Já devem ter passado ao presidente Lula um resumo da entrevista do presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, ao jornal El País. Acredito que pelo menos um resumo o presidente ágrafo e inzoneiro deve ler — ou alguém lê para ele. É o mínimo exigido para ficar inteirado sobre a opinião de gente do ramo sobre o que ele chamou de “marolinha”. E os jornalistas até podem perguntar sobre o assunto.
Zoellick desmancha a tese de Lula de que o perigo já passou. Sei que a tese é advinda do estilo de governo, sempre em campanha eleitoral e que, por isso mesmo, se ocupa sempre mais da forma do discurso que da substância. Mas um pouco mais de responsabilidade seria possível? Faria bem.
Zoellick começa repisando um alerta sobre o risco de uma grave crise social mundial. É o óbvio, mas os jornais e a internet brasileira se fixaram nisso. Não vi em nenhum site da internet a informação mais quente vinda do presidente do Banco Mundial. O banco que ele preside é que tem a responsabilidade mundial de se ocupar de programas sanitários, segurança alimentar, produção agrícola e investimento em infraestruturas. Pois Zolelick é franco em dizer que “não há suficiente dinheiro público para enfrentar todos os problemas”.
Bem, antes da crise o mundo já vinha mal em todos os pontos de responsabilidade do Banco Mundial. Com este novo problema, aumenta a penúria em que já vivia a África e países pobres em outros continentes. Junte a isso as graves consequências do impacto ambiental global criado exatamente por este modelo econômico quebrado e teremos uma conta sem fechar.
Os economistas lembram bastante da depressão de 30 quando falam desta crise atual, mas sempre é deixado de lado um fator diferencial danado de importante entre o que se ocorre hoje e o que foi o passado. Ao contrário de antes, agora não se pode contar com os recursos naturais do planeta como um reforço substancial para fazer capital. Ao contrário, o meio ambiente é que exige dinheiro para seu conserto.
Em relação a duas perguntas muito claras do El País, se há dinheiro suficiente e de quanto o Banco necessita, é que Zoellick toca na falta de dinheiro público. Quanto à segunda questão, ele diz que “depende de quanto dure a crise”, outra obviedade, mas que traz embutida o fato de que o presidente do grande banco de fomento não saber onde isso vai dar.
Esta questão da finitude dos fundos públicos, aliás, é uma discussão que a imprensa brasileira tem evitado. Mas é bem quente na Europa e nos Estados Unidos. Não são poucos os especialistas que temem um colapso nos cofres públicos europeus. Claro, não há um saco sem fundo de onde tirar dinheiro para salvar empresas e bancos e resgatar investimentos que foram corroídos na crise. A iniciativa privada quebra, mas países também. E se isso ocorrer em bloco?
Outra informação que pode ser extraída da entrevista é que esta crise tem um viés que podemos definir como “sartreano”. A exemplo do que diz o filósofo existencialista Jean-Paul Sarte, também na crise econômica o inferno são os outros. Não adianta ficar por aqui com bravata eleitoral, como faz Lula, falando da suposta vitalidade da economia brasileira. Se os outros vão mal, com Europa e EUA mal das pernas economicamente, de onde vira á dinheiro?
Bem, do Marcos Valério é que não é. A FIESP já prevê queda de 35% nas exportações para este ano. Até ministros de seu governo são obrigados a comentar sobre problemas que parecem antecipar uma avalanche séria na economia brasileira. Será que Lula ouvirá os avisos ou vai deixar o problema para depois do ano eleitoral? Quem cravar a segunda resposta tem a maior chance de acertar.
Zoellick está em Madri para falar com o presidente José Luis Rodriguez Zapatero e parece que os fundos do Banco Mundial são um ponto da discussão com o espanhol. Conforme ele diz, no momento está trabalhando para assegurar que os países mais ricos não recuem em suas políticas de ajuda ao desenvolvimento dos mais pobres. A Espanha sofre “uma forte desaceleração econômica”, ele diz, mas o país ainda tenta manter sua ajuda. Banqueiro precisando de dinheiro é algo preocupante, mas o Banco Mundial nessa situação, aí já é de arrepiar os cabelos. E a barba, para que tem.
É na penúria global de capital para investimentos que entra o Brasil. E o nosso país surgiu na conversa com Zoellick sem que o entrevistador tenha nos citado. Foi o presidente do Banco Mundial que falou do Brasil como um país ameaçado de não ter acesso a investimentos externos. Foi o que ele disse, sem que o jornalista tenha antes dele tocado no nome do Brasil.
Esse é um tipo de assunto em que seria um alívio estar de fora. Mas se o Brasil é citado assim, de forma espontânea, aí o aviso é bem significativo. Mas fariam bem os assessores de Lula se fizessem chegar a ele (junto a um sal de frutas) outro aviso de Zoellick. O de que com este panorama ninguém, e esse “ninguém” é palavra dele, pois “ninguém” sabe com certeza o que acontecerá. “O melhor é estar preparado para qualquer imprevisto”, ele diz.
