segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Mas no final, Boff vai mesmo é com a mulher do Lula

Até vindo de Leonardo Boff o artigo é exagerado. Como tantos outros textos seus, tem um lado cômico, ainda que involuntário, mas o serviço que presta para a candidata governista não é nada engraçado. Boff junta sua candidata com a candidata do Lula e proclama a presença das duas nesta eleição como um fator de avanço apenas pelo fato de ambas serem mulheres. Ele diz também que este momento foi criado por forças transcendentais, cujo interesse é de que o poder seja de uma mulher.

De quebra, ainda arruma mais um defeito para o candidato José Serra, o único ainda em condição de disputa com a candidatura do PT. Serra é homem. Se não fosse a desonestidade flagrante até que datia para rir.

É claro que Boff sabe como está o andamento da eleição, com a campanha de Dilma, tendo o presidente da República à frente, querendo criar uma situação de vitória no primeiro turno. Com este clima, essa conversa serve apenas para o fortalecimento da candidata do PT, já que sua suposta candidata, Marina Silva, está bem fraca na disputa.

Logo no início do texto, Boff afirma o seguinte sobre Dilma e Marina: “ambas com indiscutível densidade ética e com uma compreensão da política como virtude a serviço do bem comum e não como técnica de conquista e uso do poder”.

Isso dá bem a dimensão da sua leviandade política. O ex-frei é aquele tipo de articulista com uma filosofia que se encaixa em qualquer circunstância do seu interesse. O problema é que os textos sempre dão a impressão de que ele faz isso com uma marreta. O encaixe só convence se o leitor for cego em qualquer matéria afeita ao assunto, inclusive a política.

Como ele anda obcecado pela ecologia, o assunto entra em tudo. Ele é um desses que fazem algo fascinante como a ecologia se transformar num assunto cacete. Segundo sua filosofia, Gaia e a Grande Mãe, como ele chama o planeta Terra, tem uma mensagem para nós, que vem “através dessas duas mulheres”, Dilma e Marina, é claro.

Esta mensagem seria de “equlíbrio” e, sempre segundo seu amalucado texto, “deverá passar pelas mulheres predominantemente e não pelos homens”. Os homens, na visão de Boff, “depois de séculos de arrogância, estão mais interessados em garantir seus negócios do que salvar a vida e proteger o planeta”.

Parece um texto combinado com o Lula. Tirando a pseudo-filosofia, é o mesmo lero-lero de presidente marqueteiro que tenta qualificar Dilma pelo fato dela ser do sexo feminino. Como se os problemas ambientais do planeta, a "Grande Mãe", como ele prefere, tivessem origem numa questão de gênero.

Nesta dobradinha entre Teologia da Libertação e ecologia, Boff segue uma linha semelhante de raciocínio. As coisas sempre se encaixam. O pensamento está sempre de acordo com seu interesse político momentâneo. A ecologia pode servir para o elogio ao MST, assim como poder servir para Dilma, uma notória inimiga dos ambientalistas. E para isso ele pode até usar de forma condenável o nome da candidata que supostamente apóia, a verde Marina que ele tenta transformar em laranja.

Como ficaria difícil criar qualquer tipo de combinação entre as duas no aspecto político, ele apela para o sexismo. Fica como uma visão torta, efeito das marretadas para encaixar algo tão absurdo numa discussão que envolve o destino do País.

O ex-frei não entende nada de mulher, como dizem amigas minhas quando alguém vem com essa conversa de que o exercício do poder pode ser mais ameno na mão das mulheres. E o interessante é que a própria Dilma, em quem Boff identifica uma suavidade que seria emanada da própria Terra, desmente seu arrebatamento. Dilma é grossa, mandona, passa o trator em qualquer discussão sobre respeito ao meio ambiente, como bem sabe Marina, dita por ele a alma gêmea da candidata petista.

Mas a teoria do ex-frei pode ser derrubada de forma bem simples. É só pedir que ele explique onde entra Margareth Tatcher neste enredo romântico ou mesmo a brasileira Kátia Abreu, senadora do DEM que é vista e tratada como demônio pelos ambientalistas.

A receita de Boff poderia também causar um problema para seus companheiros no Rio Grande do Sul. Ora, vendo a coisa por este lado a única salvação dos gaúchos é a recondução da governadora Yeda Crusius ao poder. Até prova em contrário, Tarso Genro e Fogaça não possuem entre as pernas essa nova e indispensável qualidade para governar.

Boff também não explica a razão de ter apoiado Lula nas últimas duas décadas, já que a "Grande Mãe” exige uma mulher na direção de seu destino. Bem, mas aí talvez seja um insight recente da própria Terra, que teve uma compreensão de que, definitivamente, com homem no poder não dá. E para felicidade da “Grande Mãe”, o ex-frei tem não só uma, mas duas candidatas ao posto de salvadora do planeta. Isso é que é sorte da Terra, não?

Porém, sabemos muito bem que Boff usa este argumento do feminino como a redenção do humano apenas pra prestar um serviço à candidatura do PT. Sim, candidatura do PT, porque dá a impressão de que ele está na coordenação política de Marina Silva com uma sinceridade parecida com aquela que dedicava à Igreja Católica.
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POR José Pires

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