quarta-feira, 20 de outubro de 2010

E eis que aparece o Chico Buarque

E afinal Chico Buarque entrou na campanha da Dilma Rousseff. Chico é a completude de qualquer campanha do PT. Sem ele, a coisa fica como a aquela musiquinha chata da Adriana Calcanhoto que fala em “avião sem asa, fogueira sem brasa”, “nenê sem chupeta, amor sem Julieta”, e por aí vai. Calcanhoto deixaria a musiquinha completa se tascasse lá um “PT sem achaque, eleição sem o Buarque, sou eu assim sem você”.

Ficaria bacana, não? Um dia ainda vou me dedicar à composição musical. Duas ou três músicas por ano (a média do Chico deve ser mais baixa), o direito de ser chamado de gênio e de se vitimizar quando algum crítico aponta qualquer imperfeição. Tirando essa função de se encontrar com uma carrada de petistas a cada quatro anos, é um vidão.

E mesmo na política ainda dá para se fazer de ofendido se houver alguma cobrança posterior, que é o que Chico Buarque faz quando algum jornalista traz este tema em alguma entrevista. Ele apóia Fidel Castro, faz campanha para o Lula, mas ninguém pode pedir qualquer explicação sem que seja acusado de estar fazendo patrulha sobre o grande compositor da MPB. É o problema de fazer política como se fosse um garoto mimado.

Mas não é com a mesma delicadeza que exige posteriormente de seus críticos que Chico Buarque dá suas opiniões. No encontro com Dilma nesta terça-feira, no Rio de Janeiro, para justiticar o apoio ele soltou uma frase feita de lascar. E é bem interessante, pois o artista consagrado teve fala de marqueteiro, seguindo na mesma linha do apoio geral a Dilma e de sua propaganda.

Chico Buarque passou a vida toda sendo tratado como garoto bonito e talentoso e não foi diferente desta vez. Isto sempre foi bem boboca, mas tem piorado e ficou até patético pois todos da sua geração já estão pra lá de maduros. É sempre a mesma cena. O compositor aparece em cena. Nada fala de proveitoso e muito menos aprofunda qualquer questão e ficam todos maravilhados com o mito. E as mulheres representam o papel de excitadas à frente de um senhor de idade que já deve estar de saco cheio deste papel.

Chico já é um homem já de idade. Já completou 66 anos. Só a disciplina partidária e o papel histórico de liderado político que ele encarna há tempos podem explicar sua entrada numa fria dessa. E ser liderado pelo Emir Sader é fim de carreira, não?

Para expressar o apoio a Dilma, Chico veio com uma frase de lascar. Vai na íntegra: “Essa mulher de fibra, que já passou por tudo, não tem medo de nada. Vai herdar o senso de justiça social, um marco do governo Lula, um governo que não corteja os poderosos de sempre, não despreza os sem-terra, os professores, garis. Um governo que fala de igual para igual com todos, que não fala fino com Washington, nem fala grosso com a Bolívia e o Paraguai".

Já não é nada honesto tentar criar esta contraposição em favorecimento ao governo Lula dizendo que a oposição despreza sem-terra e professores, mas que negócio é esse de "garis"? Chico deve estar lembrando daquela fala fora do ar sobre os garis feita pelo Bóris Kasoy, mas que acabou vazando nos microfones do telejornal que ele apresentava. É preciso ser tão rasteiro assim, fazendo de um deslize tolo de um jornalista mais uma desqualificação da oposição?

Duas coisas. Primeiro é feio um artista falando igual a um político do baixo clero. De alguém assim exige-se mais profundidade. Depois, também de um artista o esperado é que ele traga inteligência e equilíbrio para a política, buscando estimular um debate fora do interesse meramente partidário.

E só se o Chico Buarque for um petista idiota e fanatizado para ele acreditar que nós da oposição podemos todos ser encaixados nesta divisão simplória que o governo Lula quer fazer do país.
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POR José Pires

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