Chico Buarque aparece nos jornais em uma foto lendo Jorge Amado. Está confortável numa cadeira e olha de longe o livro, com jeito de quem precisa de óculos. O compositor tem tempo pra perder lendo − ou pior ainda, reler − o escritor baiano? Vai ler a obra completa? Olhe que é uma quantidade razoável: a editora Companhia das Letras pretende publicar 34 títulos.
É provável que Buarque saiba que está anunciando uma porcaria, mas pelo jeito o espírito do “partidão” ainda pesa bastante. O “partidão” é o falecido Partido Comunista Brasileiro, que durante muito tempo foi um fator de sucesso quase que garantido no jornalismo e na literatura. Era como um grande clube. Os sócios tinham todos os benefícios e elogios possíveis advindos da ação de seus pares.
Jorge Amado é um escritor menor, qualquer pessoa um pouco mais lida sabe disso. Ele jamais alcançou uma única vez aquilo que Henry James definiu muito bem como "o sopro divino , o elevado plano do melhor". Longe disso, o escritor baiano é ruim demais. E nem a mitomania baiana consegue resistir a isso. O próprio Caetano Veloso em entrevista para a Folha de S. Paulo neste domingo faz um esforço danado, aparentemente embaraçado, sem contudo conseguir elevar a imagem literária de seu conterrâneo, um escritor que chega a ser simplório, do tipo que não se lê sem uma sensação de constrangimento. Nisso, é páreo para Paulo Coelho. Seus personagens não têm nenhuma profundidade psicológica e seu estilo, se é que há estilo, é de um realismo basbaque. Vou citar um trecho. É de Mar Morto, que está na primeira leva da reedição. Não se constranjam.
“O mar é dono de todos eles. Do mar vem toda a alegria e toda a tristeza porque o mar é mistério que nem os marinheiros mais velhos entendem, que nem entendem aqueles antigos mestres de saveiros que não viajam mais, e, apenas, remendam velas e contam histórias. Quem já decifrou o mistério do mar? Do mar vem a música, vem o amor; vem a morte. E não é sobre o mar que a lua é mais bela? O mar é instável. Como ele é a vida dos homens dos saveiros.”
Alguém pode imaginar Chico Buarque − que era do “partidão”, mas não precisou de empurrão partidário para alavancar sua obra − um homem que sabidamente conhece literatura, levando algo assim a sério? E percebem a semelhança com Paulo Coelho? Pois é... Há muito tempo que o Brasil sofre disso.
Aliás, é Jorge Amado o símile mais perfeito de Paulo Coelho e não José Mauro de Vasconcelos, autor de Meu Pé de Laranja Lima, que sempre serve de comparativo em relação à popularidade e falta de qualidade da literatura do autor de O Alquimista. José Mauro de Vasconcelos também era bem ruim, porém não tinha a capacidade de auto-promoção de Paulo Coelho, o que Amado tinha bastante. Além de receber o valioso apoio da máquina política do PCB e dos comunistas internacionais para o crescimento de sua carreira.
Os países na esfera soviética e a própria União Soviética foram de grande valia para a recepção da obra de Jorge Amado no exterior. Nem preciso dizer que parte desses países sofreram a invasão dos russos e viviam sob uma cultura determinada pelo Partido Comunista local que, por sua vez, nada fazia sem o consentimento russo. Era uma nojeira moral. E Amado tinha uma relação de toma-lá-dá-cá, com bons ganhos, com este universo absurdo e totalitário. Ele recebeu o prêmio Stálin em 1951. O ditador soviético ainda era idolatrado na União Soviética, mas seus crimes já eram bastante conhecidos, inclusive no Brasil. Mas os dirigentes soviéticos ainda resistiam à verdade e seus partidos-satélites em vários países, inclusive aqui, cumpriam com a função de difamar quem denunciava o stalinismo.
A máquina do “partidão” era de duas mãos. Uma afagava, outra dava porrada. Favorecia os seus e desacreditava os não-simpatizantes. Os comunistas reclamam bastante da repressão, mas o fato é que mesmo debaixo de ditaduras como a de Getúlio Vargas ou a de 64 possuíam uma máquina imbatível para dar empregos ou favorecer seus artistas e escritores. E Jorge Amado ganhou muito com isso.
