quarta-feira, 30 de março de 2011

Importa mais o disse me disse do que aquilo que realmente foi dito

Já ouvi o deputado falando espantosas barbaridades e também li muitas entrevistas suas onde ele exerce um papel tão agressivo que parece até paródia de político de direita. Nunca vi o deputado expressar qualquer coisa que não fosse de um ponto de vista onde parece que não se avista nenhuma solução prática com algum equilíbrio.

Ele é violento. A violência é verbal, que seja, mas de uma agressividade que parece por em risco até a integridade física das pessoas. Porém, nunca soube de qualquer manifestação de racismo da sua parte. E também não vejo isso nesse diálogo entre ele e Preta Gil, quando os dois foram grosseiros um com o outro. O vídeo prova que a discussão começa com uma pergunta provocativa da cantora, quando ela envolve a família do deputado numa amalucada hipótese de casamento interracial.

Estão querendo fazer uma campanha em torno de algo que não dá sustentação a resultado algum de qualidade. Muito ao contrário, dessa forma o que pode ser fortalecido é o racismo.

Mas alguém está interessado no fato em si? Falei acima que o vídeo com a entrevista com Bolsonaro prova que ele não deu nenhuma declaração racista. Apenas deu uma resposta ofensiva à Preta Gil, mas não sem que antes ela tenha feito algo parecido na sua pergunta.

Mas mesmo assim, sites e blogs afirmam que o deputado foi racista, alguns até postando abaixo o vídeo onde está a prova de que não há nada disso. E a Preta Gil faz a festa, é claro. Pelo índice Andy Warhol ela já está na vantagem: seus 15 minutos de fama se alongam.

Parece estar instituída no Brasil esta cultura de ataques em que não não se busca o sentido de provocar uma discussão esclarecedora sobre assunto algum. Podemos chamar isso de cultura de palanque. O que importa é o show. Ganha-se até eleição com isso, mas nunca se vê resultado prático de alguma qualidade. Basta ver o nível dos que são eleitos dessa forma ou daqueles que alcançam notoriedade com esse tipo de atitude.

Acusação de racismo deu em demissão de cartunista
Recentemente, numa situação completamente diferente e com uma pessoa que nada, mas absolutamente nada tem a ver com tipos como o deputado Bolsonaro, ocorreu uma campanha sórdida que acabou prejudicando o cartunista Solda. Ele foi acusado por Paulo Henrique Amorim de ter desenhado uma charge racista contra o presidente Barack Obama.

A charge traz um macaco dando uma banana para o governo americano. Isso é bem claro na legenda do desenho. Veja ao lado. Mas, talvez por algum problema particular, Amorim olhou o macaco e viu o Obama. Ora, tenha a paciência. Por que o Obama estaria dando uma banana para os Estados Unidos?

Mas Amorim mandou ver e publicou em destaque a acusação. Em razão disso, Solda acabou sendo demitido do site onde publicava e está até agora sendo obrigado a administrar o clima criado com esta acusação sempre absurda, mas ainda pior pelo fato da sua história pessoal e seu trabalho na imprensa ser há mais de três décadas de um teor altamente humanista.

A administração de um conflito artificial criado de maneira irresponsável, como foi feito por Amorim, pode complicar a vida de qualquer um. De imediato cria-se uma rede caluniosa. Começa na área de comentários dos blogs e segue pela internet afora, espalhando-se em blogs dominados por um clima conspiratório que faz de qualquer debate um assunto de sarjeta.

Num caso que atinge uma pessoa admirável como o Solda, é de uma safadeza absurdamente injusta. Seria com qualquer um, é claro. Mas sempre é pior com quem lutou para construir uma história valorosa. Já imaginaram um artista depois de uma longa jornada (não se ofenda, velho Solda), com uma carreira brilhante e sempre na luta pelos direitos civis, alguém tendo que explicar que não é racista? Ora, como diz a moçada, ninguém merece.
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POR José Pires

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