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POR José Pires
Zoellick desmancha a tese de Lula de que o perigo já passou. Sei que a tese é advinda do estilo de governo, sempre em campanha eleitoral e que, por isso mesmo, se ocupa sempre mais da forma do discurso que da substância. Mas um pouco mais de responsabilidade seria possível? Faria bem.
Zoellick começa repisando um alerta sobre o risco de uma grave crise social mundial. É o óbvio, mas os jornais e a internet brasileira se fixaram nisso. Não vi em nenhum site da internet a informação mais quente vinda do presidente do Banco Mundial. O banco que ele preside é que tem a responsabilidade mundial de se ocupar de programas sanitários, segurança alimentar, produção agrícola e investimento em infraestruturas. Pois Zolelick é franco em dizer que “não há suficiente dinheiro público para enfrentar todos os problemas”.
Bem, antes da crise o mundo já vinha mal em todos os pontos de responsabilidade do Banco Mundial. Com este novo problema, aumenta a penúria em que já vivia a África e países pobres em outros continentes. Junte a isso as graves consequências do impacto ambiental global criado exatamente por este modelo econômico quebrado e teremos uma conta sem fechar.
Os economistas lembram bastante da depressão de 30 quando falam desta crise atual, mas sempre é deixado de lado um fator diferencial danado de importante entre o que se ocorre hoje e o que foi o passado. Ao contrário de antes, agora não se pode contar com os recursos naturais do planeta como um reforço substancial para fazer capital. Ao contrário, o meio ambiente é que exige dinheiro para seu conserto.
Em relação a duas perguntas muito claras do El País, se há dinheiro suficiente e de quanto o Banco necessita, é que Zoellick toca na falta de dinheiro público. Quanto à segunda questão, ele diz que “depende de quanto dure a crise”, outra obviedade, mas que traz embutida o fato de que o presidente do grande banco de fomento não saber onde isso vai dar.
Esta questão da finitude dos fundos públicos, aliás, é uma discussão que a imprensa brasileira tem evitado. Mas é bem quente na Europa e nos Estados Unidos. Não são poucos os especialistas que temem um colapso nos cofres públicos europeus. Claro, não há um saco sem fundo de onde tirar dinheiro para salvar empresas e bancos e resgatar investimentos que foram corroídos na crise. A iniciativa privada quebra, mas países também. E se isso ocorrer em bloco?
Outra informação que pode ser extraída da entrevista é que esta crise tem um viés que podemos definir como “sartreano”. A exemplo do que diz o filósofo existencialista Jean-Paul Sarte, também na crise econômica o inferno são os outros. Não adianta ficar por aqui com bravata eleitoral, como faz Lula, falando da suposta vitalidade da economia brasileira. Se os outros vão mal, com Europa e EUA mal das pernas economicamente, de onde vira á dinheiro?
Bem, do Marcos Valério é que não é. A FIESP já prevê queda de 35% nas exportações para este ano. Até ministros de seu governo são obrigados a comentar sobre problemas que parecem antecipar uma avalanche séria na economia brasileira. Será que Lula ouvirá os avisos ou vai deixar o problema para depois do ano eleitoral? Quem cravar a segunda resposta tem a maior chance de acertar.
Zoellick está em Madri para falar com o presidente José Luis Rodriguez Zapatero e parece que os fundos do Banco Mundial são um ponto da discussão com o espanhol. Conforme ele diz, no momento está trabalhando para assegurar que os países mais ricos não recuem em suas políticas de ajuda ao desenvolvimento dos mais pobres. A Espanha sofre “uma forte desaceleração econômica”, ele diz, mas o país ainda tenta manter sua ajuda. Banqueiro precisando de dinheiro é algo preocupante, mas o Banco Mundial nessa situação, aí já é de arrepiar os cabelos. E a barba, para que tem.
É na penúria global de capital para investimentos que entra o Brasil. E o nosso país surgiu na conversa com Zoellick sem que o entrevistador tenha nos citado. Foi o presidente do Banco Mundial que falou do Brasil como um país ameaçado de não ter acesso a investimentos externos. Foi o que ele disse, sem que o jornalista tenha antes dele tocado no nome do Brasil.
Esse é um tipo de assunto em que seria um alívio estar de fora. Mas se o Brasil é citado assim, de forma espontânea, aí o aviso é bem significativo. Mas fariam bem os assessores de Lula se fizessem chegar a ele (junto a um sal de frutas) outro aviso de Zoellick. O de que com este panorama ninguém, e esse “ninguém” é palavra dele, pois “ninguém” sabe com certeza o que acontecerá. “O melhor é estar preparado para qualquer imprevisto”, ele diz.
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POR José Pires
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