Dinheiro e poder. Com esta dobradinha, Lula montou como quis o cenário de disputa deste ano. E ainda falam em seu carisma. Costumo dizer que no Brasil só tem duas pessoas que não acreditam no carisma do Lula: eu e o próprio Lula.
O presidente da República não é tolo de acreditar que será apertando mãos pelo país afora que manterá o tipo de poder pelo qual optou. Lula e seu grupo forçaram o partido a coligações nos estados sempre tendo acima de tudo como objetivo o fortalecimento da candidata Dilma, mesmo colocando o PT em situações políticas de extremo desconforto e até demolindo bases tradicionais do partido com alianças como no Maranhão, com Sarney, ou com o abraço amigo em Collor, em Alagoas. Com o foco na perenização no poder, o PT derrubou até mesmo candidatos bastante viáveis em disputas de governos estaduais.
Com o poder e o numerário vasto da máquina pública, Lula também impediu que acontecesse uma disputa democrática, ou uma eleição de fato, maquinando para evitar o lançamento de candidatos a presidente com prestígio político ou por partidos de relativo peso eleitoral e intervindo diretamente para dificultar alianças promovidas pelo PSDB. E o episódio do ludibriamento de Ciro Gomes e a posterior destruição da sua candidatura mostra como se fez de tudo para favorecer Dilma.
Como uma ilustração prática, vou usar como exemplo o Paraná, estado de um dos mais fortes ministros de Lula, o sindicalista bancário Paulo Bernardo, cacique petista local que tem pelejado nos últimos anos para cavar um bom espaço político para sua mulher, Gleisi Hoffmann.
Até o momento em que a disputa se deu de forma relativamente democrática, sem a armação do cenário político feita por mãos petistas, o ministro Bernardo se deu mal. Gleisi Hoffmann disputou com Beto Richa a eleição para prefeito de Curitiba. Mesmo com uma campanha eleitoral mais cara que a de Marta Suplicy, que disputava a prefeitura de São Paulo, Bernardo e a mulher perderam no primeiro turno e de modo bem feio. Richa foi eleito prefeito com mais de 70% dos votos.
Com o insucesso, a mulher de Paulo Bernardo voltou para uma diretoria da Itaipu, onde esteve durante todo o governo Lula.
Já neste ano, a mulher de Paulo Bernardo está bem nas pesquisas para o Senado. Mas de que forma houve esta transformação? Primeiro, desde essa derrota o PT vem fazendo propaganda maciça no estado, com tanta desfaçatez, que até o TRE teve que parar de fazer de conta que não via nada e mandar o partido parar de colocar outdoor por todo o Paraná com a cara de Lula e a de Gleisi Hoffmann.
Gleisi Hoffmann também distribuiu material impresso bem caro por todo o estado. O folheto na imagem acima é feito em papel couchê, é grampeado, tem oito(!) páginas, e foi jogado em tudo quanto é quintal nas cidades do Paraná. Quem é do ramo sabe como isso fica caro. Nem em grandes campanhas é possível algo assim.
A propaganda promete aposentadoria para as donas de casa. Tem fotos de Gleisi Hoffmann e texto assinado por ela como... presidente do PT Paraná. Sim, a mulher do ministro do Lula é presidente estadual do partido. E ainda tem gente que acha o Sarney é que é o retrocesso.
Outra coisa, na imagem acima, ao lado do tocante texto onde ela diz que dar aposentadoria para as donas de casa "é uma luta de todos nós", a petista aparece numa foto, em reunião com um ministro de Estado, o ministro José Pimentel, da falida pasta da Previdência Social. Viram como o Sarney é fichinha perto dessa gente?
Mas além dessa forma de demagogia que pode alargar bem os gastos públicos, o PT investiu firme no interior do estado, com a máquina federal alimentando o prestígio do grupo do ministro em pequenas prefeituras e políticos locais, com distribuição de recursos públicos e projetos alavancados pelo Governo Federal.
Todo o cenário eleitoral do estado foi montado como plataforma para o PT. Usando-se sabe-se lá a força de quais argumentos, Lula forçou o pedetista Osmar Dias a disputar o governo do estado. Com isso, reorganizou o cenário no Paraná para favorecer Dilma e atacar Serra, além de dar uma tremenda força para a mulher do ministro, já que se não fosse para o governo, Osmar Dias disputaria a reeleição para o Senado, criando uma situação difícil para Gleisi Hoffmann, que teria que se ver com Dias e Requião na disputa. É provável que ela continuaria apenas como mulher do ministro.
A meu ver, portanto, a ordem das análises sobre os problemas tucanos está invertida. Não é olhando apenas quem está por baixo — o Serra ou Zé, como eles querem — que se pode ter clareza sobre o que está acontecendo nesta eleição. É observando o sucesso de Dilma — com muito esforço para não rir, pois ela é cretina, mas perigosa — que podemos ter uma visão objetiva sobre o que Lula e o PT estão fazendo com a democracia brasileira.
Qualquer candidato que estivesse se opondo a este abusivo uso do poder e do dinheiro estaria agora com dificuldades sérias para competir. E louve-se Serra por não permitir que o imoral sucesso do lulo-petismo seja ainda mais acachapante, o que se deve na maior parte a seu impressionante vigor pessoal e prestígio político, já que mais uma vez temos a impressão de que seus colegas fugiram da briga.
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POR José Pires
Um comentário:
É eleição estruturada em dinheiro e poder e que não terá outro benefício que não seja fazer mais poder e mais dinheiro.
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