segunda-feira, 26 de maio de 2008

Dinossauros em extinção, mais um se vai

Jefferson Péres ia abandonar a política assim que acabasse seu mandato, dentro de dois anos. Após mais de dez anos como senador ele não agüentava mais. “Não me acostumo com a classe política”, ele dizia em 26 de maio de 2007 ao site Congresso em Foco. Na ótima entrevista, Péres antecipa a absolvição do senador Renan Calheiros, na época respondendo a processo de cassação por falta de decoro.

Não era profecia dos céus, evidentemente. A revelação vinha da observação sensata das safadezas políticas de Brasília e do comportamento de seus colegas do Senado, onde, segundo ele, tudo se resolve “na base do conchavo”. Daí ele tirava a conclusão de que empurrariam a coisa com a barriga para no final absolver o senador alagoano, o que aconteceu de fato em setembro daquele mesmo ano.

Péres era um dinossauro político, desses que acreditam em ética. Seu partido, o PDT, que tem o ministério do Trabalho no governo Lula, indicou um nome para a Delegacia Regional do Trabalho e ele recusou. O senador era da opinião de que “o partido deveria ir [para o governo] para executar uma política pública predefinida, sem se preocupar com preenchimento de cargos”.

Na entrevista, ele faz uma análise perfeita sobre a deterioração moral da classe política, gente, para ele, “na média, muito ruim”. Numa parte em que o entrevistador faz uma pergunta que faria qualquer político desconversar, ele encara firme e sintetiza a razão dos parlamentares terem tanta sede por cargos. Uns apenas para acomodar os filhos, ele diz, outros com fins de corrupção. "São basicamente esses dois motivos. Um mais grave, outro menor, mas todos contrários ao interesse público".

E para agravar o problema, essa má qualidade dos políticos não teria da parte da população nenhuma contraposição mais firme. “O povo brasileiro, em geral, é muito ambíguo. Ele condena todos esses desmandos políticos, mas talvez fizesse o mesmo se estivesse lá”, ele disse, para em seguida narrar uma história que servia de exemplo para sua afirmação.

Veja, conforme suas próprias palavras, no site Congresso em Foco: “Recebo muitas pessoas que não conheço que chegam para dizer que admiram minha atuação, afirmam que sou honesto, mas aí me pedem um pequeno favor: “Olha, minha filha passou num concurso, ela ficou em 100º lugar. Será que o senhor não podia dar um jeito de ela ser chamada?”. Eu digo: olha, não posso ajudá-la, porque não posso fazer o que a senhora condena nos outros. Não é interessante isso?”

Para ler a entrevista na íntegra, clique aqui. É um interessante depoimento de uma espécie em extinção: o político honesto.
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POR José Pires

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