quarta-feira, 5 de março de 2008

Será Obama o Lula lá deles?


Todo cuidado é pouco com as análises sobre as eleições primárias nos Estados Unidos. A direita norte-americana existe e é bem ativa. Não é como no Brasil, onde todo mundo é de centro. A direita de lá age com precisão e sem escrúpulo algum. Quem acompanhou a eleição em que Al Gore foi vergonhosamente roubado, sabe do que estou falando.

Nos Estados Unidos existem instituições fortes de direita − fundações, centros de pesquisas − que patrocinam estudos intelectuais que favorecem sua ideologia e distribuem dólares inclusive entre a intelectualidade brasileira. A mídia de direita é também bastante forte, com publicações que atendem ao gosto do povão, da classe-média e até de intelectuais.

O fato é que não é de hoje que a direita norte-americana trabalha de modo incessante a comunicação. Sempre ocupou com eficácia a mídia e, com o advento das novas tecnologias, instalou-se na internet com sites e blogs. E para embasar essa estratégia tem seus intelectuais assumidamente de direita, alguns até respeitados. Nas eleições, essa máquina de comunicação trabalha à toda força, internamente e pelo mundo afora, em favor do Partido Republicano.

Muito desses arsenal, na forma de artigos ou entrevistas, cai por aqui. Nossa mídia adora. Muitas vezes são materiais gratuitos, sendo também por isso muito bem acolhidos. Dono de jornal no Brasil não gosta muito de pagar por trabalho algum, muito menos o intelectual. Parece haver também maior simpatia com presidentes republicanos. Vide o caso Bush, um desastre até para os padrões do partido de Nixon, mas tratado como grande estadista pelos nossos jornais.

Essa falta de cuidado, por displicência ou cumplicidade, com a origem da notícia, acaba contribuindo bastante para a desinformação sobre o que se passa na política norte-americana. O que dá para perceber é que os republicanos estão gostando bastante do surgimento de Barack Obama e ainda mais de sua escalada rápida. Uma das razões é óbvia. Basta ver a desunião que pode surgir no Partido Democrata com as agressivas discussões públicas entre ele e Hillary Clinton. Boa parte dos insultos lançados entre os dois acaba atingindo o eleitor democrata, criando atritos internos que podem influir negativamente nas futuras eleições.

A outra razão é que fica cada vez mais evidente que o adversário preferido dos dirigentes republicanos é Barack Obama. Parece mais fácil atingir seus pontos vulneráveis que os de Hilary Clinton. Obama, por enquanto, funcionaria para os republicanos como Lula aqui no Brasil em suas três derrotas. O petista era o adversário que todos queriam.

Percebe-se que os republicanos querem o seu Lula. A acidez com que analistas e intelectuais pró-republicanos tratam Hillary é proporcional à boa vontade em relação à Obama. Esta estratégia vem desde o lançamento da sua candidatura, mas foi bem mais forte agora, no período anterior às prévias de Ohio e Texas, quando o tom do noticiário da imprensa brasileira já dava como perdida a corrida presidencial de Hillary. E não foi bem assim, como vimos.

Nossa imprensa caiu como um patinho no clima derrotista criado em boa parte por estes intelectuais e articulistas norte-americanos de que falei. E o pior é que os jornais publicam os artigos ou entrevistas e não se dão ao trabalho de informar ao leitor que não são uma fonte imparcial. Algumas vezes o autor é até colaborador ativo do Partido Republicano.
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POR José Pires

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