quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Jaime Lerner distribui atestado de "não lernista"

Nesta eleição chocha surgiu no Paraná algo interessante, que pelo menos sai desse clima em que todos os candidatos interpretam papéis com pouca sinceridade política e, em muitos casos, nenhuma mesmo. Jaime Lerner, ex-governador do Paraná e ex-prefeito de Curitiba, está passando atestados de não-lernista aos políticos paranaenses.

O que acontece é que na atual eleição nenhum candidato ao governo paranaense que ser identificado como lernista. Tanto o tucano Beto Richa quanto o pedetista Osmar Dias sentem-se difamados quando alguém diz que algum deles tem ligação histórica com Jaime Lerner.

Então Lerner resolveu emitir um atestado liberando diretamente Richa e Dias desse desconforto. Publico aqui o documento emitido por ele.

Lerner é um arquiteto reconhecido internacionalmente, especialmente pelo seu fabuloso talento de urbanista demonstrado na prática em Curitiba, onde implantou como prefeito vários projetos pioneiros que fizeram a fama da cidade, entre eles os calçadões reservados apenas para pedestres, uma novidade inventada por ele na década de 70, e um sistema de transporte público muito funcional, com linhas exclusivas para ônibus, além de terminais e pontos muito bem bolados tanto na forma prática quanto do ponto de vista estético.

O problema da má fama do lernismo apareceu quando Lerner se elegeu governador. Ele está certo quando diz no atestado que o que fez em Curitiba pode render votos até hoje, mas sua atuação como governador deixou bastante a desejar.

A industrialização, que ele cita como um benefício para o Paraná, foi até surpreendente vinda de um urbanista de talento como ele, pois privilegiou montadoras de automóveis e concentrou problemas graves em torno de Curitiba. Em relação ao que sua política de industrialização fez com a capital do estado, pode-se dizer que Lerner sufocou a própria cria.

Os incentivos fiscais para varias empresas, entre elas montadoras estrangeiras como a Renault, também foram muito suspeitos e até hoje não estão bem explicados. No governo do estado, Lerner também tentou privatizar duas estatais muito importantes, a companhia de energia Copel e a Sanepar, empresa de saneamento. Esta segunda teve a maioria das ações vendidas para uma empresa francesa, que acabou sendo revertida pelo governo Requião. Mas a questão permanece em litígio.

Lerner também se encrencou com todo o interior do estado quando privatizou estradas, com praças de pedágios que dificultam o intercâmbio comercial e cultural entre cidades próximas. E no Paraná as concessionárias fizeram pouquíssimas melhorias nas estradas.

No âmbito da ética, Lerner foi um desastre. Aliou-se ao que tinha de pior no Paraná. O grupo lernista foi determinante na eleição do prefeito Antonio Belinati, em Londrina, que recebeu todo apoio de Lerner, até ser cassado por corrupção pela Câmara do município. A mulher de Belinati foi vice de Lerner nos dois mandatos de governador.

Apesar da consagração como arquiteto e urbanista, na política Lerner fez muita coisa feia, daí a rejeição dos candidatos. É provável que com o que criou na capital do estado ele ainda renda votos, mas o problema é que o conjunto da obra acaba atrapalhando. Para se ter uma idéia, a última notícia nacional envolvendo uma figura muito próxima a Lerner, foi com o deputado Cassio Taniguchi, que foi prefeito de Curitiba com seu apoio. Taniguchi foi um dos mais poderosos membros do grupo lernista e acabou virando noticia em todo o país recentemente como secretário também muito forte do governador cassado de Brasília, José Roberto Arruda.

São as conseqüências da falta de cuidado na condução da vida política. De qualquer forma, Lerner mostrou criatividade e bom humor na interferência feita nesta eleição. Veja abaixo.
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POR José Pires



Atestado

Sempre que chega o período eleitoral, a ordem entre os candidatos é de se descolar de qualquer político ou coisa que seja polêmica ou que tenha reações contrárias sem levar em conta todas as coisas positivas as quais esses políticos também se associaram. Beto Richa, não precisa jurar que não é lernista; Osmar Dias, também não.

Vou facilitar a vida de vocês e de seus marqueteiros. Estou emitindo atestados de “não lernistas”. Podem apanhá-los na chapelaria.

Digo chapelaria porque certamente o chapéu de Curitiba fornecerá muitos votos. Herdou-se uma cidade que é referência no mundo todo, apesar de todas as suas carências e mazelas.

E ao Estado que se candidatam também creio ter dado alguma contribuição, como a onda de industrialização que multiplicou empregos e arrecadação.

Espero que o atestado de “não lernista” possa contribuir para que os ilustres candidatos aproveitem melhor a campanha, com mais propostas e menos sofismas.

E que tenham a coerência de pedir aos lernistas que não votem neles.

Jaime Lerner

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