quarta-feira, 23 de julho de 2008

A campanha no Rio pressionada pelo tráfico

O Rio de Janeiro é um local a ser observado com toda a atenção, pois ali vive-se uma trágica realidade cuja tendência é a de se espalhar pelo Brasil. Um desses problemas é a interrelação entre o crime organizado e a política, com políticos e criminosos criando alianças para dominar politicamente as comunidades e a própria cidade.

Na tarde de ontem a candidata a vereadora Ingrid Gerolimich (PT), uma jovem de coragem, acabou criando um fato que colocou em foco esse drama. Para fazer campanha na favela da Rocinha, Geromilich pediu auxílio da Secretaria de Segurança Pública. Teve como segurança, do lado de fora da favela, cerca de quatro policiais e um carro. A candidata foi distribuir seus panfletos acompanhada também por fiscais do Tribunal Regional Eleitoral.

O principal candidato a vereador do lugar é Luiz Cláudio de Oliveira (PSDC), conhecido como Claudinho da Academia. Ele é o presidente da associação de moradores do local.

O jornal carioca O Dia já havia noticiado que a candidatura de Claudinho é investigada pela Polícia Federal, por três delegacias especializadas e pelo TRE. Segundo o jornal, ele teria por trás da candidatura o apoio do traficante conhecido por Nem, apontado como chefe de tráfico local. Teria ficado determinado pelo tráfico que outros candidatos a vereador não podem fazer propaganda eleitoral por ali. Além disso, os moradores estariam obrigados a apoiar Claudinho.

O candidato obviamente nega ter relações com o tráfico, mas os fiscais do TRE viram fortes sinais de que algo está muito errado na Rocinha. Não há uma propaganda eleitoral sequer na favela, um eleitorado bastante cobiçado pelos políticos. Ouvido pelo jornal, o chefe de fiscalização do TRE, Luiz Fernando Santa Brígida, disse que em seis eleições nunca viu isso.

Ingrid Gerolimich ficou pouco na favela, mas sua atitude serviu para revelar a situação extremamente preocupante, não só para o Rio, mas para todo o país, o que era de fato sua intenção. “O objetivo não é só fazer campanha, mas denunciar o que está acontecendo na Rocinha”, ela disse aos jornalistas que acompanharam sua entrada na Rocinha.

O TRE do Rio já havia recebido várias denúncias de candidatos que foram impedidos de entrar em lugares dominados por traficantes e milícias que, evidentemente, tem seus próprios candidatos. Até para candidatos a prefeito a campanha não têm sido fácil. O deputado federal Fernando Gabeira, que concorre à prefeitura, disse que até o momento não teve nenhuma dificuldade para entrar em alguma comunidade, mas afirma que o Rio vive uma campanha perigosa. “Essa história atrapalha a campanha de todos, menos daqueles que eles (traficantes e milicianos) acham que devem entrar”, ele disse.
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POR José Pires

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