quinta-feira, 14 de maio de 2009

Cassação exemplar

Pode estar nascendo no Paraná uma prática para trazer um reforço importante na luta pela ética na política brasileira. O deputado estadual Fernando Ribas Carli Filho (PSB)deve ter seu mandato cassado. E a forma pela qual se deve dar a cassação pode abrir os olhos da população sobre a urgência da necessidade de levar ao Legislativo, ao Executivo a até ao Judiciário queixas sobre procedimentos públicos dos políticos, inclusive fora do exercício de seus mandatos.

Há cerca de uma semana, Carli Filho causou um acidente que matou dois jovens em uma esquina da capital paranaense. O carro do deputado bateu em alta velocidade em outro carro onde estavam Gilmar Rafael Souza Yared, de 26 anos e Carlos Murilo de Almeida, de 20 anos. Os dois morreram na hora.

O político, de apenas 26 anos, é um desses deputados com a eleição impulsionada pela atuação poderosa de familiares na política. Ele é deputado da base de apoio do governo Requião. Seu pai,Fernando Ribas Carli, foi deputado em vários mandatos e atualmente é prefeito de Guarapuava pelo PP. E seu tio, o deputado Plauto Miró, é da liderança do DEM.

De Carli dirigia com a habilitação suspensa e tinha 30 multas, 23 por excesso de velocidade, seis delas a menos de dois quilômetros do local da batida. Três multas são gravíssimas, com o excesso de velocidade em mais de 50% da velocidade permitida. Apenas uma dessas determina de forma automática a suspensão da carteira de motorista.

Calma, ainda não acabou. Testemunhas disseram que havia um terceiro carro participando de um racha com o deputado. O relatório do Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência (Siate) traz a informação de que o deputado apresentava “hálito etílico”.

Sobre o estado de alcoolismo do Deputado, há também o relato da Rádio CBN Curitiba. Testemunhas disseram à rádio que, na noite do acidente, viram Carli Filho se recusando a ir para casa de carona depois de beber com amigos. Ele chegou a discutir com os familiares e teria caído na calçada.

Após estas cenas aconteceu o desastre que matou os dois jovens. O deputado, que não corre risco de morte, está sendo tratado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde recebe os cuidados de uma equipe médica especializada em reconstrução crânio-facial de “renome internacional”.

No atendimento ao acidente, a Delegacia de Delitos de Trânsito de Curitiba teve várias atitudes consideradas suspeitas, entre elas a de não pedir imediatamente o exame de dosagem alcoólica do deputado. Entretanto, depois da grande repercussão causada pela morte dos dois jovens a polícia aparentemente ficou mais atenta quanto à supostas negligências técnicas.

Ontem o advogado da família de Gilmar Yared, protocolou junto à Assembléia Legislativa do Paraná um pedido de abertura de processo de perda de mandato do deputado Carli Filho.

Com o drama que envolve o pedido de cassação do deputado, dificilmente seus colegas cederão à tentação corporativista de salvá-lo. Com a cassação, a sociedade civil terá aberta mais uma via para a punição das barbaridades que os nossos políticos tem feito em tudo quanto é setor da vida brasileira. É tamanha a falta de vergonha que até a ética já se torna um conceito que não se aplica mais. Tanta bandalheira está abaixo de qualquer filosofia.

A ficha de crimes contra as leis de trânsito que o deputado Carli Filho tinha antes do acidente já seria, na minha visão, motivo suficiente para que seu mandato fosse cassado. Um deputado que tem a carteira de habilitação cassada pode continuar exercendo o mandato? Eu penso que não.

E poderia também ter sido este freio um elemento que pudesse levar o deputado a refletir sobre os absurdos que vinha cometendo. Ora, se a lei não define limites com firmeza é difícil acreditar que todos os cidadãos, e menos ainda alguém com forte proteção política, passem a agir com equilíbrio e respeito ao próximo.

O ideal seria a criação de uma linha de transmissão automática entre os crimes de um deputado na vida pessoal ou pública e sua cassação. Uma habilitação cassada exige alguma discussão e a criação de intermináveis processos internos no Legislativo? Também penso que não. É no mínimo imoral que uma pessoa que não respeita a legislação básica do país seja responsável pela defesa e a criação de novas leis.

A cassação do deputado Fernando Ribas Carli Filho, que deve acontecer mesmo tendo o Paraná uma das piores assembléias legislativas de todo o país, pode dar início a um processo de coibição aos abusos dos políticos.

Seria um ótimo passo. E esta tragédia mostra que é um caminho até para evitar mortes.
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POR José Pires

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu vou torcer muito pra que a cassação aconteça, mas , no Brasil, as chances são minimas...é lamentável.