Algumas pessoas estão dizendo que os institutos de pesquisas erraram. Discordo. Pelo contrário, penso até que houve muito acerto. Os institutos de pesquisas fizeram tudo certinho e conforme o combinado. Mas, como disse o Garrincha, faltou combinar com os russos, neste caso o eleitor brasileiro.
Deve ter sido decepcionante para os institutos de pesquisas o que os eleitores fizeram. Impediram o sucesso de uma arte. Hoje em dia no Brasil uma pesquisa parece mais a previsão de um futuro que vai sendo construído com o rebaixamento gradativo de umas candidaturas e a conseqüente elevação de outras. Nalguns casos parece até mágica, pois aparecem uns candidatos do nada que vão subindo, subindo e subindo, com uns ensaios de disputa real no entremeio, mas que não se concretizam de fato em meio a quedas deste ou daquele candidato e até o surgimento de elementos-surpresa, mas nada que impeça o desenlace que parece pré-determinado.
Pode ser até coincidência, mas com a Dilma Rousseff foi assim. Lembram que no início ela ficava atrás até do Ciro Gomes? Ah, o Ciro Gomes... Sempre foi o arroz de festa das pesquisas. Até hoje nunca ficou claro qual seria a lógica para a sua aparição sempre súbita, sem que nada de significativo estivesse acontecendo em sua vida política e mesmo ele passando meses na obscuridade, sem aparecer sequer para seus deveres no Congresso.
Ninguém sequer sabia onde andava o Ciro Gomes, mas era batata: em pesquisa ele aparecia. Isso pode ser expliado pela dificuldade do trabalho de composição de um cenário com ares verdadeiros. Daí a solução meio parecida com a de certos escritores de ficção, que para despertar a atenção do leitor puxam um personagem do nada que vai criando áreas de atrito no enredo. O Ciro Gomes sempre caía bem para isso. Vai fazer falta.
Mas este trabalho — o das pesquisas, não o dos escritores de ficção — vem tendo um relativo sucesso nos últimos anos. Este segundo turno que aparece agora contrariando previsões científicas parece mais um abuso da realidade. Desta vez todos os institutos erraram... espere aí, é melhor, aspar: “erraram”.
Quem acompanha de perto a política brasileira sabe como o uso sem nenhuma regulação do recurso das pesquisas vem deformando o processo eleitoral. No interior do Brasil, em cidades menores onde a vigilância é sempre é mais difícil e a sociedade civil bem menos organizada, alguns institutos fazem horrores dignos de marqueteiros. A propósito, nestes lugares algumas pesquisas são contratadas exatamente para serem usadas em propagandas eleitorais.
Por isso mesmo é preciso se precaver. No Paraná, onde o tucano Beto Richa venceu o pedetista Osmar Dias, colocado na disputa por Lula para fortalecer a candidatura de Dilma e quebrar Serra no Sul do país, foram proibidas pelo TRE pelo menos meia dúzia de pesquisas de institutos com força nacional, inclusive pesquisas do Data Folha. E todo mundo sabe que tem que haver muita irregularidade para uma pesquisa ser proibida por um TRE.
Lula queria que Osmar Dias ganhasse no primeiro turno ou que pelo menos levasse a disputa para o segundo. Para o PT era até uma questão de honra, com o perdão da palavra, pois o Paraná é a terra do senador Álvaro Dias, do PSDB, que chegou a ser anunciado como vice de Serra. Lula fez um esforço considerável, até que conseguiu convencer Osmar Dias a sair candidato, melando a chapa tucana. Até hoje é muita a curiosidade sobre os argumentos de Lula, que todo mundo sabe que é adepto de um olho no olho.
Outro lance curioso é que Osmar Dias é irmão do senador Álvaro Dias. E petista é fixado nesse negócio de família, como mostram, os episódios do dossiê contra a mulher de Fernando Henrique Cardoso e a quebra de sigilo da flha do Serra. Dividiram os irmãos.