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POR José Pires
É provável que Buarque saiba que está anunciando uma porcaria, mas pelo jeito o espírito do “partidão” ainda pesa bastante. O “partidão” é o falecido Partido Comunista Brasileiro, que durante muito tempo foi um fator de sucesso quase que garantido no jornalismo e na literatura. Era como um grande clube. Os sócios tinham todos os benefícios e elogios possíveis advindos da ação de seus pares.
Jorge Amado é um escritor menor, qualquer pessoa um pouco mais lida sabe disso. Ele jamais alcançou uma única vez aquilo que Henry James definiu muito bem como "o sopro divino , o elevado plano do melhor". Longe disso, o escritor baiano é ruim demais. E nem a mitomania baiana consegue resistir a isso. O próprio Caetano Veloso em entrevista para a Folha de S. Paulo neste domingo faz um esforço danado, aparentemente embaraçado, sem contudo conseguir elevar a imagem literária de seu conterrâneo, um escritor que chega a ser simplório, do tipo que não se lê sem uma sensação de constrangimento. Nisso, é páreo para Paulo Coelho. Seus personagens não têm nenhuma profundidade psicológica e seu estilo, se é que há estilo, é de um realismo basbaque. Vou citar um trecho. É de Mar Morto, que está na primeira leva da reedição. Não se constranjam.
“O mar é dono de todos eles. Do mar vem toda a alegria e toda a tristeza porque o mar é mistério que nem os marinheiros mais velhos entendem, que nem entendem aqueles antigos mestres de saveiros que não viajam mais, e, apenas, remendam velas e contam histórias. Quem já decifrou o mistério do mar? Do mar vem a música, vem o amor; vem a morte. E não é sobre o mar que a lua é mais bela? O mar é instável. Como ele é a vida dos homens dos saveiros.”
Alguém pode imaginar Chico Buarque − que era do “partidão”, mas não precisou de empurrão partidário para alavancar sua obra − um homem que sabidamente conhece literatura, levando algo assim a sério? E percebem a semelhança com Paulo Coelho? Pois é... Há muito tempo que o Brasil sofre disso.
Aliás, é Jorge Amado o símile mais perfeito de Paulo Coelho e não José Mauro de Vasconcelos, autor de Meu Pé de Laranja Lima, que sempre serve de comparativo em relação à popularidade e falta de qualidade da literatura do autor de O Alquimista. José Mauro de Vasconcelos também era bem ruim, porém não tinha a capacidade de auto-promoção de Paulo Coelho, o que Amado tinha bastante. Além de receber o valioso apoio da máquina política do PCB e dos comunistas internacionais para o crescimento de sua carreira.
Os países na esfera soviética e a própria União Soviética foram de grande valia para a recepção da obra de Jorge Amado no exterior. Nem preciso dizer que parte desses países sofreram a invasão dos russos e viviam sob uma cultura determinada pelo Partido Comunista local que, por sua vez, nada fazia sem o consentimento russo. Era uma nojeira moral. E Amado tinha uma relação de toma-lá-dá-cá, com bons ganhos, com este universo absurdo e totalitário. Ele recebeu o prêmio Stálin em 1951. O ditador soviético ainda era idolatrado na União Soviética, mas seus crimes já eram bastante conhecidos, inclusive no Brasil. Mas os dirigentes soviéticos ainda resistiam à verdade e seus partidos-satélites em vários países, inclusive aqui, cumpriam com a função de difamar quem denunciava o stalinismo.
A máquina do “partidão” era de duas mãos. Uma afagava, outra dava porrada. Favorecia os seus e desacreditava os não-simpatizantes. Os comunistas reclamam bastante da repressão, mas o fato é que mesmo debaixo de ditaduras como a de Getúlio Vargas ou a de 64 possuíam uma máquina imbatível para dar empregos ou favorecer seus artistas e escritores. E Jorge Amado ganhou muito com isso.
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POR José Pires
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