sexta-feira, 20 de agosto de 2010

É o caminho, estúpido

Houve um tempo em que se dizia que todo brasileiro é um técnico de futebol. Pelo jeito esse pessoal se cansou de bola, pois o que temos mais hoje é analista de campanha.

Ou melhor, analista da campanha do Serra, ou do Zé, sei lá. O marqueteiro dos tucanos conseguiu botar confusão na cabeça até dos que já conheciam bem o político José Serra. Eu mesmo não reconheço este Serra, desculpe, este Zé, que apareceu há algumas semanas. Como o marqueteiro dos tucanos o lançou só agora, pode ser que seja só uma daquelas estratégias manjadas de reforçar um nome para que ele dispute com mais peso daqui quatro anos.

Mas tem analista da campanha do Serra pra todos os lados. Fixam-se na campanha de TV, sem analisar o conjunto da comunicação e das atividades eleitorais. Tudo o que se faz por fora e que serve inclusive para dar mais criatividade e conteúdo na TV fica de fora das avaliações. É incrível, mas mesmo na questão da internet quase ninguém toca. Este espaço que vem sendo ocupado nos últimos três pelos petistas e que permaneceu até agora esquecido pelos tucanos. E alguém acredita que é possível fazer política hoje sem trabalhar com especial atenção a internet? Ora se tem, são os tucanos.

Mas nem é preciso pesquisa para ver que tem analista da campanha do Serra em todo canto. Até petista faz um esforcinho para ajudar o Serra, apontando um defeito aqui, uma correçãozinha a ser feita ali. São tantos ajudantes de marqueteiro que acho até que o Serra tem sorte em não ter que pagar pelos palpites, já que parece que falta verba até para o próprio marqueteiro.

Quase todas as análises centram a discussão no conteúdo do programa de TV, discutindo especificamente a linguagem dos programas e a estruturação da personalidade política do candidato nos programas eleitorais.

Hoje em seu ex-blog, Cesar Maia, que é candidato ao Senado pelo DEM, traz até uma daquelas avaliações críticas de vencedor. É sobre a eleição de Obama e foi escrita por Drew Westen, bem do jeito que americanos gostam muito, em um processo teórico que surge sempre depois do acontecimento, geralmente para dar suporte à realidade já construída e muitas vezes no estilo do "vejam como sou esperto e acertei tudo na campanha". Nem preciso dizer que, caso Obama não fosse eleito, o estilo mudaria para "vejam como eu sabia de tudo, mas o Obama não quis fazer". Marqueteiro americano gosta muito disso. Mas também não podemos esperar de um marqueteiro o espírito de um Tom Payne.

Porém, nem precisamos ir tão longe, apelando para Drew Westen para explicar o que ocorre atualmente na campanha brasileira. Numa corrida rápida, do word onde estou escrevendo ao site do candidato Cesar Maia, pode-se ver que ele não colocou em nenhum lugar (mas em nenhum lugar mesmo, por mais espantoso que seja) o nome do candidato a presidente da República da aliança na qual seu partido tem um peso decisivo. E isso porque o DEM brigou para ter o vice da chapa.

Pois é, se Cesar Maia fizer campanha no Rio para o candidato da aliança PSDB/DEM, acredito que poderá ter cenários bem mais otimistas para suas argutas análises.

Voltemos, então, à esta curiosa mania de fazer análise apenas com o que se vê na TV. Dessa forma pode-se até acertar, mas apenas quanto ao que o marketing torna visível, sem que a análise traga uma visão completa do que se passa. Sem o conjunto da campanha eleitoral, que comporta propaganda e atividades de rua do candidato, reuniões públicas, decoração de comitês, comportamento dos aliados todos, inclusive os que não disputam eleição desta vez, como vereadores e prefeitos, dirigentes sindicais e empresariais, etc., fica difícil saber de onde vem esta extrema dificuldade de convencimento que se percebe numa campanha que começou no alto e foi baixando assim que os tucanos deram a partida de fato.

Esse conjunto também não pode ser visto apenas dentro deste contexto eleitoral. Para entender o que se passa é preciso ter uma visão retrospectiva, porque um candidato eficiente tem no período eleitoral um momento em que ordena e colhe os resultados dos muitos passos que deu em um período anterior, que tem que ser de no mínimo dois anos, mas que sempre melhora quanto mais se acrescenta tempo. Não tem muito segredo, não é diferente do que se faz em qualquer atividade na vida e até já deu boa poesia: "Caminante, no hay camino, se hace camino al andar".

Isso antigamente era chamado de “fazer política”, algo que os tucanos não têm feito, um comportamento que pode fazer minguar qualquer partido e vem acontecendo com o PSDB nos últimos anos. Basta dar uma andada no interior do país para perceber isso. Os tucanos são desarticulados. E nem peçam a eles uma visão do objetivo central, algo que o PT tem de sobra, pois eles não sabem o que é isso. Como é óbvio que a caminhada não vem criando substância alguma desde lá de trás, quem vê o desordenamento atual com surpresa tem uma visão bem amadora de política.
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POR José Pires

Um comentário:

Amanda disse...

É isso aí, não faz oposição quanto tem que fazer, não vai resolver dois meses antes da eleição.