Mas voltando à eleição estadual, no dia anterior à eleição, o Ibope e a TV Globo divulgaram uma pesquisa. Deu empate de 49% entre os dois candidatos ou uma eleição “rigorosamente empatada” como disse o apresentador. A coisa fica até engraçada naquele cenário de um futurismo mágico, em que os números vão subindo num facho de luz quando o jornalista determina com a mão o efeito. A Globo é craque para caracterizar bem as coisas. Parece mesmo ficção científica.
Mas deu xabu. O resultado acabou sendo de 52,44% para Beto Richa e 45,63% para Osmar Dias, bem longe da margem de erro de dois pontos percentuais. Tem tucano bobo e tucano arisco e nesses o visgo não gruda. Mas sabemos o que poderia ocorrer se o tucano paranaense não fosse ligeiro e impedisse a criação de um clima de derrota para ele. Ah, caia no visgo que, dizem alguns, tinha uma coloração avermelhada como a terra do norte daquele estado.
Mas, como já disse, não é só no Paraná que fazem essa construção de resultados, para o qual nossa imprensa até dá uma facilitada.
Hoje em dia nossos jornalistas se pautam de tal forma em pesquisas, que até os donos de certos institutos são tratados como experts no que vai brotar das urnas. Em que país sério um jornal, site ou revista poderia publicar com ares de imparcialidade sequer uma entrevista de dono de instituto de pesquisas anunciando o futuro vencedor de uma eleição? Pois no Brasil publica-se até artigos dessa forma.
Tudo isso é feito sem nenhum senso crítico, mesmo com todo mundo sabendo que praticamente todos essses institutos trabalham também para partidos políticos com o interesse direto em pesquisas divulgadas durante toda a eleição, um trabalho que algumas vezes começa até meses antes do início oficial da disputa.
Não foi só quanto ao segundo turno da eleição presidencial que todos os institutos erraram. Em vários estados muitas pesquisas se mostraram bem furadas, muitas de forma bastante suspeita. O exemplo da eleição em São Paulo do tucano Aloysio Nunes Ferreira para o Senado.
Ele esteve sempre entre os últimos nas pesquisas, coisa que é de desanimar qualquer um. É o mesmo visgo do Paraná. Pois Aloysio Nunes acabou como o senador mais votado da nossa história política.
O eleitor decidiu pelo segundo turno numa eleição que todos os institutos garantiam que seria resolvido no primeiro com a vitória acachapante de Dilma já no primeiro. Já tem explicações de todo tipo para isso: onda verde, voto evangélico e tantas outras justificativas. Não me espantaria se alguém viesse com a história de isso é rejeição ao guarda-roupa vermelho da candidata petista, um motivo até justo.
Até agora só não disseram que o segundo turno foi decidido pra afrontar as maracutaias que os institutos vem armando, o que também seria muito justo. Mas o justo mesmo seria que neste segundo turno não tivesse institutos de pesquisa. Afinal, desta vez eles perderam a eleição.
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POR José Pires
Deve ter sido decepcionante para os institutos de pesquisas o que os eleitores fizeram. Impediram o sucesso de uma arte. Hoje em dia no Brasil uma pesquisa parece mais a previsão de um futuro que vai sendo construído com o rebaixamento gradativo de umas candidaturas e a conseqüente elevação de outras. Nalguns casos parece até mágica, pois aparecem uns candidatos do nada que vão subindo, subindo e subindo, com uns ensaios de disputa real no entremeio, mas que não se concretizam de fato em meio a quedas deste ou daquele candidato e até o surgimento de elementos-surpresa, mas nada que impeça o desenlace que parece pré-determinado.
Pode ser até coincidência, mas com a Dilma Rousseff foi assim. Lembram que no início ela ficava atrás até do Ciro Gomes? Ah, o Ciro Gomes... Sempre foi o arroz de festa das pesquisas. Até hoje nunca ficou claro qual seria a lógica para a sua aparição sempre súbita, sem que nada de significativo estivesse acontecendo em sua vida política e mesmo ele passando meses na obscuridade, sem aparecer sequer para seus deveres no Congresso.
