segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Leonardo Boff e suas duas mulheres

Não é de hoje que o ex-frei Leonardo Boff anda doidinho de pedra, mas seu estado piorou bastante neste período eleitoral. Os textos que publica na imprensa são escritos num formato em que junta um evangelismo ecológico a um estilo de autoajuda. Seus livros devem seguir no mesmo tom. Não tenho visto nenhum, nem por curiosidade naquelas sapeadas em livrarias, pois tenho coisas mais importantes para ler ou sapear.

Mas tenho seguido como posso o que ele anda publicando na imprensa e na internet. Ele já foi obcecado pela Teologia da Libertação e hoje juntou a ecologia ao tema que o fez famoso. É uma composição estranha. Fica difícil crer que atualmente Deus esteja ligado no meio ambiente só porque é do interesse de Leonardo Boff, assim como nas décadas de 60 e 70 Deus estaria ocupado com a libertação do povo latinoamericano, também porque o então frei da Igreja Católica tinha esse interesse na época.

Boff é aquele tipo de gente que desmoraliza até causas boas. Sua forma de abordar a ecologia torna romântico e até piegas um assunto que pode ser melhor esclarecido se for tratado de forma prática e técnica.

Nesta eleição Boff se engajou na campanha de Marina Silva. É provável que tenha influência sobre a candidata, pois ela não consegue de forma algum trazer a ecologia para o cotidiano do eleitor e se fortalecer com um discurso bem elaborado.

E Marina deve babar de adoração ao ex-frei. Esse evangelismo ecológico é também a cara dela. O estilo religioso e ecológico de Boff deve fazer dele um ídolo da candidata do Partido Verde, mas a verdade é que o ex-frei singra a campanha com os pés em duas canoas. É seu estilo, desde quando era membro da Igreja Católica.

Acontece que o barco de Dilma Rousseff é sabidamente mais potente que o bote que o PV arrumou para Marina Silva. Então Boff já andou declarando há cerca de um mês o apoio de Marina à Dilma no segundo turno. Nenhuma novidade para mim, mas de qualquer forma, não deixou de ser curioso que alguém tão próximo de Marina confesse de forma tão prematura que na verdade a candidata não é verde, mas laranja.

Hoje, em um artigo que chega até a ser engraçado, mas que não pode ser visto apenas dessa maneira, Boff junta sua candidata com a candidata do Lula e proclama a presença das duas nesta eleição como um fator de avanço apenas pelo fato de ambas serem mulheres. Ele diz também que este momento foi criado por forças transcedentais, cujo interesse é de que o poder seja de uma mulher.

É claro que ele sabe como está o andamento da eleição, com a campanha de Dilma, tendo o presidente da República à frente, querendo criar uma situação de vitória no primeiro turno. Com este clima, essa conversa serve apenas para o fortalecimento da candidata do PT, já que sua suposta candidata, Marina Silva, está bem fraca na disputa.

Logo no início do texto, Boff afirma o seguinte sobre Dilma e Marina: “ambas com indiscutível densidade ética e com uma compreensão da política como virtude a serviço do bem comum e não como técnica de conquista e uso do poder”.

Isso dá bem a dimensão da sua leviandade política. O ex-frei é aquele tipo de articulista com uma filosofia que se encaixa em qualquer circunstância do seu interesse. O problema é que os textos sempre dão a impressão de que ele faz isso com uma marreta. O encaixe só convence se o leitor for cego em qualquer matéria afeita ao assunto, inclusive a política.

Como ele anda obcecado pela ecologia, o assunto entra em tudo. Ele é um desses que fazem algo fascinante como a ecologia se transformar num assunto cacete. Segundo sua filosofia, Gaia e a Grande Mãe, como ele chama o planeta Terra, tem uma mensagem para nós, que vem “através dessas duas mulheres”, Dilma e Marina, é claro.

Esta mensagem seria de “equlíbrio” e, sempre segundo seu amalucado texto, “deverá passar pelas mulheres predominantemente e não pelos homens”. Os homens, na visão de Boff, “depois de séculos de arrogância, estão mais interessados em garantir seus negócios do que salvar a vida e proteger o planeta”.

Parece um texto combinado com o Lula. Tirando a pseudo-filosofia, é o mesmo lero-lero de presidente marqueteiro que tenta qualificar Dilma pelo fato dela ser do sexo feminino. Como se os problemas ambientais do planeta, a "Grande Mãe", como ele prefere, tivessem origem numa questão de gênero.

Nesta dobradinha entre Teologia da Libertação e ecologia, Boff segue uma linha semelhante de raciocínio. As coisas sempre se encaixam. O pensamento está sempre de acordo com seu interesse político momentâneo. A ecologia pode servir para o elogio ao MST, assim como poder servir para Dilma, uma notória inimiga dos ambientalistas. E para isso ele pode até usar de forma condenável o nome da candidata que supostamente apóia, a verde Marina que ele tenta transformar em laranja.
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POR José Pires

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