sexta-feira, 29 de maio de 2009

Depois da ética o que vem mais?

Os políticos brasileiros já conseguiram deformar a ética de tal modo que hoje em dia é preciso tomar um cuidado especial na educação dos filhos, de modo que eles sejam honestos, mas que também não venham a fazer papel de trouxa quando estiverem na nossa idade. Quase ia escrevendo fazer papel de trouxas como nós, mas não é que é mesmo? Até podia ser escrito assim.

Pois quem cumpre a lei hoje no Brasil está sempre perdendo, já que tem sempre os que não cumprem — alguns com muito dinheiro por detrás e até pistolão. E esses que não cumprem acabam sempre impunes. Ou recebem uma bela anistia fiscal ou outro tipo de perdão mais à frente.

Os governos vivem fazendo isso com quem não pagou os impostos e até com aqueles que não pagam empréstimos em bancos estatais. Desse jeito como é que fica quem pagou os impostos e saldou o empréstimo. Bem, o próprio Lula, com sua fineza peculiar, já disse: esses sífu. E os que não pagam aumentam sua fazendas e compram mansões novas.

Tem também os políticos que fazem suas campanhas com caixa dois. E até o caixa dois do caixa dois. E esses ainda vem dizer depois que não há regulamentação sobre o tema. Onde não há? Então quer dizer que pode-se fazer caixa dois quem quiser? Claro que não. Mas a justificativa pegou.

E, no mais, eles dizem que todo mundo faz. É outra mentira. Nem todos fazem. E mesmo no PT. Até mesmo empurrados pela evidente realidade financeira de que não há grana de caixa dois para todos, mas muitos não estão no jogo é por honestidade mesmo.

Mas o que ocorre com esses candidatos que seguem a lei? O problema é que ficam para trás, sem se eleger e sem ocupar cargos definidores no partido, pois as direções partidárias já definiram que com ética não se vai pra frente na política.

Bem, mas se já deformaram a ética, os políticos logo também conseguirão desmoralizar o sentimento de compaixão.

Uma notícia de hoje sobre o destino de mais de uma centena de toneladas das doações às vítimas das enchentes do ano passado em Itajaí, Florianópolis, mostra que eles já estão começando a criar as condições para que os brasileiros endureçam os corações nas próximas tragédias.

125 toneladas em nove contêineres cheios de donativos que não foram distribuídos aos necessitados estão se perdendo. Pilhas de roupas, sapatos e outros artigos de uso cotidiano foram acabaram sendo destruídas.

70 toneladas de artigos vão para o lixo porque acabaram deterioradas por causa do mau armazenamento. Segundo o que contam, doações foram jogadas diretamente na terra e tomaram sol e chuva.

É óbvio que o toma-que-o-filho-é-teu já começou. O prefeito atual culpa a gestão anterior, do prefeito Volvei Morastoni (PT), pelo mau armazenamento. Faz sentido, já que a tragédia ocorreu no ano passado e os prefeitos só tomaram posse em janeiro. Mas prefiro ver o caso como uma questão conceitual da política como um todo nestes tempos que estamos atravessando.

E, também, nada indica que com outro prefeito a situação seria diferente. Deixar 70 toneladas de donativos serem destruídas, para mim, já não é questão deste ou daquele prefeito, mas uma condição política que envolve toda a sociedade. É bastante parecido com corrupção. O corrupto só prevalece se a sociedade é conivente, ou pior, cúmplice.

Mas o exemplo de Itajaí mostra que, se não for brecada, esta política que estão fazendo aí ainda vai acabar até com a compaixão.
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POR José Pires

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