os baixos salários dos militares.
Bolsonaro foi absolvido em junho de 1988 em sessão secreta do STM por 8 votos a 4, em julgamento onde prevaleceu o espírito de corpo para preservá-lo. Mas houve a exigência da sua saída do Exército, o que ele fez seis meses depois. No entanto, não foi este episódio grotesco (o plano terrorista tinha até um nome estranho: “Beco sem saída”) que fez Geisel falar de Bolsonaro durante o depoimento para o livro, produzido e publicado pela Fundação Getúlio Vargas.
O general cita Bolsonaro em um momento em que comenta sobre os apelos para que ele liderasse um golpe militar, vinda de gente que o procurava pedindo a volta da ditadura militar.
Já como deputado federal, Bolsonaro era uma dessas “vivandeiras batendo nos portões dos quartéis”, conforme o próprio Geisel classifica essa corja, lembrando que era dessa forma que o general Castelo Branco os chamava quando falava dos acontecimentos anteriores ao golpe de 1964.
“Vivandeiras”, o ex-presidente explica, eram as mulheres que acompanhavam o Exército na Guerra do Paraguai. Eram as lavadeiras que ficavam perto das tropas. Neste trecho, Geisel comenta sobre militares envolvidos com política, mas exclui Bolsonaro de imediato como representante militar, dizendo que ele “é um caso completamente fora do normal”, quando diz que ele “inclusive é um mau militar”.
Como eu disse no início, foi perfeita a avaliação de Bolsonaro feita por Geisel. Neste domingo, o capitão que teve que dar o fora do Exército mostrou que continua sendo uma “vivandeira”, ao levar seu bando de histéricos fanatizados para pedirem intervenção militar na porta do Quartel General do Exército, em Brasília.
Ele inclusive saudou o bando de golpistas agarrados desonrosamente à bandeira brasileira. Bolsonaro mostrou mais uma vez que mantém-se como “mau militar”. Promoveu a manifestação golpista exatamente no Dia do Exército, colocando os militares em uma situação vexatória inclusive internacionalmente, envolvendo a imagem das Forças Armadas com a ideia de um golpe contra a democracia em plena pandemia que vem matando centenas de brasileiros todos os dias.
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POR José Pires
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