terça-feira, 15 de setembro de 2009

O PIB da jogatina

Ainda sobre o significado do Produto Interno Bruto, o danado do PIB, temos mais uma notícia que mostra que nem sempre dinheiro em caixa traz um bom saldo social. Mais que isso, certo tipo de desenvolvimento acaba sempre em dívidas para o futuro, um custo sempre mais pesado que o lucro imediato.

Vamos aumentar o PIB? O Congresso Nacional está aprontando um novo incremento. Alguns deputados resolveram desengavetar o projeto que libera máquinas caça-níqueis, videopôquer, videobingo e cassinos. O projeto já está na Comissão de Justiça e ali deve passar fácil.

É claro que um projeto desses nada mais é que facilitar os negócios do crime organizado. Mas para facilitar o trâmite do monstrengo, o relator do projeto, deputado Régis Oliveira (PSC-SP), deu um boa incrementada no texto, usando até dados cedidos pela Força Sindical, do deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, por sinal um deputado que está sempre encrencado com suspeitas de participação em negócios ilícitos.

Baseado em números da Força Sindical, o relator anda falando à imprensa que a proibição do funcionamento das casas de jogos resultou no fechamento de 320 mil postos de trabalho.

Bem, a prisão de Al Capone também deve ter tirado o emprego de muita gente em Chicago. Mas vamos ajudar o deputado-relator da liberação geral da jogatina. Então, com a liberação, de pronto já teremos 320 mil posto de trabalho.

Mas serão muito mais empregos e também bastante atividade industrial, pois alguém terá que construir as máquinas para os jogos e todo o mobiliário desses cassinos e casas de jogos. E haverá com certeza uma boa animação no mercado imobiliário. Também a atividade publicitária deve ser incluída, até com com uma estimulada na mídia, que anda implorando anúncios. E é claro que, por extensão, haverá um estímulo financeiro geral no comércio e na indústria, pois quem trabalha com jogo compra carros, roupas, televisão e até computador.

E nem vou falar de toda atividade ilícita em torno da indústria do jogo, um trabalho sempre encoberto, mas que no final não deixa de ser também atividade econômica que vai bater no PIB. Afinal, dinheiro sujo se lava em casa.

Conforme já avalizou a Força Sindical, o jogo é um incremento na economia. De início será uma euforia. O custo final, porém, evidentemente será muito mais alto que os ganhos imediatos. Pode colocar o dobro, ou até mais, do custo social dessa liberação.

O lucro do jogo para o Brasil é mais ou menos como o da bebida alcoólica, não à tôa dois vícios terríveis e que costumam andar juntos. E ambos também com bons lobbies na política.

Vamos à saideira. Tenho aqui dados de 2003, mas a situação deve ter piorado, pois bebe-se cada vez mais no Brasil. Estimava-se então que a indústria do álcool movimentava 3,5% do PIB. Mas o pais gastava 7,3% para tratar dos problemas resultantes da bebida. Sem contar a ressaca.

Mas de imediato o que conta é a lorota do PIB. Para isso, até a indústria criminosa do jogo é bem vinda. Pode colocar junto com a soja, o gado, os minérios que estão se esgotando. Depois de 2010 a gente pensa na conta.
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POR José Pires

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