segunda-feira, 19 de maio de 2008

O leitor joga pedras

Os leitores desse blog não são de falar muito. Gostam do que escrevo, ou odeiam também, sei lá, bem calados. Recebo poucos comentários. Mesmo os que me odeiam − e são em bom número pelo que vejo aqui do pessoal de Brasília que aparece no controlador de entradas do blog − preferem mandar e-mails malcriados. A claque petista usa bastante o correio eletrônico quando sou um pouco mais rigoroso com o beócio que a precária democracia brasileira levou ao poder.

Mas dos poucos (e bons) comentários que os leitores postam neste blog, destaco um escrito agora há pouco. Coisa de uma hora atrás. É sobre o texto meu, nove posts abaixo, em que lembro que Caetano Veloso administra com mão-de-ferro a rígida pauta sobre os assuntos que busca editar para os jornais. E muitas vezes dá certo.
O comentário do leitor, apesar de curto, é uma boa opinião, o que é ponto para o Caetano Veloso. Afinal, o estímulo para o comentário foi a menção ao seu nome. Talvez eu esteja dando atenção para a caravana errada. Acho que vou latir mais para o Caetano.
Mas vamos ao comentário. Depois entro eu respondendo.

Anônimo disse

Que bobagem... Caetano ter ou não ter tido um caso com Torquato, como se isso fosse motivo para pôr fim à tropicália, é algo tão desimportante. Tomar isso como maledicência é que é uma tristeza e uma baixeza (por achar que isso é algo deplorável). Por outro lado, achei que o que Caetano falou sobre o caso Ronaldinho demonstra sua coerência ao tratar de assuntos que envolvem a sexualidade.
Enfim, os cães ladram e blablabla
19 de Maio de 2008 12:07


Não sou eu que digo, anônimo (por que não assinar uma consideração feita com tanta qualidade e que até anima o debate?). Foi Nana Caymmi quem disse. E o interessante é que Caetano Veloso fugiu da questão e até ficou bravo com a colega.

E a revelação da grande cantora é sim, muito importante, mesmo que ela aparentemente, pouco afeita a teorias no campo da arte, não tenha se apercebido da preciosa pérola que sua conhecida desinibição desencavou para a história da Tropicália.

Bem, e minha intenção com a nota, bem menos que discutir o Tropicalismo, era deixar claro que Caetano Veloso transita organizadamente em meio ao suposto clima de controvérsias criado em torno de suas declarações. Acho muito chato o Tropicalismo e muita coisa que veio dele. Além do que, é bastante superestimado. E nisso Caetano Veloso foi eficiente. O Tropicalismo tem mais papo que obra.

Mas cá entre nós, alguém pode discordar que muito mais importante que o escândalo de um jogador de futebol com travestis é o fato de que o fim do Tropicalismo se deve ao final de um caso sexual entre dois líderes do movimento? É isso que Nana Caymmi garante ter acontecido. Então por que o compositor não fala sobre isso também?

O fato de Caetano Veloso sequer aceitar discutir a revelação de Nana Caymmi, tem, sim senhor, ou sim senhora, sei lá, bastante importância. Primeiro, além de mostrar sua hipocrisia e incoerência, tira o véu do oportunismo que ele usa em entrevistas e em abordagens que julgo como auto-propaganda e nada mais.
Pelo menos em um acontecimento como a Tropicália. Um caso sexual entre dois homens pode até não ter influência decisiva ou interesse histórico algum se acontecer, por exemplo, na bancada parlamentar de algum partido. Já imaginou dois deputados do baixo clero entre os lençóis? Além do mau gosto, o que há para comentar? Nada, pois no estudo dos partidos políticos há muito tempo que a relação cultural ou de costumes deixou de ter alguma importância. O negócio deles é só grana. E ponto. E é na Polícia Federal e não na Delegacia de Costumes que se examina a política hoje.

Mas sexo, e ainda mais entre dois homens, é muito importante em um movimento cultural que pretendia demolir as estruturas política e sociais − ou ao menos menos abalar um pouco e mexer com o comportamento das pessoas em país como o Brasil que, na época, era bem travadinho. Ora, se o fim de caso entre dois machos calientes e líderes do Tropicalismo não é importante para a análise do movimento, o que é importante? Os Mutantes?
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POR José Pires

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