O que mais me chocou no assassinato de Celso Daniel não foi o amplo espectro de corrupção que se gestava ali e que acabou tomando conta de fato do governo Lula. O Ministério Público diz que no esquema de Santo André estavam as pegadas iniciais do mensalão e isso fica evidente já que, ao que parece, Celso Daniel não condenava a propina, mas apenas o direcionamento para os bolsos dos envolvidos. Sua morte teria sido causada exatamente porque ele queria que o uso fosse exclusivamente do partido.
Esta corrupção política não me surpreende. Conheço essa turma muito tempo antes do Lula botar os pés enlameados no Palácio do Planalto e também tenho um metro bem diferente para a análise da política.
Estão falando bastante de “metro” hoje em dia, expressão que voltou por conta de seu uso em debates políticos, então me deixem falar do meu metro.
É no indivíduo que está a chave para a compreensão dos acontecimentos. Por mais influência que a História tenha sobre os rumos do mundo, até para entender o processo histórico é preciso ter os olhos atentos ao sentimento humano, a capacidade individual de transformar ou de fazer retroceder. Para entender um caso como este da morte brutal de Celso Daniel é só observar bem as reações humanas. Cada indivíduo se revela em sua atitudes quando ao caso. Até os que só agem nos bastidores.
Logo que foi descoberto o cadáver do prefeito o PT, tendo Lula à frente, criou uma comoção nacional denunciando uma conspiração direitista, — palavras do próprio Lula na época — que estaria planejando matar petistas. Celso Daniel seria só um desses mortos. Até o então presidente Fernando Henrique Cardoso teve que intervir prometendo proteção ao PT e uma ampla investigação para deter a conspiração denunciada por Lula.
Porém, poucos dias depois do enterro de Celso Daniel, os petistas mudaram de opinião e passaram a insistir na tese do crime comum. A “conspiração direitista” foi esquecida. Nem o Lula, que no enterro de Daniel falou até em Che Guevara, se manifestou mais sobre o crime. E vejo que até a imprensa não se lembra desse alvoroço criado por Lula e o PT. Depois, numa mudança abrupta, todos os figurões do partido passaram a agir para abafar o caso.
Mas não eram todos amigos de Celso Daniel? E aí é que a medida humana faz ver as verdadeiras intenções de pessoas que abandonam de imediato um caso em que alguém tão próximo foi morto de forma tão cruel. Não tem como não suspeitar. Qual é a pessoa que tendo um amigo assassinado dessa forma (Daniel foi barbaramente torturado antes de levar um tiro à queima-roupa no rosto) não lutaria de todas as formas para esclarecer tudo?
É o que os irmãos de Celso Daniel vêm fazendo. E os petistas amigos do prefeito morto fazem o contrário. Deixando a questão política de lado e nos concentrando no aspecto humano deste drama, de um amigo sendo torturado barbaramente e depois morto, a situação de quem tenta impedir o esclarecimento do caso é muito suspeita.
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POR José Pires
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