sábado, 5 de setembro de 2009

O blog do Planalto que não é blog, seu clone e outros blogs

O chamado Blog do Planalto ganhou um clone. Este, vamos começar a aspar, "blog" oficial é feito pelo setor de comunicação do Palácio do Planalto. É coisa do ministro Franklin Martins. Na época da Ditadura Militar, quando alguma coisa ia bem na resistência democrática ao regime eles se infiltravam para atrapalhar ou faziam alguma porra-louquice que criava justificativa para um endurecimento político do regime. Era um jeito de ocupar espaço, como eles diziam. Agora eles fazem blog.

O material é produzido por uma equipe profissional. Ou seja, é mais gente da blogosfera petista sendo paga por você, contribuinte. O "Blog", que de blog nada tem, sendo mais um mero repositório de informações do interesse do governo Lula, estreou há alguns dias sob críticas: as mais contundentes, por incrível que pareça, é a de que o dito “blog” não tem espaço para comentários. Os descontentes embasaram suas críticas inclusive neste argumento, como se o fato de ter ou não comentários é que defina tecnicamente um blog.

E não é. O blog do Janer Cristaldo, por exemplo, é fechado para comentários. E nem por isso deixar de ser um blog e, melhor ainda, um dos mais bem escritos de toda a internet. Cristaldo não aceita comentários. Porém, seus leitores enviam mensagens eletrônicas que ele costuma publicar no meio das notas.

Em muitos casos, aliás, a seção de comentários de muitos blogs é um terreno onde aparece apenas a turma da casa. Gente de fora mas que é do ramo, como eu, de vez em quando dá uma sapeada, mas aí é uma questão de dever. E sem receber adicional pela tarefa insalubre. Vocês não sabem o que é passar alguns minutos no blog do Luís Nassif ou do Ricardo Kotscho para investigar qual é a linha política ditada por chefões lá de cima para tigrada governista da internet. E tem outros também que exigem esta visita. A labuta é árdua.

Mas vocês merecem. Alguém tem que ver como as coisas estão na blogosfera petista. E estão mal. Blogs com cerca de 100 comentários, por exemplo, são de 20 ou 30 autores, chapinhas da casa, que comentam sempre como o blogueiro está do lado certo. Alguns comentários parecem até ter sido escritos pelo próprio blogueiro. E em muitos casos eles conversam entre si na área dos comentários. Até sobre assuntos que nada tem a ver com a nota.

Tirando o atrapalho dessa puxação militante, mesmo que os comentários fossem inteligentes e providos de importantes informações, dá para encarar mais de cem comentários apenas em uma nota? Bem, só se você arrumar um sócio que faça tudo, inclusive depositar seu pagamento no final do mês, e uma governanta ou mordomo que cuide da sua vida profissional e familiar e ainda saia para comprar os livros do seu gosto. Ah, sim, a governanta, ou o mordomo, teria também que sair periodicamente para jantar fora e pegar um cineminha com sua mulher (ou marido, namorada, namorado, e sei lá mais o quê, porque hoje tem de tudo). Ir pra cama depois é coisa que fica para eles resolverem.

Ou então, e aí é mais fácil, para fazer isso você pode ter caindo na sua conta mensalmente uma grana pública, oficial ou não, como paga deste tempo perdido. Este é um mercado em crescimento nos últimos seis anos. Tem gente que só faz isso. É a claque militante. E, pelo jeito, ganham bem.

Mas, voltando à falta de espaço para comentários no, vá lá, Blog do Planalto... Não é esta questão que o desqualifica. Existem muitos outros espaços na internet que são tidos como blog e, na verdade, deveriam ser encaixados em outra definição. Alguns são até bem populares, como o Blog do Noblat, por exemplo, que de blog só tem o nome. É aberto para comentários, mas não é blog.

Ora, a característica essencial de um blog é o aspecto autoral. Fazer clipping e inserir uma nota ou outra entre as notícias de outros veículos não faz de um espaço na internet um blog. A página pode ser até boa, com credibilidade, mas é quase um site. E blog não é de maneira alguma.

Claro que comentários são importantes. Bem sei eu disso, com tão poucos por aqui — comentários de qualidade, é claro, porque os anônimos que chegam com aquele veneno com jeito petista, ah, estes temos que eliminar. O comentário pode ser uma interação proveitosa entre o leitor e o blogueiro e, como o formato permite, um comentário ou outro pode até ser transformado numa nota, como faço de vez em quando aqui.

Isso quando o blog não é tomado por comentaristas militantes, que escrevem mais como uma ação militante pelo partido ou pelo governo. Infelizmente tomaram a blogosfera. Aqui costuma aparecer uns desses. Não dá pra publicar. Não pelas críticas, mas é que insulto anônimo tem que entrar por um ouvido e sair pelo outro

Mas o clone do “blog” inventado pelo Franklin Martins está no ar. Claro que foi uma boa idéia. É uma excelente metalinguagem política. Os autores da clonagem aplicaram na prática e de forma inteligente a independência própria da internet. Até a pretensão de Lula ter um blog acabou sendo escrachada de vez. É evidente que publica-se o mesmo material que sai no “blog” feito no Palácio do Planalto. A diferença qualitativa é a abertura para os comentários.

O problema é que o “blog” produzido pelo Planalto é malfeito. Traz um texto bem oficialesco, parecendo recortado diretamente da agência de notícias do governo Lula. Claro que isso deve prejudicar o clone, caso seus autores fiquem só nisso. Mas, como é novidade, vale a pena conferir. Corra pra lá, clicando aqui.
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POR José Pires

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