sexta-feira, 1 de maio de 2009

A lei atrapalha

O presidente Lula não poderia ser mais explícito sobre sua posição no embate que se trava no país entre corrupção e ética. Vejam o que ele disse ontem a jornalistas sobre as denúncias de abusos no uso de passagens aéreas: “Qual novidade vocês descobriram nisso? Isso é feito desde a criação do Congresso Nacional.”

Em seus discursos, Lula costuma falar como se o assunto surgisse de forma espontânea. É um estilo. Mas é óbvio que o ataque às notícias sobre desvios éticos é uma obra programada de seu governo. Ontem, durante a inauguração de um laboratório na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ele já havia investido contra a fiscalização sobre uso de recursos públicos.

Para ele existe um excesso de regras e de fiscalização sobre o uso de recursos públicos no Brasil. E na defesa deste absurdo raciocínio, o presidente inzoneiro ainda fez uma analogia com a construção de Brasília: “Juscelino Kubitschek, se fosse eleito presidente hoje, não existisse Brasília e ele quisesse fazer Brasília hoje, ele ia terminar o mandato dele sem conseguir licença para fazer a pista para descer o aviãozinho dele para começar a estudar o Planalto Central.”

Para Lula, as leis atrapalham. E aí temos que dar razão a ele. Atrapalham mesmo, já que foram criadas exatamente para isso. O estelionato e o tráfico de drogas, por exemplo, tem sérias dificuldades com as leis. É mesmo um atrapalho.

Juscelino Kubitscheck é que entrou atravessado nessa história. O ex-presidente é uma obsessão de todo governante brasileiro. Mas Lula é o mais fissurado nele. O interessante é que ele no início tentou colar sua imagem em JK visando o perfil dinâmico do ex-presidente. Não deu certo. Agora parece que pensam em usar o presidente mais popular da nossa história para mascarar más intenções.

O uso inadequado de JK para tentar dar fundamento para o que, na essência, indica nada mais que o desejo de burlar a lei, também peca pela falta de veracidade histórica. O exemplo teria de ser com outra figura histórica, bem mais adequada ao que anda ocorrendo: Adhemar de Barros, o político do rouba mas faz. Mas exemplos não faltam. No plano da história internacional pode ser avocado também o Al Capone. Para não gostar de leis, ele era o cara.
.......................
POR José Pires

Nenhum comentário: