sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Não é a economia, estúpido

Já falei aqui no blog que o problema dos tucanos é que eles não fazem política. O PT faz isso o tempo todo, para bem ou para mal. Mais para o mal, na minha opinião, mas o fato é que o partido ainda se mantém presente em vários segmentos organizados da sociedade civil, principalmente em sindicatos, o que é uma vantagem de altíssimo peso: são organismos com estrutura política e material próprias, muitos deles com orçamentos gigantescos. Nesta eleição, essas verbas e estruturas foram muito usadas para alavancar a fase inicial de Dilma, quando sua candidatura patinava. E o PT também usou bastante o poder para fortalecer essas ligações que já não eram fracas.

Já o PSDB hoje tem pouquíssima penetração em qualquer setor, sendo que em organismos populares não tem nenhuma. Nem no meio empresarial, onde sempre teve relativa penetração política, os tucanos marcam mais presença. Já o DEM é uma farsa como partido. Não existe em todo o país, sendo que em alguns estados ainda guarda a mesma rejeição que tinha quando ainda era o PFL. Se não fosse pela sua parcela no horário político, não haveria vantagem alguma em se aliar ao DEM. Pelo contrário, mesmo com os valiosos minutos de tempo para propaganda, sempre é bom avaliar bem o custo-benefício da aliança antes de fechar negócio com este partido.

Já o PT tem estado presente o tempo todo na vida das cidades. Tucano só aparece em eleição. Tem sido sempre assim, mesmo quando o presidente era Fernando Henrique Cardoso. Neste caso, os políticos tucanos e os antigos pefelistas desapareciam nos entremeios do Poder, esquecendo-se até de fortalecer os conceitos que estavam sendo plantados no governo de FHC. E o PT era fortalecido com um eficiente trabalho na oposição. Também com o mesmo espírito aguerrido e uma falta de vergonha impressionante, pegaram depois as bandeiras mais eficientes do governo FHC que os tucanos não tiveram competência de manter como legado político.

Mas estas não são as únicas questões que dão problemas para Serra (notem que é impossível chamar o candidato de Zé; só marqueteiro idiota não percebe algo assim). Mas, quando aos problemas do Neozé, todos que se colocam como analistas de sua campanha se esquecem de um ponto fundamental. O verdadeiro ponto desta eleição.

Se alguns apontam com clareza muitos defeitos de campanha, todos erram pelo fato de que, mesmo que o insucesso de Serra esteja sendo causado por equívocos políticos ou de linguagem, é preciso fazer o contraste com quem supostamente está ganhando a parada, a candidata petista Dilma Rousseff.

E Dilma não está por cima em razão de acertos de campanha, ou genialidade de seu marqueteiro. Também não está por cima por méritos próprios, é claro, pois mesmo que não confessem em público, até petistas sabem que ela é uma besta. Enquanto pessoa, como ela diria, Dilma deixa muito a desejar. É uma candidata ruim e se eleita será uma presidente pior.

É no contraste com o sucesso que ela está tendo agora que pode-se chegar à uma compreensão a origem real dos problemas que Serra enfrenta e que não se concentram propriamente na sua campanha eleitoral. Primeiro e acima de tudo tem a questão do dinheiro, o que não falta ao PT por meio da máquina pública e por caminhos oficiosos, além da dinheirama que surge de todos os lados para o gasto em marketing.

Em marketing ficou bem marcado o jargão "É a economia, estúpido!" para exemplificar o foco correto numa campanha política. Bem, isso pode até servir para um país com um equilíbrio de forças entre os oponentes, como é o caso dos Estados Unidos, de onde veio a frase. Mas aqui não. Adianta bem pouco saber focar acertadamente uma campanha se o adversário tem todos os meios financeiros nas mãos, inclusive o do Estado, que no Brasil pode ser usado sem que a Justiça tome qualquer providência.

Então aqui não tem esse negócio de "É a economia, estúpido". Aqui é a máquina pública e o dinheiro fácil vindo de todos os lados. Serra não tem dinheiro para a campanha e também não tem a máquina pública a seu favor. Dilma tem tudo isso nas mãos, além da conveniente desfaçatez para fazer o uso de qualquer coisa para manter o poder.
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POR José Pires

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