Ninguém sequer sabia onde andava o Ciro Gomes, mas era batata: em pesquisa ele aparecia. Isso pode ser expliado pela dificuldade do trabalho de composição de um cenário com ares verdadeiros. Daí a solução meio parecida com a de certos escritores de ficção, que para despertar a atenção do leitor puxam um personagem do nada que vai criando áreas de atrito no enredo. O Ciro Gomes sempre caía bem para isso. Vai fazer falta.
Mas este trabalho — o das pesquisas, não o dos escritores de ficção — vem tendo um relativo sucesso nos últimos anos. Este segundo turno que aparece agora contrariando previsões científicas parece mais um abuso da realidade. Desta vez todos os institutos erraram... espere aí, é melhor, aspar: “erraram”.
Quem acompanha de perto a política brasileira sabe como o uso sem nenhuma regulação do recurso das pesquisas vem deformando o processo eleitoral. No interior do Brasil, em cidades menores onde a vigilância é sempre é mais difícil e a sociedade civil bem menos organizada, alguns institutos fazem horrores dignos de marqueteiros. A propósito, nestes lugares algumas pesquisas são contratadas exatamente para serem usadas em propagandas eleitorais.
Por isso mesmo é preciso se precaver. No Paraná, onde o tucano Beto Richa venceu o pedetista Osmar Dias, colocado na disputa por Lula para fortalecer a candidatura de Dilma e quebrar Serra no Sul do país, foram proibidas pelo TRE pelo menos meia dúzia de pesquisas de institutos com força nacional, inclusive pesquisas do Data Folha. E todo mundo sabe que tem que haver muita irregularidade para uma pesquisa ser proibida por um TRE.
Lula queria que Osmar Dias ganhasse no primeiro turno ou que pelo menos levasse a disputa para o segundo. Para o PT era até uma questão de honra, com o perdão da palavra, pois o Paraná é a terra do senador Álvaro Dias, do PSDB, que chegou a ser anunciado como vice de Serra. Lula fez um esforço considerável, até que conseguiu convencer Osmar Dias a sair candidato, melando a chapa tucana. Até hoje é muita a curiosidade sobre os argumentos de Lula, que todo mundo sabe que é adepto de um olho no olho.
Outro lance curioso é que Osmar Dias é irmão do senador Álvaro Dias. E petista é fixado nesse negócio de família, como mostram, os episódios do dossiê contra a mulher de Fernando Henrique Cardoso e a quebra de sigilo da flha do Serra. Dividiram os irmãos.
Mas voltando à eleição estadual, no dia anterior à eleição, o Ibope e a TV Globo divulgaram uma pesquisa. Deu empate de 49% entre os dois candidatos ou uma eleição “rigorosamente empatada” como disse o apresentador. A coisa fica até engraçada naquele cenário de um futurismo mágico, em que os números vão subindo num facho de luz quando o jornalista determina com a mão o efeito. A Globo é craque para caracterizar bem as coisas. Parece mesmo ficção científica.
Mas deu xabu. O resultado acabou sendo de 52,44% para Beto Richa e 45,63% para Osmar Dias, bem longe da margem de erro de dois pontos percentuais. Tem tucano bobo e tucano arisco e nesses o visgo não gruda. Mas sabemos o que poderia ocorrer se o tucano paranaense não fosse ligeiro e impedisse a criação de um clima de derrota para ele. Ah, caia no visgo que, dizem alguns, tinha uma coloração avermelhada como a terra do norte daquele estado.
Mas, como já disse, não é só no Paraná que fazem essa construção de resultados, para o qual nossa imprensa até dá uma facilitada.
Hoje em dia nossos jornalistas se pautam de tal forma em pesquisas, que até os donos de certos institutos são tratados como experts no que vai brotar das urnas. Em que país sério um jornal, site ou revista poderia publicar com ares de imparcialidade sequer uma entrevista de dono de instituto de pesquisas anunciando o futuro vencedor de uma eleição? Pois no Brasil publica-se até artigos dessa forma.
Tudo isso é feito sem nenhum senso crítico, mesmo com todo mundo sabendo que praticamente todos essses institutos trabalham também para partidos políticos com o interesse direto em pesquisas divulgadas durante toda a eleição, um trabalho que algumas vezes começa até meses antes do início oficial da disputa.
Não foi só quanto ao segundo turno da eleição presidencial que todos os institutos erraram. Em vários estados muitas pesquisas se mostraram bem furadas, muitas de forma bastante suspeita. O exemplo da eleição em São Paulo do tucano Aloysio Nunes Ferreira para o Senado.
Ele esteve sempre entre os últimos nas pesquisas, coisa que é de desanimar qualquer um. É o mesmo visgo do Paraná. Pois Aloysio Nunes acabou como o senador mais votado da nossa história política.
O eleitor decidiu pelo segundo turno numa eleição que todos os institutos garantiam que seria resolvido no primeiro com a vitória acachapante de Dilma já no primeiro. Já tem explicações de todo tipo para isso: onda verde, voto evangélico e tantas outras justificativas. Não me espantaria se alguém viesse com a história de isso é rejeição ao guarda-roupa vermelho da candidata petista, um motivo até justo.
Até agora só não disseram que o segundo turno foi decidido pra afrontar as maracutaias que os institutos vem armando, o que também seria muito justo. Mas o justo mesmo seria que neste segundo turno não tivesse institutos de pesquisa. Afinal, desta vez eles perderam a eleição.
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POR José Pires
2 comentários:
No Paraná ainda tem outro exemplo, o de Gustavo Fruet. Nas pesquisas estava bem atrás de Requião e da candidata petista. Nas urnas faltou 70.000 votos para se eleger na segunda vaga. Outro erro gigante.
Algumas outras situações também chamaram bastante a atenção após o término da apuração dos votos.
No Acre, na terra dos bosques de Marina Silva, Serra foi o grande vitorioso com 52,12%, Dilma com 23,92% e a candidata da terra com 23,45%,isto é, ficou em terceiro lugar. Isso não costuma ser normal. Creio que se deve ao fato de que o povo acreano a conhece melhor do que o restante do Brasil.
Ali no vizinho estado de Rondônia, também onde pululam serigueiros, a coisa foi até pior. Serra faturou novamente com 45,39%, Dilma com 40,74%, e a doce Marina com somente 12,70%. Roraima, onde as florestas estão intactas, dizem, a coisa não andou bem também e é só conferir os números: Serra fez 51,03% dos votos, Dilma 28,72%, a morena 18,77%. Seus votos pelo Brasil afora, os 20% que teve, podem ter sido mais de protesto do que de convicção, pois na região norte não fez o dever de casa. Não a quiseram nem para protestar. Provavelmente não tenha o peso eleitoral que lhe estão atribuindo para decidir o segundo turno.
Aliás, nisso de não mandar nem na sua própria casa a verde não está sozinha. Coisa parecida ocorreu onde Lula começou sua carreira, no ABC. Lula, lá, também não lulou.
Há muitos lugares onde o PT é bem conhecido e o fenômeno se repete.
Zeca do PT governou por dois mandatos no Mato Grosso do Sul, e Serra foi o vencedor do pleito lá pelos lados do pantanal.
Em Londrina, no Paraná, terra onde o PT governou por oito anos, o ex-prefeito Nedson fez votação pífia para deputado estadual e a tucanada deitou e rolou, com olé e tudo, nas votações para governador e senador.
Petistas e ex-petistas precisam ser conhecidos melhor. Basta isso para serem derrotados, sem necessidade de grandes firulas ou estratégias mirabolantes. É só fazer o arroz e feijão que a coisa acontece. Afinal um partido que não consegue derrotar um Geraldo Alckmim, não é tão competente quanto parece.
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